Na reprodução do Capital Digital Online de 16 de fevereiro de 2005, os leitores desta newsletter vão compreender a preocupação que tinha — como diretor de Redação do Diário do Grande ABC — em alinhavar ações sistêmicas entre as editoriais. Boa leitura.
Grande ABC, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005
Equilíbrio é desafio à
conquista dos leitores
Um dos desafios que teremos de superar — nem poderia ser diferente — é tornar equilibrado o jogo que envolve as ramificações de produção e publicação diária do nosso jornal, no caso as editorias de Esporte, Economia Regional, Política Regional, Setecidades e Cultura & Lazer. A diferença que as caracteriza no que chamaria de confrontos de qualidade já foi maior. Muito maior. Responsáveis pelo que vai diariamente aos leitores, essas editorias não podem ter discrepâncias, não podem ser ilhas, não devem compartimentar o jornal em cinco pedaços distintos.
Os leigos em jornalismo terão dificuldades em perceber e, muito mais, em identificar as especificidades que contaminam diretamente as relações comparativas entre essas cinco editorias. Quando não se percebem os problemas, mas não se gosta do produto, a atitude automática é a substituição. Quando se percebem e se identificam os problemas, a deserção é mais rápida. Os leitores não são bobos.
Quem subestima os leitores, principalmente os leitores cativos, aqueles que estão entre os assinantes do jornal, joga no lixo suposta esperteza porque ninguém é tolo o suficiente para gastar dinheiro com algo de que não faz uso.
Exatamente por isso que, num primeiro módulo de transformações, nosso desafio é equilibrar esse jogo intereditorias. Depois, avançar e avançar em busca do cetro da melhor qualificação generalizada.
Por isso, quem imaginar que é possível fazer um jornal de todos os leitores com virtudes consolidadas de uma ou outra editoria não entende nada de jornalismo. Seria algo como comprar uma passagem de cruzeiro por causa da fartura gastronômica, sem considerar as cabines emporcalhadas, o capitão do navio constantemente embriagado, as dançarinas fora de forma, o teatro com shows mambembes.
CONTEXTUALIZANDO
Enxergava o produto final, evidentemente, sob prisma que a maioria dos jornalistas da Redação (e isso é comum nas redações, porque também observava assim) descuidava, já que é natural a concentração de esforços e de foco no próprio reduto editorial. Ao fugir do varejismo da Redação do Diário (boa parte do expediente atuava dois andares acima, onde estava instalada a Redação da revista LivreMercado, mais tarde praticamente expulsa pelos diretores) quebrava a correia de transmissão de ver apenas algumas árvores e esquecer da floresta. Sem contar que, sem minha presença compulsória na Redação, valorizava as chefias perante comandados. Nem a saleta de diretor de Redação, separadíssima dos demais companheiros de trabalho, aceitei nos tempos do Diário. A segregação era a antítese dos objetivos de integração que procurei implantar desde o primeiro dia de trabalho. Mas há chefes de Redação que não abrem mão da distinção. Eles se sentem importantes na hierarquia. Aliás, por falar nisso, nem mesmo aceitei um gabinete no sexto andar do jornal, simbolicamente o centro do poder da empresa. O acionista Ronan Maria Pinto só faltou implorar para que eu subisse ao sexto andar. O sexto andar é improdutivo para jornalismo de qualidade e eu não tinha tempo a perder.
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