Sociedade

O que tem a ver a final do BBB e a
desindustrialização da Província?

DANIEL LIMA - 28/03/2012

É muito mais provável que a entojada Fabiana ganhe a final do BBB 12 ante o simpático Fael do que a Província do Grande ABC saia do encalacramento da desindustrialização. Perceberam os leitores que não temos saída mesmo? O que vai apanhar a Fabiana até o anúncio da votação final nesta quinta-feira à noite não será pouco. Vou adorar, porque ela me lembra algumas pessoas que já encontrei aqui fora, nesse outro BBB da vida.
 
A disputa é tão desigual entre a espontaneidade de Fael e a artificialidade permanente de Fabiana que os telespectadores saberão premiar quem merece. No caso da desindustrialização, estamos colhendo o que merecemos também. Prevalece na Província, daí ser Província, o oba-oba desnaturado de lambuzar-se nas fezes do triunfalismo como se todos ou quase todos participassem da churrascada da batalha final.
 
Os leitores com moradia na Província do Grande ABC que acompanharem estas linhas num futuro não muito distante não serão ludibriados pelos falsificadores da realidade deste começo de segunda década do novo século. Sim, muitos haverão de ler estas linhas e tantas outras, dentro de 40, 50 anos, porque a Internet é uma grande invenção tecnológica. O que no passado ficava restrito aos arquivos de papel em estruturas físicas mal-cuidadas de veículos de comunicação, hoje se tornou acessível a um simples clique. As novas gerações saberão julgar quem é quem nesta Província desnaturada.
 
Vejo agora que as lideranças de metalúrgicos de São Bernardo juntaram forças e botaram gente na Anchieta para protestar contra os efeitos danosos da política econômica e dos estragos provocados por uma série de inconformidades nacionais quando confrontadas principalmente com os asiáticos, mais especificamente chineses bons de produção e péssimos em contrapartidas sociais.
 
O que se está observando é a lógica do jogo da competitividade mundial, desdenhada há alguns anos quando essas mesmas lideranças metalúrgicas subestimaram, quando não foram sarcásticas, com o estouro da boiada dos custos elevados de produção e os desperdícios de infraestrutura de um País que se deixa engabelar pela quinta posição no ranking mundial do PIB, sem levar em conta, é claro, a diferença entre PIB absoluto e PIB per capita. Nosso Complexo de Gata Borralheira não é perniciosidade doméstica, regional. O Brasil adora se enganar.



Vitimização permanente
 
A economia brasileira vai mal no BBB da competitividade mundial porque se faz de vítima como tantos brothers o fizeram nesta e nas anteriores edições do reality show que, como se nota, tem muito a ver em sentido de comportamento com o que se passa aqui fora. Nada surpreendente, porque o mundo é feito de gente e gente tanto se transforma em países e nações quanto em guetos ostensivamente flagrados por câmeras de televisão.
 
Sei que provavelmente alguns leitores que não conseguem suportar programas que expõem as fragilidades humanas como o BBB estão a me condenar por estabelecer correlação com o movimento das pedras macroeconômicas. Eles deveriam acreditar que cada vez mais a tecnologia da comunicação aproxima pessoas e instituições a ponto de torná-las de carne de osso, de sentimentos e espiritualidades. Bem observados, os noticiários nacionais e internacionais são BBBs contínuos.
 
A Província do Grande ABC é incapaz de reagir ordenadamente para superar um trauma que vem de longe na forma de perda sequencial de geração de riqueza. Mais que isso: pouco faz coletivamente para amenizar o peso relativo de nossa doença holandesa, a indústria automotiva. Os maiores especialistas em economias regionais alertam há século que quando se depende demais de uma mesma matriz econômica, como Detroit da indústria automotiva, como a Província da Indústria automotiva, contrata-se o caos no futuro. As perdas absolutas e relativas que retratamos nesta revista digital há muito tempo, e que agora estão mais ressaltadas com a sistematização de indicadores no G-20, o Clube dos 20 Municípios Mais Importantes do Estado, exceto a Capital, estão mais clarificadas.
 
Política demais
 
Infelizmente, embora seja uma atividade relevante à consolidação da democracia política, enquanto tivermos nas páginas de jornais impressos e digitais o prevalecimento do noticiário eleitoral em detrimento de questões sociais e principalmente de vetores econômicos, não vejo a menor possibilidade de a Província do Grande ABC acordar de sono profundo. Para agravar ainda mais a situação, uma situação em que a economia limita-se ao quartinho de despejo exíguo, a política está na sala de estar, na cozinha, nos aposentos, na churrasqueira, em todo quanto é lugar. Quando a economia aparece geralmente é sob condições fraudulentas. Ou não seriam esses os condimentos das estatísticas da Associação dos Construtores, das invencionices dos assessores econômicos da Administração Aidan Ravin, e dos salamaleques marqueteiros de construção em São Bernardo de um onírico terceiro aeroporto internacional na Grande São Paulo?
 
Se o leitor ainda não desconfiou, eu conto o segredo de meter a final do BBB neste texto: durante todo o dia procuro armazenar conhecimentos para, quando a noite chega, esbaldar-me em dispersão, tanto em forma de acompanhante voraz do BBB de personagens que dominam o ambiente aqui fora, como de futebol e da telenovela das nove. Talvez dispersão não seja o conceito adequado a estas horas, porque é impossível abandonar o  olhar crítico, agudo, que o jornalismo automatiza.
 
O que quero dizer é que é impossível suportar a vida nesta Província de mesmices e safadezas sem o lenitivo dos brothers que praticamente já se foram todos, sem o folhetim noturno e sem aqueles marmanjos correndo atrás da bola, como hoje verei Milan e Barcelona, torcendo, é claro, pelos espanhóis fantásticos. Tão fantásticos na sinergia coletiva que poderiam servir de benchmarking para nossas instituições provincianas que, ainda comparando, se time formassem, não passariam de um catado de última hora, incapaz de reagir a rebaixamentos seguidos. Como um Saged, ex-Ramalhão, tão à mão.
 
Ficarei frustrado se Fael não vencer com mais de 90% dos votos, porque estou com o saco cheio de ver tantas Fabianas aqui fora, nesse Big Brother aborrecido e permanentemente repetitivo, porque, infelizmente, não tem paredões semanais. Os oportunistas costumam dominar a cena por muito mais tempo. Fael não é o personagem de meus sonhos, é verdade, porque não tem as iniciativas dos rebeldes com causa, como o discreto Jonas, mas é bom de caráter. Atributo que escasseia aqui fora. 


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