"Província do Grande ABC" ou simplesmente "Grande ABC?" Esta é a questão à análise do Conselhão Regional, instância que a revista digital CapitalSocial está organizando para efetivar série de estudos. Os integrantes do Conselhão Regional já selecionados (e outros que serão aos poucos) já foram comunicados sobre o temário da primeira ação coletiva. Uma batata quente e tanto, que vai testar o nível de sinceridade e de convicções dos conselheiros.
Sei lá qual será o resultado final da abordagem, mas uma coisa é certa: não tenho vontade alguma de alterar uma decisão tomada há quase um ano, quando, cansado de tantas lutas, entendi que já passara da hora de trocar "Grande ABC" por "Província do Grande ABC".
Sei que a expressão soa provocativa, algo que provavelmente me levaria à falência eleitoral se fosse candidato a alguma coisa, mas como reconheço o viés provocativo e como jamais fui ou serei candidato a alguma coisa, porque qualquer coisa é incompatível com o jornalismo que pratico, sigo
Aliás, estou tão seguro quanto a isso que não temo eventual maioria do Conselhão Regional rejeitar a expressão "Província do Grande ABC". Muito pelo contrário: quanto mais gente eventualmente contrariada com este jornalista por conta desse rótulo, mais vou me sentir esperançoso de que algo poderia mudar num horizonte não muito distante. Mas essa posição não significaria também que aliados deste jornalista não se vejam num ponto de mobilização, porque é assim que reajo à minha própria invenção. Criei "Província do Grande ABC" tanto no aspecto depreciativo como também como motivação pessoal para me embrenhar em questões que possam ser bem resolvidas.
Efeitos terapêuticos
Creio que "Província do Grande ABC" tem efeitos terapêuticos mais aconselháveis que "Grande ABC", apesar de toda a carga idiossincrática que a envolve. Antes depreciar para ferir e ferir para provocar reações do que lambuzar-se em elogios, elevar a região a um patamar de irrealidade de autoestima que seria sustentada por "Grande ABC" tão acomodatício quanto de baixa fertilidade social. Acreditamos o tempo todo no poder mágico de "Grande ABC" e desprezamos a concorrência por investimentos produtivos, principalmente no setor industrial, plataforma de embarque à constituição de classes sociais sustentáveis no logo prazo.
Ainda não me defini sobre a forma para tentar extrair dos integrantes do Conselhão Regional a garantia de que terão seus direitos de análise rigorosamente respeitados. Não é nada fácil expor conceitos antagônicos que defendem a expressão "Grande ABC" e também a expressão "Província do Grande ABC". Tenho de me manifestar com equilíbrio e justiça, como se duas cabeças diferentes estivessem a perpetrar cada um dos dois formatos. Os argumentos que sustentarão "Grande ABC" fatalmente serão confrontados com os argumentos de "Província do Grande ABC". E vice-versa. Um jogo interessante, convenhamos.
Gata Borralheira
No fundo, no fundo, esse assunto não é um rebento novo. Quando escrevi "Complexo de Gata Borralheira", em 2002, já exprimia o sentimento de subalternidade próprio de Província que o Grande ABC carrega no ventre sociológico a reboque da Capital e que se cristalizou com a chegada das indústrias, cujos executivos de ponta preferiam morar na vizinha Capital, mais cosmopolita. Aliás, até hoje, quem quer demonstrar que está em outra estratosfera social, mesmo uma estratosfera lubrificada de malandragens, de rombos milionários, não pensa duas vezes e se manda para São Paulo. Frequentar rodinhas sociais de velharias paulistanas, então, é o suprassumo da breguice. Que as colunas sociais destas plagas divulgam extasiadas, porque somos uma Província.
Vamos reservar na enquete sobre a robustez ou o embuste da expressão "Província do Grande ABC" um espaço para comentários dos integrantes do Conselhão Regional. A manifestação de cada um deles vai ser transposta às páginas desta revista digital, desde que devidamente autorizadas. Não podemos perder a oportunidade que se oferece para dissecar um assunto que até outro dia era absoluto tabu entre os formadores de opinião. Segregam-se os reclamos de indicativos de nosso provincianismo, como se pecado fosse debater a questão claramente. É isso que estamos propondo ao Conselhão Regional. Que prato apimentado para início de uma nova jornada de transparência e interação jornalísticas, não acham?
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!