Nos últimos tempos uma palavra de origem inglesa é cada vez mais repetida em discussões econômicas no Brasil. Cluster é o termo que ecoa por toda parte, em rodas de negócios, debates sobre políticas públicas e em revistas e livros especializados em gestão empresarial. Mas pouca gente conhece de fato os múltiplos e complexos significados que o termo traduzido ao pé-da-letra como aglomerar ou agregar assume quando aplicado ao contexto das empresas, das regiões e dos países.
Passo importantíssimo para a compreensão do papel dos clusters produtivos na dinâmica econômica do mundo moderno foi dado recentemente em Belo Horizonte, onde um seminário internacional sobre o tema mobilizou centenas de representantes do Poder Público e da iniciativa privada em torno de especialistas renomados dentro e fora do Brasil.
A escolha da Capital mineira para sediar o encontro mais completo sobre clusters de que se tem notícia no País não é ocasional: Minas Gerais ocupa pole-position nacional em pesquisa, difusão e adaptação do conceito. Com trabalhos da consultoria internacional Mckinsey & Company, a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minais Gerais) identificou 47 aglomerados industriais espalhados pelo território mineiro que podem ser considerados embriões de cluster.
Os cinco aglomerados em estágio mais avançado de complementaridade e cooperação formam a ponta-de-lança do projeto Cresce Minas. Tanto que já começaram a receber apoio da Fiemg e de outras instituições estaduais para potencializar a geração de emprego e renda por meio do incremento da competitividade. São o pólo de biotecnologia de Belo Horizonte e Montes Claros; de tecnologia da informação no Sul de Minas; de proteína animal e bovinocultura no Triângulo Mineiro e na região do Alto Paranaíba; além da concentração de produtores de frutas no norte do Estado. “Estamos aplicando a metodologia de coopetição que tem acelerado o processo de desenvolvimento regional em diversas partes do mundo” — sintetiza o presidente da Fiemg, Stefan Gogdan Salej.
A envergadura da iniciativa patrocinada pela Fiemg pode ser dimensionada pela presença de dois discípulos de Michael Porter no seminário internacional. Professor da prestigiada Harvard Business School, Michael Porter é a maior autoridade mundial sobre cluster como mecanismo de desenvolvimento empresarial, regional e nacional que seduz homens de negócios, lideranças públicas e membros do setor acadêmico em todo o mundo. Para representar Michael Porter estiveram em Belo Horizonte o norte-americano Kyle Peterson, diretor de marketing da consultoria internacional On The Frontier, associada à Monitor Group de Michael Porter, além do brasileiro Fernando Musa, sócio-diretor da Monitor do Brasil.
Kyle Peterson e Fernando Musa observam que clusters representam, antes de tudo, um paradoxo: num mundo globalizado em que se acreditava que distâncias perderiam importância em razão do avanço dos meios de transportes e das telecomunicações, a localização insurge-se — mais do que nunca — como variável importantíssima de competitividade empresarial. Mas a razão que faz a localização fundamental para o sucesso dos negócios é completamente diferente da que a tornava atraente antes da consolidação da economia de mercado internacional.
“No passado era importante se instalar em locais onde se pudesse usufruir de custos reduzidos de mão-de-obra e abundância de recursos naturais, entre outras vantagens comparativas. Atualmente, pelo contrário, as organizações visionárias procuram se instalar em regiões onde haja ambiente de complementaridade que favoreça o aperfeiçoamento contínuo. Estão em busca de vantagens competitivas duradouras inerentes à coesão da cadeia produtiva, e não de vantagens comparativas temporais que seduzem à primeira vista mas não garantem a sustentabilidade do negócio no longo prazo” — explica Fernando Musa.
Para exemplificar, o consultor do Monitor Group cita que a Itália tem cluster de calçados extremamente sofisticado sem dispor de produção de couro. “Eles importam praticamente toda a matéria-prima, da mesma forma que o Japão é uma potência em produtos eletrônicos e automotivos importando todo o minério de ferro, carvão, petróleo e silício. Com know-how e capital humano, é possível criar base forte de riqueza a despeito da ausência de recursos naturais” — explica o consultor.
Para compreender as vantagens competitivas que atraem empresas para uma região em comum é necessário, primeiramente, recorrer à definição do que é cluster. De acordo com Michael Porter, clusters são concentrações geográficas de empresas e instituições de determinado segmento de mercado. Clusters geralmente incluem fornecedores de componentes, equipamentos e serviços, além de instituições governamentais ou privadas como universidades, agências provedoras de treinamento especializado, educação, informação, pesquisa e suporte técnico. Ainda de acordo com Michael Porter, os clusters mais conhecidos do mundo são o de entretenimento de Hollywood e o de microeletrônica do Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, mas concentrações empresariais forjam mapas produtivos pelo mundo desenvolvido afora.
Os clusters mais conhecidos dos Estados Unidos são de defesa aeroespacial, entretenimento e biotecnologia em Los Angeles; aeronaves leves em Wichita; desenvolvimento de imóveis em Dallas e Houston; produtos químicos no Texas e na Louisiana; alimentação em Baton Rouge e New Orleans; gerenciamento hospitalar em Nashville e Louisville; tecnologia de saúde e computadores no Sul da Flórida; tapetes em Dalton e Georgia; mobília doméstica, fibras sintéticas e meias na Carolina do Norte; produtos farmacêuticos em Pennsylvania e New Jersey; serviços financeiros, de propaganda e editoriais em Nova York; joalheria em Providence; seguros em Hatford; indústria automotiva em Detroit; móveis para escritório em West Michigan; equipamentos agrícolas em Wisconsin e Illinois; além de biotecnologia, minicomputadores, fundos mútuos, planos de saúde, capital de risco, software e telecomunicações na região de Boston. “Os Estados Unidos não são um país desenvolvido. São, antes disso, um país de clusters desenvolvidos” — destaca Fernando Musa.
O norte-americano Kyle Peterson, da On The Frontier, afirma que a interação entre empresas e entidades estabelecidas numa mesma região afeta a competitividade de três formas: o cluster catapulta a competitividade das empresas sediadas na mesma área, acelera o passo da busca por valor agregado e inovação, que faz toda diferença num mundo onde as commodities estão cada vez mais marginalizadas e, em terceiro plano, estimula a criação de novos negócios sintonizados desde o nascedouro com as necessidades do cluster. Enfim, uma verdadeira roda da fortuna que traz benefícios socioeconômicos de forma sustentada.
Kyle Peterson explica que as empresas que fazem parte de um cluster têm a competitividade ao alcance da mão porque usufruem de acesso mais facilitado a informações, tecnologias, trabalhadores e todos os demais insumos de que necessitam para operar com qualidade e eficiência. Pelo simples motivo de que proximidade física, quando bem aproveitada, estimula o compartilhamento de experiências, fundamental para a evolução dos negócios e o aperfeiçoamento de qualquer área do conhecimento humano. A troca permanente de experiências entre fabricantes de produtos que se complementam serve como combustível para melhoria constante das empresas como um todo, num círculo virtuoso inacessível a organizações deslocadas da própria cadeia produtiva.
“Necessidades específicas de cada membro da cadeia produtiva são mais facilmente demonstradas e assimiladas num cenário de proximidade física, desde que permeado de mentalidade pró-ativa. Consequentemente, o tempo de resposta é mais curto e a adequação ao mercado é mais rápida” — afirma Kyle Peterson.
Por mais que as telecomunicações tenham avançado e facilitado o acesso e o intercâmbio de informações, nada substitui nem substituirá o contato pessoal entre empreendedores que vivem na mesma comunidade como elemento amplificador de confiança mútua — matéria-prima básica do sucesso dos clusters. “Relações pessoais e laços comunitários sedimentam a confiança e facilitam o fluxo de informações” — afirma Fernando Musa.
A vantagem prática de pertencer a um cluster se faz notar, por exemplo, diante da necessidade de contratação de trabalhadores especializados. Se a empresa estiver descolada da cadeia produtiva e de organizações congêneres, terá de gastar muitos recursos em publicidade, recrutamento e seleção para atrair candidatos. Mas se estiver contextualizada em um cluster, sua rede natural de conhecimentos e relacionamentos servirá de canal para acessar o profissional ideal, que provavelmente vive na mesma região. Parece pouco, mas basta multiplicar essa facilidade por milhares de necessidades em relação aos mais diversos suprimentos que compõem a rotina de qualquer empresa para compreender a relevância do conceito esmiuçado pelos discípulos de Michael Porter.
“Clusters atraem profissionais talentosos pelo fato de representarem oportunidade e menos riscos de recolocação profissional” — explica Kyle Peterson. “Abastecer-se de fornecedores locais em vez de recorrer a fornecedores distantes reduz custos com transporte e estoques” — observa Fernando Musa.
Outra vantagem fácil de identificar está na área de marketing. Clusters normalmente elevam a reputação de uma região em segmento específico. A fama italiana em desenho e moda, por exemplo, beneficia empresas especializadas em artigos de couro, calçados e acessórios que, por sua vez, são responsáveis pelo bom conceito do país nessas áreas. Da mesma forma, a reputação das malhas de Brusque, em Santa Catarina, ou dos calçados de Franca, no Interior Paulista, favorece a imagem das empresas desses segmentos. “Além disso, os integrantes de um cluster normalmente se beneficiam de vários mecanismos conjuntos de vendas, como feiras setoriais, por exemplo” — destaca Peterson.
Fernando Musa lembra que cluster representa um meio alternativo de organização da cadeia de valor que não esbarra nem na verticalização onerosa e pouco eficiente das empresas que produzem internamente tudo ou quase tudo do que necessitam nem, tampouco, na falta de comprometimento que muitas vezes esgarça as relações com terceirizadas distantes de seu ambiente produtivo. Uma espécie de Terceira Via da organização fabril que, a exemplo da congênere sócio-política inglesa, absorve equilibradamente o que os dois modelos anteriores têm de melhor.
O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento de Minas Gerais, além de professor emérito da Universidade Federal do Estado, Paulo Roberto Haddad, entusiasta dos clusters, também esteve no seminário internacional de Belo Horizonte. Haddad observa que milhares de empresas brasileiras que compartilham das mesmas localidades poderiam resolver uma série de problemas comuns se fizessem com que a localização deixasse de ser mero acidente geográfico para adotar conceitos de cluster.
“O Brasil tem de 300 a 350 arranjos produtivos regionais formados por pequenas e médias empresas de bens de consumo não duráveis que simplesmente não se comunicam ou se comunicam muito pouco” — relata o especialista, sócio-proprietário da Phorum Consultoria e Pesquisa. “O resultado da falta de sinergia é a inoperância para resolver problemas que não dependem de atitudes isoladas e tampouco de políticas públicas ou intervenções governamentais. A falha básica das empresas brasileiras está na falta de trabalho coordenado para ganhar competitividade global” — observa.
Entre os problemas que não se encontram nos interiores dos portões da fábrica nem nas repartições públicas, e que só podem ser resolvidos pela cooperação que é a essência dos clusters, Paulo Haddad destaca a necessidade de organização de consórcios para exportação, qualificação conjunta da mão-de-obra, integração para troca de informações sobre o mercado e criação de marcas regionais.
A constatação de que se está desperdiçando competitividade pelo ralo do isolamento impõe pergunta obrigatória: por que empresas próximas tanto física como setorialmente não se relacionam como deveriam, deixando escapar por entre os dedos oportunidades douradas de ganhos de escala e sinergia? A resposta de Paulo Roberto Haddad é desconcertante para quem está acostumado a olhar o Brasil pelas lentes multicoloridas do politicamente correto. O professor explica que concentrações randômicas só não se convertem em clusters de fato por falta de endogenia, isto é, esforço endógeno, nascido das entranhas da sociedade civil organizada para transformar a situação.
“É preciso ter capacidade de mobilização e solidarização política e social para buscar respostas aos desafios impostos pela competitividade internacional. E a pré-condição para superar um quadro de arranjo produtivo local de baixa competitividade global é encontrar uma situação de inconformismo nos atores sociais, políticos e econômicos. É fundamental que a comunidade local esteja insatisfeita, ou pelo avolumamento de problemas socioeconômicos ou porque recursos latentes para gerar emprego e renda são subutilizados” — ensina o especialista.
Paulo Haddad explica que as principais condições de desenvolvimento de um cluster estão no que chama de capitais intangíveis. “Uma cidade ou região pode ter recursos importantes como infra-estrutura física e sistema universitário, mas se esses recursos estiverem compartimentados, não constituem bases para implementação de cluster produtivo” — diz. Haddad divide os capitais intangíveis em quatro tipos, todos derivados do mais abrangente Capital Social:
Capital Institucional: definido pelo nível de esclarecimento e das relações entre organizações públicas e privadas de determinada região;
Capital Humano: relativo ao estoque de conhecimentos e habilidades dos indivíduos que residem na região, além da capacidade que têm de exercitar esse know-how;
Capital Cívico: medido pela tradução de práticas de políticas democráticas, de confiança nas instituições, de preocupação pessoal com assuntos públicos, de associatividade entre as esferas públicas e privadas;
Capital Sinergético: consiste na capacidade real ou latente de toda a comunidade para articular democraticamente as diversas formas disponíveis de capital intangível.
Numa espécie de alerta à cegueira provocada por arrogância econômica, política ou institucional, o especialista lembra que as sociedades que foram prósperas no passado mas entraram em processo de decadência encontram mais dificuldade para se organizar em clusters e completar o processo de desenvolvimento endógeno. E exemplifica: “A região sul do Rio Grande do Sul era extremamente próspera no começo do século XX. Entretanto, nos últimos 50 anos vem perdendo população relativa, PIB relativo, posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e produção industrial relativa. Como o processo é lento e convive com suposta riqueza na forma de infra-estrutura e uma elite poderosa, o processo de reconhecimento e reversão dos problemas torna-se mais complexo” — explica.
A importância dos fatores culturais no desenvolvimento econômico é destacada com comparações internacionais contundentes. “Quando se considera o exemplo da Alemanha abatida pela guerra, percebe-se que infra-estrutura física, máquinas e equipamentos foram destruídos, mas não os capitais intangíveis que proporcionaram a reconstrução do País com ajuda material dos Estados Unidos por meio do Plano Marshall. Celso Furtado dizia: ponha mais dólares no Nordeste que necessariamente não vai haver desenvolvimento. Ou em qualquer outra região do País onde os capitais intangíveis sejam insuficientes” — afirma, citando um dos mais conceituados economistas brasileiros.
Paulo Haddad observa que toda virada de jogo regional baseada nos capitais intangíveis obedece a cronograma bem definido: o primeiro passo é o reconhecimento da necessidade de melhorar o quadro econômico e de competitividade empresarial com base nos clusters. Em seguida vem a fase de diagnóstico, que geralmente se dá por meio de fóruns de debates nos quais prevalecem informações técnicas baseadas em fontes independentes, como empresas de consultoria. Depois deve-se construir agenda de mudanças com alto grau de mobilização social e amplo respaldo de lideranças locais. E, finalmente, um plano de mudanças, com consistência técnica e comprometimento para ser implementado.
O especialista lembra que o mais amplo, vigoroso e sistemático processo de desenvolvimento endógeno ocorrido no Brasil em anos recentes foi levado a cabo em Minas Gerais no período de 1968 a 1975. “Havia uma profunda sensação de inconformismo das elites políticas, econômicas e empresariais. Na década de 60, 17% da população saiu de Minas Gerais rumo a outros Estados por falta de oportunidades de trabalho e sobrevivência, um processo de migração interna fabuloso sob qualquer ângulo de observação internacional” — lembra.
Com base na urgência da situação, foi produzido diagnóstico da economia do Estado em cinco volumes, nos quais se identificavam problemas e potencialidades latentes. Depois veio a agenda de mudanças. “Para a deficiência da promoção industrial foi criado o Indi (Instituto Nacional de Desenvolvimento Industrial). Para a deficiência na formação de executivos foi criada a Fundação João Pinheiro. O problema da falta de áreas industriais foi resolvido com disponibilidade de novos espaços” — conta Haddad. “Diria que, pela primeira vez na história de Minas Gerais, o poder político foi utilizado para negociar coisas relevantes para o desenvolvimento econômico estadual” — dispara.
Além de proporcionar embasamento teórico e científico em meio ao turbilhão de mal-entendidos que normalmente confundem incautos quando o assunto é cluster, o seminário internacional de Belo Horizonte apresentou a experiência de alguns aglomerados empresariais mineiros em fase mais adiantada de clusterização. O pró-reitor de extensão da Efei (Escola Federal de Engenharia de Itajubá), Renato Nunes, expôs o pólo de eletroeletrônica no sul de Minas, que concentra cerca de 100 micros, pequenas e médias empresas nos municípios de Santa Rita do Sapucaí, Itajubá, Pouso Alegre, Poços de Caldas e Caldas, além de Lorena, no Interior de São Paulo.
Renato Nunes explica que históricas condições educacionais privilegiadas proporcionaram o surgimento espontâneo de empreendimentos eletroeletrônicos na região localizada a 400 quilômetros ao sul de Belo Horizonte. Santa Rita do Sapucaí dispõe de ETE (Escola Técnica Eletrônica) desde 1959 e do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), considerado um centro de excelência, além de beneficiar-se da vizinhança da Escola Federal de Engenharia de Itajubá. “Guardadas as devidas proporções, assim como a universidade de Stanford foi o pivô da formação do Vale do Silício, os centros de estudos de Santa Rita do Sapucaí e Itajubá serviram de plataforma para as empresas de eletroeletrônica” — compara Renato Nunes.
A concentração natural de empresas eletroeletrônicas em torno dos centros de estudos foi acentuada e ganhou mais coesão nos últimos dois anos com o Projeto Cresce Minas, liderado pela Federação das Indústrias. No curto período entre 1999 e 2001, nada menos que 25 novas empresas instalaram-se em Santa Rita do Sapucaí graças a trabalho integrado entre Prefeitura e Sindicato das Indústrias de Aparelhos Eletroeletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica. Entre as empresas atraídas está a taiwanesa Phihong, fornecedora mundial da Motorola.
A melhoria da competitividade também foi perseguida com série de ações de treinamento e prospecção de negócios conduzida por lideranças empresariais, institucionais e públicas do Projeto Rota Tecnológica 459, como o plano é chamado em alusão à rodovia federal que interliga os municípios.
Até 1999 apenas duas empresas possuíam licenciamento ambiental. Ao final de 2001 serão 22; sete empresas estão em processo de certificação ISO, mais que o dobro das três certificadas até 1999; de 1999 e 2001 as empresas participaram de 11 seminários sobre temas como meio ambiente, evolução de tecnologias e serviços na área de telecomunicações, capital de risco e formação de consórcios exportadores. Entre muitas outras ações incluem-se participação em 13 feiras nacionais e internacionais, captação de financiamentos públicos e esforço de marketing com veiculação de anúncios em tevês, rádios, jornais e revistas. “Também queremos eleger deputados que formariam a bancada da Rota 459″ — inclui Renato Nunes.
A presidente da Fundação Biominas, Patrícia Mascarenhas, expôs a experiência do maior pólo de biotecnologia da América Latina, localizado na região de Belo Horizonte e Montes Claros. O pólo é formado por 58 empresas que empregam 4.273 funcionários e que faturaram R$ 416,7 milhões no ano passado.
A Fundação Biominas é exemplo do cooperativismo que forma a espinha dorsal do conceito explorado por Michael Porter. A instituição criada em 1990 por grupo de empresas de biotecnologia promove constante intercâmbio de conhecimentos e experiência por intermédio de infra-estrutura técnica que envolve equipamentos de última geração como central de esterilização, câmaras frias e áreas de estocagem. “A Fundação proporciona ambiente estimulante para troca de informações e auxílio mútuo na área técnico-científica” — descreve.
A Fundação Biominas também atua como incubadora e oferece apoio na elaboração de planos de negócios e estudos de viabilidade técnica e econômica, além de dar suporte logístico e laboratorial. Atualmente 12 empresas estão incubadas na Biominas, da qual já se emanciparam a JHS, fundada por duas professoras aposentadas da Universidade Federal de Minas Gerais que desenvolveram osso sintético utilizado em cirurgias de reconstituição; Ferrara Ophthalmics, responsável por dispositivo que corrige doenças como astigmatismo e presbiopia; além da Katal, especializada em produção de kits de diagnóstico em forma líquida, além de kit para câncer de próstata. A criação da Fundação Biominas há 11 anos foi capitaneada por duas das maiores empresas do pólo mineiro de biotecnologia, a Valle, de produtos veterinários, e a Biobras, fabricante de insulina.
A exemplo da concentração de empresas eletroeletrônicas no sul do Estado, a proliferação de negócios em biotecnologia e a consolidação da Fundação Biominas também estão relacionadas à atmosfera científica. A Universidade Federal de Minas Gerais tem mais de 160 PhDs na área de ciências biológicas e produziu quase cinco mil publicações nos últimos dois anos. Além da UFMG, Universidade Federal de Viçosa e Escola Técnica de Biotecnologia, ajudam a forjar massa crítica essencial à formação de clusters centros de pesquisas como o Instituto Renê Rachou e a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais. Das 58 empresas de biotecnologia na região de Belo Horizonte e Montes Claros, 18 são do setor de diagnóstico humano e 11 da área farmacêutica.
O pólo calçadista de Nova Serrana é outra experiência de setorização regional ilustrada no seminário internacional sobre clusters. Sapatos, botas, chinelos e tênis são produtos indispensáveis ao equilíbrio econômico local. Com produção de 330 mil pares por dia, a indústria de calçados é responsável por 15 mil empregos diretos, que representam 70% do total de vagas de trabalho do Município. A concentração de cerca de 800 produtores de calçados em Nova Serrana não figura entre as que se adéquam com mais facilidade no conceito de cluster porque gera produtos simplórios, de baixo valor venal (Michael Porter afirma que produtos de alto valor agregado baseados em inovações constantes são parte do código genético dos verdadeiros clusters). Apesar disso, é possível perceber características de cluster no tocante à união de esforços em proveito de todas as empresas.
Com apoio de 35% das empresas da cidade, o sindicato patronal de Nova Serrana alugou estação de CAD/CAM para facilitar tarefas de desenho e corte dos moldes dos tênis e sapatos — a primeira da cidade — e montou laboratório para testes de qualidade de produtos acabados segundo normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
A inauguração em julho último do Showroom Permanente de Calçados é outra tacada importante. O empreendimento tem mais de três mil produtos expostos em quase 170 estandes e é voltado ao atendimento de atacadistas de outras regiões que antes precisavam se deslocar entre dezenas de fábricas em busca de variedade de modelos. Com a organização de cooperativa de compras de matérias-primas e equipamentos, alcançam-se melhores condições de negociação e contorna-se o gargalo da distância dos fornecedores instalados em outros Estados. “Não faz sentido brigarmos entre nós” — enfatiza Jarbas Pinto Martins, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Nova Serrana. “Somos muito pequenos para enfrentar mercados que estão além da nossa região” — completa.
Que a constatação do humilde produtor de calçados de Nova Serrana encontre abrigo nas lideranças públicas, privadas e institucionais de cidades e regiões que foram prósperas no passado, mas se encontram em espiral de decadência socioeconômica exatamente pela dificuldade de reconhecer que os tempos de vacas gordas se foram e novas providências são simplesmente inadiáveis.
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