Sociedade

Ministério Público terá tudo para
anular leilão que beneficiou Bigucci

DANIEL LIMA - 30/09/2011

O leilão de área pública do qual saiu vitorioso em julho de 2008 o empresário Milton Bigucci, presidente da MBigucci e da Associação dos Construtores do Grande ABC, deverá ser profundamente investigado pelo Ministério Público. E como acredito na seriedade do Ministério Público, posso garantir que há elementos suficientes para a nulidade daquele processo. O resumo da história é que se viveu uma farsa naquele dia na Secretaria de Finanças de São Bernardo. Mas como quase toda farsa tem o que os cães também têm, ou seja, rabo, o do arremate daqueles 16 mil metros quadrados está abanando.


Por isso, a título de colaboração, embora ele não mereça, sugiro que o empresário suspenda o lançamento comercial do empreendimento imobiliário naquela área nobre entre as avenidas Kennedy e Vergueiro. Não faça como fez Sérgio De Nadai e seus parceiros do Residencial Ventura, em Santo André, quando lançaram à venda apartamentos numa área contaminada, segundo especificou o laudo do Semasa, até então xerife para valer do meio ambiente em Santo André.


A diferença entre o delito de Sérgio De Nadai e o delito cometido por Milton Bigucci é que os empreendedores no terreno contaminado em Santo André deram um jeito de acelerar as obras, de arrumarem um novo laudo de uma empresa contratada com dinheiro dos próprios investidores, não da Cetesb, venderam os apartamentos, enquanto a denúncia de irregularidades na área em São Bernardo pode ser prontamente atendida pelo Ministério Público, com rigorosa investigação. De imediato, por conta da forte suspeição de um enredo de irregularidades no arremate, a suspensão do empreendimento é a melhor saída.


Ainda vou fazer segredo sobre as irregularidades materiais. Tenho tempo e fontes suficientes para aniquilar com qualquer tentativa diversionista. O empresário foge do assunto como o diabo da cruz.


Quem esperava que ele respondesse a novo questionário de CapitalSocial desconhece até que ponto subestima a realidade dos fatos, acreditando, provavelmente, que tudo é contornável. O prazo para que respondesse a novo questionário venceu na quarta-feira. Milton Bigucci fez pouco caso mais uma vez, embora esteja preocupadíssimo com a repercussão deste CapitalSocial.


Afinal, são mais de 70 mil leitores cadastrados. Um universo e tanto que Milton Bigucci ainda outro dia tentou cercear o direito à informação. Ingressou na Justiça para retirar do ar todas as páginas deste endereço que mencionem seu nome e de sua empresa. É claro que o magistrado tomou a decisão mais sensata e justa: quer ouvir os dois lados. Até então, CapitalSocial não havia descoberto o escândalo do leilão. Que pode ser apenas um pedaço de quilométrico contorcionismo ético do empresário.


Contorcionismo ético, por exemplo, quando instrumentaliza o discurso de sustentabilidade ambiental da MBigucci, a empresa da qual é presidente.


Certo, certíssimo, é que Milton Bigucci cometeu delito ético inquestionável a partir do fato de que, como presidente da Associação dos Construtores, participou de um leilão público. Além disso, deveria ao menos estimular uma disputa concorrencialmente sadia, convocando os associados da entidade a disputarem aquele naco de terra valiosíssimo. Mais que isso: o leilão foi tratado com discrição total, dentro das formalidades legais óbvias da atividade pública, mas em litígio com o padrão de espetacularização de informações que a entidade da qual Milton Bigucci é eterno presidente patrocina a cada rodada de supostos balanços do mercado imobiliário.


Informação privilegiada só poderia redundar na amplificação de lucros imobiliários.


O terreno arrematado num leilão de pura encenação rendeu à empresa de Milton Bigucci lucro fabuloso. O metro quadrado do imóvel custou bem menos em valores monetários, dois anos depois, inflação depois, mercado imobiliário bem mais aquecido depois, que a venda do terreno contaminado da Família De Nadai aos empreendedores do Residencial Ventura, em Santo André.


Repito: a Família De Nadai, que sabe ganhar dinheiro como poucos, vendeu o metro quadrado de terreno documentalmente contaminado a preço muito superior ao valor que a Prefeitura de São Bernardo amealhou com a venda do terreno arrematado por Milton Bigucci. Um terreno até prova em contrário sem contaminação e localizado em área mais nobre do que o de Santo André, segundo especialistas no mercado.


Fossem esses os únicos pecados do negócio, a situação de Milton Bigucci já seria preocupante. Afinal, utilizar-se do cargo numa entidade de classe em benefício próprio, gozando de intimidades com setores públicos, e arrematar a área comparativamente em valores de lavar a égua, não são pouca coisa. Mas tem mais.


Por isso o Ministério Público precisa intervir no assunto. Há situações em que a atuação jornalística se vê obstada por burocratas comprometidos com o passado e que fazem de tudo para sonegar informações, quando não agindo no sentido de destruir provas materiais.


De qualquer forma, como não sou exatamente um exemplar de indolência profissional, muito menos entrego a rapadura do entusiasmo ante qualquer obstáculo, já reúno material suficiente para afirmar peremptoriamente que Milton Bigucci não tem coragem a um enfrentamento público para debater o assunto.


Inclusive na sede da Associação dos Construtores, como todas as cartas possíveis na mesa. Milton Bigucci jamais aceitará qualquer tipo de embate que tenha a transparência na condução do mercado imobiliário como temário.


Não é por outra razão que, entre mais de duas dezenas que questões que lhe formulamos nos últimos 12 meses, não respondeu a nenhuma.


E também não é por outra razão que abomina a ideia de composição de um Conselho de Ética na Associação dos Construtores, reunindo gente da sociedade que também entende, como CapitalSocial, que habitação é coisa séria, é gênero social de primeira necessidade e, portanto, não pode ficar à mercê de gente que só pensa naquilo.


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