Reproduzo abaixo, integralmente, um dos e-mails que recebi sobre o desmatamento da área de 17 mil metros quadrados na esquina da Avenida Kennedy com a Avenida Vergueiro, defronte ao Carrefour, local que, segundo anúncios, vai servir a novo empreendimento comercial da MBigucci, empresa de Milton Bigucci, presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC.
Mantenho sob sigilo o nome e o endereço eletrônico da leitora porque não há autorização à publicação. Como sou infatigável defensor do sigilo da fonte (levo esse compromisso às últimas consequências, mesmo diante da possibilidade de proteger um amigo que ontem que se tornou adversário hoje), não cometerei deslize ético para provar a terceiros que de fato a leitora em questão existe.
Existe em carne, osso e em indignação. E somente ela, se assim entender, poderá liberar este jornalista do sigilo evocado.
A intervenção da leitora é providencial porque me estimula a retomar um dos muitos pontos sobre os quais me detenho para caracterizar o presidente vitalício da Acigabc (Milton Bigucci está no comando dessa entidade lobbista antes de o Muro de Berlim vir abaixo ou pouco depois da morte de Raul Seixas, ou quando o São Paulo só contava com um título nacional e nenhum da Taça Libertadores) como uma das lideranças mais anestesiantes à institucionalidade da Província do Grande ABC.
Por que uma das lideranças mais anestesiantes da Província? Porque é badalado por quase toda a mídia por conta da generosidade de inserções publicitárias e com isso transmite aos representantes de outras entidades municipais e regionais um malfadado recado de isonomia: vale a pena ser improdutivo, porque há sempre a possibilidade de contrapartida de destaque ao sabor de investimentos publicitários.
A leitora que não resistiu ao desmatamento daquela área nobre pergunta ao final de suas bens-traçadas linhas se existe algum acompanhamento do referido processo (de compensação ambiental) e se há algo para a comunidade fazer.
Minha resposta é simples: que a direção da MBigucci, cumulativamente comandante da Associação dos Construtores, venha a público e preste contas de forma tão entusiástica quanto ocupa espaços em jornais para se derramar em otimismo bem pensado para valorizar o mercado imobiliário.
É claro que a proposta não exclui o Ministério Público de posicionamento e investigação. Até porque, estamos enviando uma cópia deste texto aos promotores de meio ambiente de São Bernardo.
Tudo isso, entretanto, não apagará jamais uma mancha que provavelmente se tornará incontornável na carreira de dirigente classista de Milton Bigucci: por dirigir uma entidade de classe e frequentar com assiduidade os gabinetes de administradores públicos da região, mantendo com os quadros políticos relação estreitíssima e inversamente proporcional ao descaso que contrapõe à sociedade na forma de manipulação de informações do mercado imobiliário, ele deveria ter afastado a MBigucci de qualquer competição pública.
A licitação para arremate da área que tanto irrita a leitora cujo texto segue abaixo é um desvio ético que se agravou com o intrigante silêncio que se deu à participação da MBigucci na contenda.
Ou estaria este jornalista exagerando na dose ao sugerir que aquela disputa por uma área pública fosse anunciada pela mesma fanfarra de rasgação de seda que se observa quando Milton Bigucci propaga estatísticas pouco palatáveis do movimento das pedras do mercado imobiliário da Província?
Por que Milton Bigucci, em atitude típica de quem deveria carregar um caminhão de lealdade como pressuposto do relacionamento corporativo-institucional, não convocou todos os filiados da Associação dos Construtores (poucos, é verdade) e também os não associados, para participarem da licitação que culminou no arremate daquela área pela empresa da qual é presidente?
A leitora cujo texto repassamos abaixo pode ficar tranquila porque, já que Milton Bigucci, dirigente de entidade e presidente da MBigucci, não consegue fazer a própria defesa da aquisição da área, trataremos de dar conta do recado. Temos certeza, porque temos boa-fé, que não há irregularidade alguma na operação. Acreditamos que Milton Bigucci tenha cometido apenas um pecado ético irretorquível.
Agora, o texto da leitora indignada:
Eu resido em SBCAmpo há mais de 30 anos, e, agora bem proximo ao local onde está divulgada a noticia.
O que me causou estranheza é que existiam eucaliptos de mais de 50 anos plantados na calçada que é publica.
E que até onde eu sei não poderiam ser cortados.
A operação ocorreu na “calada da noite” pois eu viajei no final de semana e quando voltei não estavam mais lá todas as árvores.
Cheguei a ligar para a policia ambiental de SBCAmpo, mas eles informaram que estava tudo regular.
Tirei fotos de todos os eucaliptos que foram cortados.
Agora existe uma placa informando que foi feito um acordo no Ministério Publico e que será decidido como serão feitas as compensações.
De verdade me causou espanto?
Será decicido de que forma haverá a compensação?
Infelizmente tenho pouco tempo para pesquisa, mas fui informada que árvores plantadas na calçada não poderiam ser removidas, ainda não encontrei a legislação, mas acho que temos alguma situação um pouco incomum.
Em nosso bairro, que fica nas imediações da Av. Kennedy, estamos espantandos com a quantidade de população que será colocada nos proximos meses, sendo que já temos falta de água, falta de energia eletrica sem que essa população tenha mudado.
Ademais, todas as árvores que foram cortadas faziam parte da única região de SBCAMpo que ainda mantinha a maior quantidade de área verde, matéria divulgada em período que agora não me recordo qual.
O Google Earth não foi atualizado ainda, e as árvores se encontram lá, fiz a impressão da imagem. É bem chocante a diferença.
E muito lamentável.
Gostaria de saber se existe algum acompanhamento do referido processo. e se há algo para a comunidade fazer.
abçs.
Leiam também:
Bigucci foge outra vez de bateria de perguntas de CapitalSocial
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!