O empresário Milton Bigucci, dono da MBigucci, anunciada a maior construtora de imóveis da Província do Grande ABC, e também presidente da lobbista Associação dos Construtores, poderia reservar boa parte de seu tempo como consultor imobiliário. O investimento no terreno público de 16 mil metros quadrados, em julho de 2008 em São Bernardo, é a prova acabada de que o empresário entende do assunto. Qualquer outro tipo de aplicação financeira é fichinha perto dos desdobramentos desse leilão de área pública.
Já descontada a inflação, a área que será transformada em misto de condomínio residencial e comercial teve o valor do metro quadrado aumentado em 142,24%. Quem creditar o salto à efervescência imobiliária sabe da missa apenas um terço. Quando se compra um terreno na bacia das almas e se conta com o embalo econômico, a potencialidade de lavar a égua é inigualável.
Foi um verdadeiro negócio da China o arremate daquela área num leilão público com todos os ingredientes de faz-de-conta. Esqueçam por enquanto os detalhes que levam CapitalSocial a afirmar que aquela licitação da qual participou Milton Bigucci tem todos os ingredientes de uma grande farsa. Vale a pena estender-se agora aos valores imobiliários.
Milton Bigucci arrematou a área por R$ 14 milhões. Um pouco acima do valor venal mais que subestimado. Os R$ 14 milhões pagos naquele julho de 2008 por área tão nobre eram muito pouco quando comparados à venda do terreno de 14 mil metros quadrados, comprovadamente contaminados, da Família De Nadai, no Bairro Jardim, em Santo André. O metro quadrado negociado pela Família De Nadai com a Construtora Mac Cyrela chegou a R$ 1.276,88, valor corrigido pelo INPC (Índice Nacional de Preço ao Consumidor) do IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) até julho de 2008, quando se deu o leilão em São Bernardo.
O terreno arrematado por Milton Bigucci, em julho de 2008, alcançou R$ 876,09 o metro quadrado. Uma diferença de 45,74% em relação ao preço do metro quadrado da área negociada pela Família De Nadai dois anos antes, acrescentando-se apenas a correção monetária pelo INPC. Se fosse levar em conta a valorização imobiliária, a diferença seria estupidamente maior. Ou seja, a área dos De Nadai valeria muito mais. Apesar de comprovadamente contaminada.
Repetindo: por quase a metade do preço do metro quadrado em relação ao metro quadrado do terreno contaminado em Santo André, da antiga indústria química Atlântis, Milton Bigucci arrematou um terreno público considerado comercialmente muito mais valioso. Na área vendida pela Família De Nadai se construiu o Residencial Ventura, um condomínio com mais de 300 apartamentos, na Rua Padre Vieira.
O Residencial Ventura é um conglomerado de torres de apartamentos que ganhou duplicidade identificatória: Barão de Mauá dos ricos, em referência ao popular Condomínio Barão de Mauá, no Parque São Vicente, em Mauá, com marcas profundas de desídias ambientais até hoje não resolvidas, e Pombal dos Ricos, referência ao esquartejamento da qualidade de vida de apartamentos em número excessivo demais em relação à área ocupada. Uma barbaridade que a Prefeitura de Santo André ajudou a patrocinar, sabe lá com que tipo de contrapartidas.
CapitalSocial ouviu três especialistas em mercado imobiliário da Província do Grande ABC para aferir o valor do metro quadrado atual do terreno arrematado por Milton Bigucci. Todos convergiram para algo em torno de R$ 2,5 mil. com potencialidade de elevação. Milton Bigucci pagou pela área em valor atualizado pelo INPC até agosto deste ano R$ 1,032,82 o metro quadrado. A valorização (R$ 2,5 mil dividido por R$ 1,032,82) alcança a 142,24%.
Traduzindo em valores monetários, sempre atualizados, Milton Bigucci arrematou a área por R$ 16,504 milhões. A mesma área tem preço de mercado avaliado em pelo menos R$ 39,950 milhões. Uma diferença de R$ 23,446 milhões em 37 meses. Ou seja: Milton Bigucci ganhou com a operação cerca de R$ 630 mil por mês, independente do lançamento comercial.
É por essas e também por outras que o empresário que dirige a MBigucci deveria ser mais requisitado a palestras sobre investimentos imobiliários.
Entretanto, é pouco provável que entusiasme os investidores, por mais que a atividade seja rentável (embora já não seja mais tão rentável nestes dias de crise internacional e de refluxo do apetite de uma classe média que parece ter ido com sede demais ao pote de consumo) porque não é toda hora que aparece no horizonte de facilidades um terreno público tão na cara do gol de privilégios. Ainda temos muito a escrever sobre o assunto.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!