Quando se junta a fome com a vontade de comer, tudo pode acontecer. Pretendia apresentar na edição de hoje o texto já acabado do que chamo de agenda para humanizar o mercado imobiliário da Província do Grande ABC. Deixei para amanhã. Fui pego no contrapé pelo noticiário propagandístico que o Diário do Grande ABC e o presidente eterno da Associação dos Construtores, Milton Bigucci, enfiam goela abaixo dos leitores em forma de jornalismo. É um acinte.
Mas nada acontece, porque liberdade de expressão, mesmo que em forma de correia de transmissão de mercadistas empedernidos, é bem supremo. E um representante maiúsculo dos mercadistas sabe o que fazer para manter-se no topo do ilusionismo.
Para encurtar a conversa sobre o que o Diário do Grande ABC e Milton Bigucci levaram ao distinto público nesta quinta-feira, faço um desafio público tanto ao jornal quanto ao dirigente da Associação dos Construtores: que comprovem sem sofismas e malandragens semânticas que o preço do metro quadrado dos imóveis negociados na Província do Grande ABC alcança a média de R$ 5 mil.
Renuncio à minha carreira de várias décadas, prometo solenemente entregar a rapadura profissional ante qualquer membro da Justiça, satisfaço todas as vontades autoritárias de Milton Bigucci, que tentou me calar neste espaço, caso tanto o Diário do Grande ABC como a direção da Associação dos Construtores provem que o metro quadrado construído e vendido na Província do Grande ABC custa em média R$ 5 mil.
Vou mais longe: retiro da contabilidade, que deverá ter como fonte de dados os cartórios de registros de imóveis, os municípios periféricos da Província do Grande ABC. Fico apenas com Santo André, São Bernardo e São Caetano, sobre os quais, de fato, a Associação dos Construtores conta com alguns números, embora propague que tenha todos os números.
Propaganda enganosa
Vamos lá, senhor Milton Bigucci. Vamos lá, direção empresarial do Diário do Grande ABC. Topem essa parada. Vou provar com todas as provas que o que se pratica no noticiário do mercado imobiliário é a mais deslavada propaganda enganosa em forma de jornalismo.
As peripécias de Milton Bigucci à frente da Associação dos Construtores são um descalabro para a sociedade regional. Nem é preciso invadir o campo criminal por conta do leilão manipulado do qual saiu com um naco valiosíssimo de área pública em geografia nobre em São Bernardo. Sempre com o suporte logístico do Diário do Grande ABC, parceiro para todas as horas, Milton Bigucci deita e rola no noticiário.
Até que ponto o mercadismo mais deletério terá vez em forma de noticiário sem que forças democráticas manifestem repulsa? Até que ponto o jornalismo obrigatoriamente um serviço social vai estender os braços de oportunismo mercantil para embalar gente do estofo ético de Milton Bigucci?
Sociedade ludibriada
Será que ainda é preciso ir mais fundo para demonstrar que a Associação dos Construtores dirigida por Milton Bigucci é o reduto de alguns poucos iluminados que fazem gato e sapato de informações do mercado imobiliário regional, entre outras travessuras que custam muito caro à sociedade?
A gravidade do noticiário desta quinta-feira do Diário do Grande ABC não está restrita à manipulação do preço do metro quadrado na região, algo feito sob medida para tentar reanimar uma atividade que anda de lado e que, segundo especialistas internacionais, tem cara e corpo de réplica de hecatombes já registradas na Europa.
Tanto anda de lado o mercado imobiliário — quando se estende uma linha de comportamento de vendas deste ano — que chega às raias do inconcebível outra informação relevante do noticiário do Diário, tratada em manchete. Afirma o jornal, com base na credibilidade exposta por Milton Bigucci, que houve crescimento de 34,09% no número de unidades vendidas até o terceiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Como é possível chegar a esses números se no maior mercado imobiliário do País, a vizinha Capital paulista, o movimento no mesmo período foi de refluxo e de preocupação?
Ora, bolas, só pode ser por conta de manipulação. Se não há manipulação, nada melhor que a Associação dos Construtores abrir publicamente os números que supostamente alimentam uma verdade incompreensível. Abrir os números significaria dar transparência à realidade do mercado imobiliário da região. Alguma vez o presidente daquela entidade, Milton Bigucci, ao menos sugeriu tamanha façanha? Jamais.
Apenas para que se tenha a noção do tamanho do disparate numérico na região, de janeiro a setembro foram comercializados 19.873 imóveis na Capital, 19,2% abaixo do total registrado nos nove meses do ano passado (24.605 unidades), segundo números oficiais do Secovi.
De repente, como num passe de mágica, a Gata Borralheira se tornou Cinderela e a Cinderela se tornou Gata Borralheira. Tudo é possível ante os poderes miraculosos de Milton Bigucci e do Diário do Grande ABC. Poderes miraculosos que atingem apenas os ingênuos, evidentemente.
Hora do Procon intervir?
Talvez o que melhor se contraponha ao enredo já extenso de mandraquismos do dirigente Milton Bigucci seja o Procon atuar como órgão fiscalizador da Associação dos Construtores. Sei lá se tal atribuição compete ao órgão, mas não custa nada um cidadão, unzinho ao menos, formalizar uma queixa contra aquela entidade por conta de crime contra a economia popular. Ou teria outra denominação algo tão descaradamente fora da realidade?
Quanto ao Diário do Grande ABC, protegido como todos os veículos de comunicação pela Constituição Federal, os leitores é que dão a melhor resposta. Ou será que alguém do jornal acredita para valer que quem sai às ruas para adquirir um imóvel e faz comparações de preços, acredita que R$ 5 mil pelo metro quadrado construído é a base sobre a qual se definem as negociações? Tenham a santa paciência! Metade disso já é muito em larga escala da geografia regional. Ou se esqueceram que a desindustrialização exaustivamente provada mais dia menos dia deixaria um rastro de perdas e danos?
O que não falta na Província do Grande ABC é gente esperando tempo demais para vender imóveis que saltam de novos empreendimentos mas não encontram compradores em número suficiente para manter a engrenagem em velocidade compatível com as obrigações a desembolsar ou a rentabilidade a embolsar.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!