Sociedade

Bomba, bomba, bomba: uma década
depois, vem aí o Instituto Celso Daniel

DANIEL LIMA - 01/09/2011

Juro por todos os juros, por tudo que é sagrado, pela alma de meu pai: propus ontem em rápido telefonema a criação do Instituto Celso Daniel. Meu interlocutor foi o candidato petista à Prefeitura de Santo André, deputado Carlos Grana. O que recebi de resposta foi uma tremenda surpresa: as primeiras providências à formação da entidade veem sendo tomadas como segredo de Estado. O Instituto Celso Daniel vai ser lançado oficialmente no ano que vem, em janeiro, quando se completarão 10 anos do assassinato daquele que foi o maior prefeito regional da Província do Grande ABC.


Tive de explicar a Carlos Grana, a jurar pelo meu pai inesquecível, que não contava com informação de qualquer fonte petista para lhe telefonar e sugerir o Instituto Celso Daniel. Tratou-se de inspiração gestada pelo inconformismo.


O motivo do telefonema era de cobrança. Disse a Grana que era inconcebível o PT demorar tanto para marcar os valores de gerenciamento público que tornaram Celso Daniel referência de regionalidade e de políticas inovadoras.


A reação de Carlos Grana foi de certa exasperação. Ele entendeu que este jornalista contava com a informação repassada por algum petista e que se autoproclamaria idealizador da proposta, com direito a bater para valer no Partido dos Trabalhadores por tamanha desconsideração.


É claro que Carlos Grana recuou educadamente em seguida, ao me ouvir sobre a origem da proposta.


O que ocorreu, acreditem todos, foi mesmo coincidência. E revelo até o nascedouro da sugestão que transmiti a Carlos Grana sem saber que o PT está colocando a mão na massa: o noticiário do lançamento da regional do Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, sob os cuidados do vereador e candidato à Prefeitura de Santo André, Paulinho Serra.


Pensei comigo quando ainda outro dia li manchetes e textos sobre a chegada do Instituto Teotônio Vilela a Santo André: por que não o Instituto Celso Daniel, tão próximo, tão íntimo, tão nosso, e tão embrenhado na política administrativa nacional, embora esquartejado, retalhado e, por isso mesmo, com perda de identidade?


Estou pouco me lixando se um ou outro político vai atribuir a este jornalista alguma vinculação partidária por conta do Instituto Celso Daniel. Eles que se danem com suas ilações, esporte preferido dos fundamentalistas partidários.


Quem conhece o trabalho deste profissional sabe que não há na mídia brasileira quem tenha se dedicado mais às obras e também ao enquadramento da morte de Celso Daniel longe de interesses políticos. Basta digitar no mecanismo de buscas desta revista o nome daquele que revolucionou o conceito de cidadania regional para identificar apenas uma parte do imenso trabalho que realizamos.


Talvez seja por conta disso tudo que o destino botou em meu caminho, no mesmo trajeto dos planos dos petistas, a inspiração de criar o Instituto Celso Daniel.


A empreitada está tão delineada pelos petistas da Província do Grande ABC (não ousaria este jornalista identificar a região como Província se o legado regional de Celso Daniel tivesse sido valorizado) que já se encaminharam iniciativas para resgatar tudo o que é possível com as digitais do homenageado. Todo o patrimônio intelectual de Celso Daniel está sob o domínio legal de sua única herdeira, Liora Daniel, cujo processo de paternidade há muito foi consumado.


Nesse ponto, um parêntese: fui o primeiro jornalista a publicar, com base em informações sempre seguras, que Celso Daniel deixara Liora Daniel como única herdeira. Mais que isso: a jovem não obteve dos parentes próximos, irmãos de Celso Daniel, o esperado reconhecimento familiar. Nada surpreendente, porque Celso Daniel era um irmão esquecido até que foi encontrado morto numa estrada vicinal na Grande São Paulo. E um irmão transformado em bandeira de moralidade pública quando houve interesse de retirar o sequestro seguido de morte da bitola da casualidade.


Sei lá o que o Partido dos Trabalhadores está preparando para dar formato legal e, principalmente, representativo ao Instituto Celso Daniel. Não cheguei a trocar ideias sobre isso com Carlos Grana no telefonema de ontem à tarde.


O que sei é que a grandeza do então prefeito que seria um dos homens de ouro do primeiro mandato de Lula da Silva não poderá ficar circunscrita às cores do partido. Talvez esteja este jornalista chovendo no molhado, porque, à parte os valores de políticas públicas consagrados por Celso Daniel, o dirigente morreu fisicamente num incidente que o levou à canonização muito acima de agremiações partidárias.


Um encontro de Carlos Grana com a ministra Miriam Belchior, ex-mulher e ex-secretária de Celso Daniel, marcará neste final de semana a costura de vários encaixes teóricos que contribuirão para a efetivação do Instituto Celso Daniel.


Sugiro que em 20 de janeiro de 2012, quando se completarão 10 anos da morte de Celso Daniel, a sociedade da Província do Grande ABC tenha um novo marco histórico: a data em que, finalmente, inicia-se um processo de reconhecimento social e político do quanto o maior prefeito regional representou para estas terras. Quem sabe, com isso, a Província do Grande ABC retome a caminhada de modernidade que contribua para voltar a ser simplesmente, ou grandemente, Grande ABC?


Ainda há muito a escrever sobre o Instituto Celso Daniel. Quando me debruçar na imensa mesa residencial que se tornou meu segundo escritório (os donos do imóvel dizem que é o primeiro e estão pensando seriamente em despejo) vou organizar alguns tópicos que, acredito, valerão a pena ganhar corpo em forma de textos.


Enquanto isso, a recuperação dos trabalhos que realizei sobre os desdobramentos da morte de Celso Daniel continuará nestas páginas digitais. É impossível compreender a dimensão do então prefeito sem lançar redes para capturar todos os interesses que permearam o vetor criminal. Uma pena, entretanto, que a herança administrativo-doutrinário de Celso Daniel tenha ficado em segundo plano. Algo que o Instituto Celso Daniel poderá, finalmente, reverter.


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