O Diário do Grande ABC está fazendo um gol importante no
combate ao trabalho infantil. Um golaço, na verdade. O que atenua o reduzido
grau de comprometimento da linha editorial da publicação com questões mais
prementes da Província do Grande ABC. A matéria assinada pela jornalista Elaine
Granconato mostra que o jornal está de olho nas irregularidades observadas por
qualquer motorista.
Por conta da decisão de ir a fundo na questão o Diário do
Grande ABC não pode ser condescendente e muito menos fantasioso: tem de marcar
corpo a corpo a Associação dos Construtores, cujo presidente exercita marketing
pessoal de baixa aderência comunitária mas que ainda encanta algumas
autoridades públicas desinformadas, caso recente da ministra Miriam Belchior.
Ou alguém tem dúvidas de que o mercado imobiliário é o maior demandador de
trabalho infantil irregular, terceirizando o recrutamento de menores de 16
anos?
Está no Diário do Grande ABC de hoje que uma força-tarefa
foi montada
para combater a prática irregular de trabalho infantil. Representantes do
Ministério do Trabalho, do Ministério Público e de órgãos ligados à defesa dos
direitos da criança e do adolescente participaram de audiência no auditório do
Sesc. Segundo a jornalista, eles pretendem fechar o cerco às empresas que
oferecem mão de obra ilegal de distribuição de panfletos e divulgação de
empreendimentos imobiliários. São os adolescentes-placas.
Construtores fora
Não há uma linha sequer, nadinha de nada, sobre eventual
representação da Associação dos Construtores no encontro. O contrário seria de
surpreender, mesmo se considerando que Milton Bigucci é especialista em ocupar
a mídia por conta da força publicitária do setor que representa e do
conglomerado de empresas sob seu controle. A MBigucci é uma marca que condensa
uma corporação cheia de denominações desconhecidas. Inclusive a empresa que
arrematou de forma irregular uma área pública
a Administração de William Dib, cujo processo está sendo analisado pelo
Ministério Público.
Já escrevi uma ou mais vezes que não entro em bola dividida
de estabelecer peremptoriamente juízo de valor sobre a idade ideal para começar
a trabalhar. Comecei cedo como Milton Bigucci alardeia para si também e tantos
outros profissionais de várias áreas. Com 14 anos já estava na labuta
jornalística,
Araçatuba. Mas
manietar quem pretende ir à luta vai muita diferença. Até porque os tempos são
outros, não é verdade?
Criminalidade nas
ruas
A criminalidade explícita ou implícita está nas ruas em
forma de vitrine bem acabada do que se encontra principalmente nas periferias.
Aliás, como bem lembrou Francinete Menezes Ribeiro, representante do Conselho
Municipal e do Adolescente de Santo André. Ela alertou que a panfletagem é a
porta de entrada para crianças e adolescentes chegarem a outras mazelas, como
prostituição, tráfico e drogadição: "Sempre é uma criança desfavorecida e
em condições familiares precárias"-- afirmou.
Algum imbecil de plantão provavelmente vai dizer que este
jornalista está a perseguir o presidente da Associação dos Construtores em mais
um capítulo de textos deste CapitalSocial.
Bobagem. Como prometi e não vou abrir mão de ficar de olhos
abertíssimos em relação ao mercado imobiliário, uma das áreas mais sensíveis à
qualidade de vida principalmente nas regiões metropolitanas, e como também
exponho que a direção da entidade que supostamente cuidaria da atividade é a
expressão máxima do capitalismo selvagem, não abro mão de chamar a atenção crítica
à questão das crianças e adolescentes.
Raciocinem comigo os leitores mais sensíveis: não teria de
ter sido essa cruzada pela legalidade e responsabilidade nas ruas da região uma
ação colaborativa, prospectiva e também de resolutividade compartilhada da Associação
dos Construtores? Já há muito tempo sombras cercam o mercado da molecada que
trabalha de sol a sol nas ruas da Província do Grande ABC.
Há seis meses o Diário do Grande ABC publicou matérias
denunciatórias sobre a exploração do trabalho infantil, a direção da Associação
dos Construtores foi convocada pelo Ministério Público de São Bernardo e até
agora não fez praticamente nada para não só contrapor-se às irregulares como,
principalmente, abrir alas na luta pela humanização no sistema viário regional
também quanto àqueles que ocupam as esquinas como variável do mercado de
trabalho.
Ainda segundo a reportagem do Diário do Grande ABC, a
força-tarefa mobilizada contra o trabalho infantil detectou que há um bloco de
65 empresas intimamente ligadas aos empreendimentos imobiliários e ao mercado
varejista nas ações de campo para espalhar exércitos de jovens nas esquinas da
região.
A Gerência Regional do Trabalho e Emprego, com atuação
regional, mapeou as empresas que giram em torno dessa mão de obra. Das 65
empresas notificadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, 38 compareceram na
reunião técnica de ontem.
Calcula-se que mais da metade atue irregularmente. São
empresas de fachada. Imaginem então a molecada que colocam nas ruas.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!