Sociedade

De Nadai vende bem, MBigucci
compra bem. Quem perde, afinal?

DANIEL LIMA - 27/09/2011

Peguem dois enormes terrenos localizados em áreas nobres de dois municípios vizinhos e de valor do metro quadrado historicamente semelhante. A conclusão lógica quando esses terrenos são colocados à venda, mesmo que em momentos distintos, é de que não haja disparidade relativa aos valores monetários. Pois o terreno que a MBigucci arrematou em leilão público em área nobre em São Bernardo custou bem menos que o terreno contaminado que a Família De Nadai vendeu no Bairro Jardim, em Santo André, transformado no Residencial Ventura.


Empreendedores do setor imobiliário deveriam contratar Sérgio De Nadai e Milton Bigucci para palestras especialíssimas. O temário poderia ser algo como “Transforme-se num grande vendedor de terreno nobre”. É claro que eles não revelarão o pulo do gato.


No caso de Sérgio De Nadai, o pulo do gato tem um salto de eficiência extraordinário. O negócio tem a ver com terreno contaminado. Laudo técnico do Semasa sustenta essa afirmativa. Um Semasa, é bom que se afirme, que já atuou no papel de xerife do meio ambiente de Santo André mas que, lamentavelmente, caiu na gandaia imobiliária. Mas essa é outra história.


É por conta de tudo isso, principalmente do valor do metro quadrado, que enviei ontem ao presidente da MBigucci, Milton Bigucci, um questionário relativo ao negócio fechado com a Prefeitura de São Bernardo.


O tempo vai dizer se Milton Bigucci, também presidente da Associação dos Construtores, é um exímio negociador, tanto quanto Sérgio De Nadai, que conduziu as negociações do terreno em Santo André, ou se tem caroço nesse angu. Tudo indica que tem muito caroço nesse angu.


Não esperem os leitores, ainda, que CapitalSocial revele números monetários dos terrenos. Por enquanto, por razões estratégicas, ficaremos apenas na abordagem conceitual, por assim dizer.


É inconcebível a qualquer cristão com juízo no devido lugar que o metro quadrado do terreno de redondos 16 mil metros quadrados na esquina da Avenida Kennedy com a Senador Vergueiro custe menos, dois anos depois, que o metro quadrado do terreno de redondos 14 mil metros quadrados da Rua Padre José Anchieta, no Bairro Jardim, em Santo André. Ali se ergueram torres de apartamentos para a classe média que lembram os chamados pombais de classes populares, tal a densidade de moradores.


A Prefeitura de Santo André liberou geral o lucro dos empreendedores. Faltou transparência total na mudança das regras do jogo do uso do solo. O que era indústria poluidora não poderia virar prédios de apartamentos com tanta incidência de ocupantes. O impacto de veículos e pessoas naquela área do Bairro Jardim é um atentado à qualidade de vida.


É claro que se a MBigucci fez um excelente negócio, quem atuou como vendedora desastrada ou negligente foi a Prefeitura de São Bernardo, à época sob o comando de William Dib.


A diferença de preço por si só é brutal, sempre levando em conta que as áreas são compatíveis em termos de mercado. Há especialistas ouvidos por CapitalSocial que colocam o terreno de São Bernardo alguns passos adiante porque se insere num amplo leque de atratividades de comércio e serviços. Casos da unidade do Carrefour, do Ginásio de Esportes, do Fórum e de um corredor disputadíssimo da Avenida Kennedy.


Diria mais: o terreno em São Bernardo é muito melhor para a finalidade que nortearia a MBigucci, um condomínio misto de residências e de escritório, enquanto a área em Santo André é essencialmente residencial, no miolo de um bairro congestionadíssimo e a menos de 200 metros dos trilhos da CPTM, que, ocupados dia e noite por locomotivas barulhentas, causam muito desconforto auditivo.


Os negócios foram realizados em datas diferentes. Para ser mais preciso, dois anos separaram a venda do terreno contaminado sobre o qual se ergueu o Residencial Ventura, em Santo André, e o terreno do antigo campo de futebol da Villares e também da sede dos Escoteiros Mirins de São Bernardo. Dois anos significam muito para esticar a diferença de preço no confronto de mercado que ajudará a consolidar a teoria de que a Prefeitura de São Bernardo vendeu muito abaixo do preço o terreno arrematado pela MBigucci.


Dois anos não são apenas dois anos quando se tem inflação no período. Só nesse ponto, estende-se um pouco mais o tapete de diferenciações. Mas não é só isso.


Mostraremos também em artigo que prepararemos com vagar que o mercado imobiliário vivia situações diferentes naquele junho de 2006 quando a Família De Nadai negociou a área da antiga fábrica de produtos químicos da Atlântis com o grupo liderado pela Cyrela, e em julho de 2008, quando foi a leilão o terreno da Kennedy com a Vergueiro.


Não seria exagero afirmar que a MBigucci fez um negócio da China com a Prefeitura de São Bernardo, num leilão que, segundo fontes presentes, não teria passado de encenação, de jogo de cartas marcadas.


Repito: há fontes que garantem que o leilão que culminou no arremate do terreno em São Bernardo foi uma tremenda de uma brincadeira de faz-de-conta. Como filme de mocinho e bandido, sabia-se quem conquistaria a donzela.


Antes que Milton Bigucci lance mão de qualquer iniciativa para punir criminalmente este jornalista, como o fez anteriormente na tentativa de amedrontamento, sugiro que contenha os ímpetos. Seria muito melhor se respondesse ao questionário que lhe enviamos, que se manifeste democraticamente neste espaço de comunicação sempre aberto ao contraditório. A tentativa de nova retaliação no Judiciário poderá se converter em tiro no próprio pé. Não daríamos trela à versão de encenações no leilão da área pública se não tivéssemos a retaguarda de elementos substantivos.


A Associação dos Construtores do Grande ABC, da qual Milton Bigucci é eterno presidente, não poderá silenciar-se diante da exposição que seguiremos a apresentar neste espaço. Muito menos o Ministério Público.


Leiam também:


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