Economia

Vagões na frente
da locomotiva

RAFAEL GUELTA - 05/08/2000

Um paulista que tivesse entrado em coma profundo na segunda metade dos anos 70 e só despertasse em 2000 demoraria para entender a complexa transformação econômica que ocorreu no Estado de São Paulo nos últimos 25 anos. Perplexo com a rapidez com que se disseminaram novas tecnologias, massificação da Internet, robotização na indústria, abertura do mercado e elevado grau de desnacionalização do parque industrial, nosso personagem teria motivos de sobra para, num primeiro instante, desejar entrar em sono profundo outra vez. Depois do susto, levaria ainda bom tempo imaginando-se num cenário de ficção científica até cair na real.

O choque da mudança econômica tem intensidade idêntica ao impacto da transformação cultural. No mesmo período em que guitarras, sintetizadores e romances ambientados em quartos de motéis urbanizaram a música caipira, a Região Metropolitana concentrada em 38 cidades em torno da Capital foi superada na geração de riqueza pelos demais 608 municípios do Interior.

Mudou completamente o eixo do desenvolvimento econômico. Levando-se em conta a imagem de que o Estado de São Paulo ainda é a locomotiva da economia brasileira, com PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 284 bilhões, ou 35% da riqueza movimentada no País, percebe-se que os vagões passaram à frente da máquina. Números da consultoria Deloitte, com sede na Capital e filial em Campinas, indicam o placar da participação no PIB estadual: Interior 52% vs Grande São Paulo 48%.

A força econômica do Interior de São Paulo tornou-se tão representativa no último quarto de século que supera em sete pontos percentuais o PIB do Rio de Janeiro, segundo Estado no ranking nacional, responsável por 11% de toda a movimentação econômica no País. Quase 25% da produção industrial brasileira está concentrada hoje nos 608 municípios do Interior paulista, onde vivem 18 milhões de habitantes — 11% do total da população do País.

Consultorias internacionais como a norte-americana PriceWaterhouseCoopers informam clientes estrangeiros interessados em investir no Brasil que só a região da Grande Campinas, que está se transformando no Vale do Silício brasileiro, tem PIB cada vez mais próximo ao do Chile, futuro membro do Mercosul, que soma US$ 77 bilhões.

No mês passado, ao divulgar números da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) sobre investimentos de US$ 100 bilhões anunciados em São Paulo nos últimos cinco anos, o governo do Estado confirmou que o mapa da mina está mesmo no Interior, para onde foram 69% dos recursos. Em levantamento anterior, relativo ao período 1995/98, números da mesma Fundação Seade indicavam que 71% dos US$ 70,3 bilhões investidos no Estado tiveram como rumo o Interior.

A Grande São Paulo continua rica mas deixou de monopolizar as atenções dos investimentos industriais ao captar o equivalente a 32,1% do bolo de US$ 100 bilhões, principalmente no segmento de prestação de serviços. Grande Campinas (16%), Vale do Paraíba (11,2%) e Baixada Santista (4,3%) foram as regiões que mais se beneficiaram dos novos capitais. Ao todo, foram realizados quase dois mil projetos de ampliação ou construção de novas indústrias no Estado.

O setor de telecomunicações, que ganha força na Grande Campinas, foi o que mais somou novos investimentos, com US$ 15 bilhões. A indústria automobilística, com presença destacada no Grande ABC e Vale do Paraíba, contribuiu com US$ 12,8 bilhões. Eletricidade e gás, que atingem todo o Estado, atraíram outros US$ 8,8 bilhões para os cofres paulistas.

A única região de São Paulo que não se beneficiou dos US$ 100 bilhões foi o Vale do Ribeira. Chamado de nordeste paulista e localizado entre duas das principais capitais do Mercosul — São Paulo e Curitiba (PR) –, o Vale do Ribeira é preservado como último reduto de Mata Atlântica do Estado. Só tem uma possibilidade de desenvolvimento econômico — o ecoturismo.

Novo modeloO movimento que colocou o Interior no topo da economia estadual começou na segunda metade da década de 70, atravessou os 10 anos seguintes em expansão e consolidou-se nos anos 90. O processo, chamado de desconcentração, evoluiu na medida em que se foram tornando insustentáveis novos investimentos no grande e confuso aglomerado urbano em que se transformou a Região Metropolitana de São Paulo.

A desconcentração econômica expandiu-se além dos limites paulistas. Beneficiou também Estados vizinhos como Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, unidades da Federação que mais se prepararam em tecnologia e infra-estrutura para abrigar novos pólos industriais.

Quando um caminhão carregado de autopeças fica preso no trânsito congestionado da Capital e não consegue chegar na hora marcada à portaria da montadora na vizinha São Bernardo, torna-se evidente o motivo que levou a Grande São Paulo a perder participação no PIB estadual.

A mesma riqueza que entre as décadas de 60 e 80 atraiu gente de todos os cantos do País para a Região Metropolitana acabou por promover o caos. Cidades vizinhas de São Paulo, mesmo as de grande porte como Guarulhos e Osasco, ou Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá, que constituem o Grande ABC, mais se parecem com bairros-satélites da Capital.

Com tanta gente espremida, ruas congestionadas, problemas urbanos e ambientais em profusão — caso das terríveis enchentes — e criminalidade em alta, a Região Metropolitana de São Paulo transformou-se num sério problema para a indústria moderna, que precisa ser produtiva, ágil e competitiva.

É verdade que o sindicalismo fez mau serviço ao criar todo tipo de dificuldade em negociações trabalhistas e elevar os custos de empresas instaladas na Grande São Paulo ao exigir salários altos e benefícios em cascata. Mas a debandada de empresas para o Interior, com extensão para o Sul e Sudeste do País, também ocorreu porque se esgotou o modelo econômico da Região Metropolitana de São Paulo. Valores de cidadania ignorados até pouco tempo, como qualidade de vida, ganharam peso substancial na virada do jogo.

O crescimento descontrolado da Grande São Paulo tornou a infra-estrutura lenta demais para os ágeis processos industriais de última geração. Isso aconteceu no mesmo instante em que globalização e novas tecnologias ascenderam e passaram a demandar espaços arejados e receptivos para estabelecer novas frentes.

O ambiente da velha indústria, de modelo fordista e sem concorrência que estimulasse a competitividade, criou dificuldades que desestimularam investimentos na Região Metropolitana. Plantas industriais superadas tornaram-se problema seriíssimo. Modernizá-las custa muito dinheiro.

A valorização imobiliária nas metrópoles também encareceu os custos dos terrenos. Além disso, é preciso investir pesado em reciclagem de funcionários antigos, que resistem a novidades. Nem todas as empresas instaladas no parque industrial da Grande São Paulo tiveram a disposição da Volkswagen, que aplica R$ 3,5 bilhões na modernização da planta e do quadro funcional de São Bernardo, pioneira da marca no Brasil.

Outra questão relevante é que a debandada para o Interior de São Paulo pouco teve a ver com a guerra fiscal que eclodiu no País na metade dos anos 90 e foi peça fundamental para o desenvolvimento de novos pólos industriais nos Estados do Sul e Sudeste. Isenção de impostos estaduais, concessão de terrenos, ajuda na formação de mão-de-obra e até participação societária direta no investimento — expediente utilizado pelo governo do Paraná para atrair a fábrica da francesa Renault — fizeram despontar o segundo maior pólo automobilístico do País na Grande Curitiba (PR) e indústrias moveleiras e cerâmicas com design avançado no Rio Grande do Sul, para citar dois exemplos.

São Paulo só aderiu abertamente à guerra fiscal há dois meses, ao não poupar recursos e esforços para manter no Estado a primeira fábrica da Embraer fora de São José dos Campos. Concorrendo com Minas Gerais e Santa Catarina, o Estado mais rico da Federação ofereceu terreno de 600 alqueires que irá adquirir da Cutrale em Gavião Peixoto, obras de infra-estrutura orçadas em quase R$ 28 milhões e investimento de R$ 60 milhões da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado) para financiar pesquisas voltadas à indústria aeronáutica.

Com tantas vantagens, e ainda tendo por perto o pólo tecnológico de São Carlos, a Embraer não hesitou em bater o martelo a favor da minúscula Gavião Peixoto, cidade de 4,5 mil habitantes recentemente desmembrada de Araraquara, na região central de São Paulo. A única fabricante brasileira de aviões vai investir R$ 270 milhões nos próximos cinco anos, gerar três mil empregos diretos e 1,5 mil indiretos.

Qualidade de vidaO Interior predominantemente agropecuário foi locomotiva da riqueza do Estado de São Paulo até a metade deste século. Tanto que universidades e centros de pesquisas avançadas, que hoje fazem a diferença na atração do capital produtivo, foram concebidos com dinheiro dos velhos barões da terra. Depois da Segunda Guerra mundial o trem caipira perdeu força econômica com a política de substituição das importações do ex-presidente Getúlio Vargas e levada às últimas consequências pelo também ex-presidente Juscelino Kubitschek, que consolidou a indústria automobilística no País.

Foi a política iniciada por Getúlio Vargas que concentrou a industrialização do Estado na Região Metropolitana de São Paulo, atraente pela proximidade com o Porto de Santos, então boa malha viária e ferroviária, além da emergente classe média.

O fato de a riqueza ter voltado ao Interior na forma de industrialização não significa que a roda da fortuna irá girar novamente no futuro a favor da Grande São Paulo. O ciclo dinâmico dos negócios não se manifesta necessariamente em círculos. Os principais competidores do Interior paulista na atração de investimentos são atualmente os Estados vizinhos do Sul e Sudeste.

A Grande São Paulo passa por reforma estrutural. Com milhares de desempregados sem alternativa de trabalho em indústrias automatizadas, a região permanecerá por bom tempo numa espécie de sala de espera. O quadro irá se ajustar depois que fluxos migratórios levarem embora o excedente populacional e ficarem definidas as vocações na indústria, comércio e serviços. O que será a Região Metropolitana de São Paulo a partir daí é exercício para mentes futuristas.

São justamente os fluxos migratórios que preocupam hoje as localidades mais desenvolvidas do Interior paulista. A propaganda da riqueza atrai gente de todos os cantos do País para Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Ribeirão Preto, centros econômicos de regiões prósperas.

Campinas, a cidade mais populosa do Interior, com cerca de um milhão de habitantes, enfrenta problemas sérios com seguidas invasões de terra e crescimento dos índices de desemprego. O fluxo migratório que chega à cidade sem controle traz problemas como a violência e o inchaço populacional que afastaram as indústrias da Grande São Paulo.

É para se prevenir desses problemas que empresas iniciam ações com a comunidade tão logo se instalam no Interior. Não é por acaso que prefeituras e entidades do Interior ligadas ao desenvolvimento econômico e social se interessam em estudar a Região Metropolitana da Capital, na esperança de não repetir erros que possam ser fatais.

A automação das atividades agrícolas e pecuárias acentuada nas três últimas décadas praticamente dizimou a população rural em todos os rincões do Estado e por si só cuidou de inchar as cidades. Ribeirão Preto, maior produtora mundial de cana-de-açúcar, açúcar e álcool, tem apenas 2,26% da população de quase 500 mil habitantes vivendo na chamada zona rural. Os 97,74% restantes moram em áreas centrais e cobram qualidade dos serviços urbanos prestados pela Prefeitura.

O que chama a atenção no Interior de São Paulo, sob o ponto de vista da qualidade de vida, é justamente o fato de as populações rurais terem se transferido para áreas urbanas e, mesmo assim, as cidades terem melhorado de padrão. Ribeirão Preto é mais uma vez exemplo: 100% da população conta com água tratada e 98% das residências estão inseridas na rede de esgoto. Circula na cidade um veículo para cada dois habitantes, um padrão de Primeiro Mundo. Há um telefone por 2,5 habitantes, outro número exemplar.

Pesquisa realizada recentemente pela PriceWaterhouseCoopers, com filiais em Campinas, Ribeirão Preto e Sorocaba, destaca e confirma dois fatores como os mais atrativos para investimentos no Interior de São Paulo: qualidade de vida e infra-estrutura.

Luís Alexandre Marini, sócio-proprietário da consultoria em Campinas, afirma que empreendedores, empresários e executivos de empresas consideram absolutamente marginais as ofertas de benefícios fiscais quando deparam com a qualidade de vida do Interior. “Aqui eles sabem que ficarão longe de assaltos e congestionamentos do trânsito. Mais que isso, sabem que suas empresas serão bem servidas por malha viária que garante distribuição de mercadorias e recebimento de suprimentos em operações just-in-time” — relata Marini.

É notável o padrão de qualidade para os negócios que se instalou no Interior de São Paulo. Rodovias privatizadas como o sistema Bandeirantes/Anhanguera e a NovaDutra são totalmente cobertas por cabos de fibra ótica. A malha ferroviária, com quase cinco mil quilômetros de extensão, melhorou após ter sido privatizada e recebe investimentos de US$ 250 milhões. Está em Campinas o maior aeroporto de carga e descarga do País — Viracopos.

A Hidrovia Tietê-Paraná interliga municípios do Interior a Goiás, Minas Gerais, Paraná e Ciudad del Este, no Paraguai, com transporte de mercadorias até 75% mais barato que o rodoviário. O gasoduto Brasil-Bolívia passa por 86 cidades numa extensão de 526 quilômetros e atende desde regiões agropecuárias até novos pólos de concentração industrial. A malha viária do Interior também facilita o transporte de cargas para portos alternativos ao de Santos, como Sepetiba (RJ) e Vitória (ES).

O zap do jogoEconomista com visão holística do desenvolvimento econômico de São Paulo, Antonio Vicente Golfeto tem frase curta e objetiva para definir a mudança na divisão do PIB estadual. “Tecnologia é o zap do jogo” — dispara, ao utilizar a imagem da carta mais poderosa do truco, o mais popular dos jogos de baralho.

Diretor do Instituto de Economia Maurílio Biagi, da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto, além de professor universitário, Golfeto enfatiza que economia deixou de ser ideologia — conceito sobre o qual foi constituída a força econômica da Grande São Paulo — para tornar-se tecnologia, conceito sobre o qual o Interior constrói sua força.

Faz sentido o que diz o economista. Enquanto a Capital se envolveu com questões ideológicas, o Interior avançou na tecnologia. USP (Universidade de São Paulo), sediada na Capital, e Unicamp (Universidade de Campinas), com campus em Campinas, são exemplares. A primeira projetou-se mais para o campo do pensamento político e das teorias econômicas. A Unicamp é a universidade brasileira que detém maior índice de produção em pesquisa científica.

Até mesmo o campus da USP em São Carlos é mais produtivo que o da Capital na geração de novas tecnologias. Na virada de jogo promovida pela globalização, que exige indústrias produtivas e competitivas, a prática tecnológica fala mais alto que a teoria política.

Luís Alexandre Marini, da PriceWaterhouseCoopers, classifica Campinas, São José dos Campos e São Carlos como centros em permanente ascensão porque compõem o que se pode chamar de triângulo do saber. Campinas é centro de excelência em tecnologias da informática. São José dos Campos é pólo de indústria aeronáutica, responsável por produtos que colocam a marca Brasil em céus do Primeiro Mundo. São Carlos desenvolve tecnologias em vários campos, da informática à engenharia de produção industrial e saúde.

Antonio Vicente Golfeto faz exercício de etimologia para analisar a ascensão econômica do Interior pela via do conhecimento. A análise é no mínimo curiosa. “A palavra capitalismo vem de capita, que significa cabeça. Talento foi nome de moeda, conforme está na Bíblia. Podemos concluir então que cabeça, ou talento no sentido da inteligência, faz talento, ou dinheiro no sentido de gerar riqueza. Por trás de tudo está o capital humano, que brota nas universidades e centros de pesquisas do Interior. É o capital humano que decide o jogo” — aposta o diretor do Instituto Maurílio Biagi.

Antonio Golfeto atribui o inferno astral da Região Metropolitana de São Paulo ao fato de mais ter importado do que produzido know-how. “Até bem pouco tempo a razão costumava estar do lado de quem tinha dinheiro. Agora a razão está do lado de quem tem idéias” — acredita o economista de Ribeirão Preto, que não põe suas fichas no futuro da Região Metropolitana de São Paulo.

Recorre ao exemplo do Grande ABC, ainda hoje maior pólo da indústria automobilística do País, que busca novas vocações para tentar reerguer sua economia. “Que universidade gerou ciência no Grande ABC?” — pergunta. “O ABC descuidou seriamente da educação e do desenvolvimento de tecnologias. Acomodou-se com a riqueza proporcionada pela indústria. Só que o modelo industrial do ABC envelheceu, foi superado. A região atraiu muita gente e está hoje cheia de problemas de difícil solução, como o elevado índice de criminalidade” — analisa.

Quem enxerga tecnologia apenas como prática relacionada a processo produtivo — seja em componente ou manufatura — está longe de entender o que se deu no Interior de São Paulo.

O mundo caipira dos velhos barões do café foi transformado pelo que se pode chamar de tecnologia comportamental. Desapareceu o conceito de poder concentrado disseminado pelos coronéis rurais. Emergiu a necessidade de juntar esforços para gerar sinergia. A própria geografia está mudando. Municípios e regiões têm agora dois tipos de divisas: o político e o econômico. O primeiro é fixo, demarcado, tende a ficar cada vez menor. O segundo é flexível, imaginário, com tendência de ser maior e invadir Estados vizinhos de São Paulo.

Ednardo José de Paula Santos, vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Econômico de São José dos Campos, concedeu entrevista em agosto do ano passado que é exemplar: “Não dá mais para pensar São José dos Campos apenas como São José dos Campos. O Vale do Paraíba tem de ser visto como um todo. O acerto global das grandes corporações escapa totalmente a qualquer tipo de indução ou controle por parte do Poder Público. Se houver uma única cidade com rede de esgoto ruim, fica comprometida toda a qualidade de vida da região. Isso significa que municípios de um mesmo bloco geográfico e econômico precisam acabar com a competição entre si e criar políticas compatíveis”.

Apesar de existirem oficialmente apenas as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista, o Interior paulista é um conjunto de ações sinérgicas permanentes.

Há disputas entre as regiões. Ribeirão Preto e Sorocaba movimentam-se em esferas dos governos estadual e federal em busca de recursos para abrigar aeroporto internacional de carga e descarga que seja alternativa a Viracopos.

O Vale do Paraíba busca recursos governamentais e parceiros privados para transformar o Porto de São Sebastião em alternativa ao Porto de Santos, com perspectiva de receber importações e exportações de Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Sorocaba ainda tem esperança de constituir pólo de indústria aeronáutica, apesar de esse título estar mais próximo da Alta Mogiana, que conquistou a nova fábrica da Embraer.

A sinergia extrapola limites estaduais. Ribeirão Preto uniu-se às duas principais cidades do Triângulo Mineiro, Uberlândia e Uberaba, para reivindicar um braço do gasoduto Brasil-Bolívia, cujo traçado passa a 100 quilômetros de seu território. As três cidades juntam esforços em várias outras iniciativas porque têm afinidades como centros de comércio e serviços.

Marília, sede administrativa da Alta Paulista e pólo de indústrias alimentícias, consome, além da própria produção rural, grãos plantados nos vizinhos Mato Grosso do Sul e Paraná. Apoiada em diversificada malha de transportes e vários tipos de entrepostos comerciais, Presidente Prudente também mantém relações estreitas com Paraná e Mato Grosso do Sul. A cidade é sede administrativa da Alta Sorocabana.

Outra cidade privilegiada e estratégica para o desenvolvimento do Interior paulista é Bauru, também sede de região administrativa de quase um milhão de habitantes, onde fica o maior entroncamento rodo-hidro-ferroviário do Interior. Bauru tem ligação ferroviária com países do Mercosul, por isso recebe grandes investimentos de empresas distribuidoras de grãos plantados em Estados vizinhos. Ramais ferroviários que saem da cidade também transportam mercadorias para os portos de Santos e Paranaguá, além de estarem conectados a zonas produtoras de matérias-primas siderúrgicas, como a CSN, em Volta Redonda (RJ), e Cosipa, em Cubatão, na Baixada Santista.

“O Interior está se modernizando com o dobro da velocidade da Grande São Paulo” — afirma o consultor Amadeu Leo Pardo, da consultoria Deloitte.

É fácil entender o motivo. Ao se transferirem para o Interior, empresas optaram por construir plantas novas e modernas. Ao mesmo tempo, a proliferação de multinacionais num ambiente antes constituído por organizações familiares trouxe mudanças de conceitos e comportamentos. A tudo isso juntou-se a revolução nas telecomunicações. “Internet e telefonia ágil fazem com que uma empresa instalada em Presidente Prudente comunique-se com parceiro no Exterior com a mesma agilidade com que as fábricas da Volkswagen em São Bernardo ou Resende (RJ) comunicam-se on-line com a matriz da corporação na Alemanha” — acentua Leo Pardo.

Consultorias do porte da PriceWaterhouseCoopers, Arthur Andersen e Deloitte, hábeis em farejar novos negócios e fiéis rastreadoras de riquezas, estão ampliando operações no Interior de São Paulo. Não é por acaso. “Ainda há muitas fusões para se fazer” — afirma Leo Pardo, da Deloitte. “A grande onda de fusões já passou. Mas empresa que conseguiu se manter com capital nacional até agora certamente será vendida a peso de ouro” — profetiza Luís Alexandre Marini, da PriceWaterhouseCoopers.

Se depender da disposição das consultorias, o Interior promete dar mais alguns passos à frente da Região Metropolitana de São Paulo. Uma dica: grandes redes de varejo que atuam no País — leia-se Pão de Açúcar e Carrefour — estão de olho em supermercados que atuam nas regiões de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Vale do Paraíba.



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