Sociedade

Vagabundice institucional da OAB
começa a ser retirada do armário

DANIEL LIMA - 03/04/2012

Nada melhor que eleição para colocar a verdade na mesa e esvaziar o armário de ilusões. E para retirar dos vagabundos de plantão, esses que nada fazem e ocupam postos importantes à cidadania pretendida, o discurso mentiroso, quando não ofensivo, contra quem ousa lhes opor resistência. Os leitores mais assíduos desta revista digital devem se lembrar bem do quanto escrevi ainda recentemente sobre a atuação das seções da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na Província do Grande ABC. Houve muito remelexo, novas campanhas surdas contra este profissional. Mas nada melhor que o tempo. A candidata à seccional da OAB-SP, Rosana Chiavassa, não deixa por menos nas entrevistas de campanha.
 
Rosana Chiavassa não tem relações mais que protocolares com o atual presidente da OAB paulista, Luiz Flávio Borges D´Urso, que comanda a entidade há nove anos. Combate-o inclusive no campo político. Considera sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo algo próximo da ilicitude ética, como se depreende da seguinte declaração ao Diário do Grande ABC, edição de segunda-feira: "A advogada ressaltou que a visibilidade trazida pela OAB-SP ajuda quem tem pretensões políticas, porque a entidade é respeitada pela sociedade. "Quem concorre (à presidência da Ordem) deve ficar de quarentena. Acho que tem de haver disposição. Para quem quiser, não é difícil usar a Ordem para chegar lá", analisa.



Tiro no próprio pé
 
É claro que a edição da matéria pelo Diário do Grande ABC foi um tiro no pé da publicação, porque o veículo com sede na Rua Catequese, em Santo André, é um dos responsáveis pela cristalização da inoperância das unidades da OAB na Província, situação que não difere basicamente em nada do modus operandi da instituição em nível estadual e nacional. Caberia à Imprensa, fosse a Imprensa muito mais que correia de transmissão dos interesses do dia de grupos de pressão que se refestelam principalmente no Poder Público, atuar incisivamente em defesa da cidadania.
 
A OAB mantém vagabundice institucional imensurável. Por mais boa vontade que tenham vários de seus representantes diretivos das unidades locais, o conjunto da obra quando o interesse da sociedade e da regionalidade viceja, é uma vergonha que só perde para o silêncio comprometedor, quando não bajulador, da Imprensa. Mas de vez em quando eis que aparece uma candidata com vergonha na cara e senso crítico a ocupar espaço.
 
Servilismo geral
 
Podem alguns leitores entenderem que a linguagem mais rústica deste jornalista neste texto ganha tons desrespeitosos, mas não é bem assim que deve ser entendida. Quando a indignação e o cansaço de martelar e martelar contra redutos corrosivos ganham a forma de patetice ideológica, sustentar o verniz da elegância seria estupidez estilística. O tempo urge e não se vê no horizonte regional algo minimamente emblemático de novas jornadas que não chegam jamais. Fossem as OABs menos burocráticas, corporativas e sobretudo se rompessem os cordões de servilismo aos poderes públicos e aos mandões econômicos, teríamos de respostas contribuições imensas.
 
Bastaria seguir as sugestões da candidata da OAB paulista, Rosana Chiavassa. Aliás, o que ela disse ao Diário do Grande ABC e o que vem dizendo a outras publicações impressas e digitais não ultrapassa em nada as delimitações críticas deste jornalista. Diria até que não são tão abrangentes. "O que tem feito pela sociedade (a OAB) nos últimos anos? Você mal a vê na mídia como porta-voz da sociedade (...). A Ordem está muda" -- disse a concorrente. Muda é pouco. A OAB vive longe da realidade factual, histórica e cultural. É portadora de autismo social que não difere, no fundo, no fundo, da grande massa de entidades essencialmente corporativistas, de cúpulas que se mantêm em regime de revezamento, quando não de autoritarismo explícito.
 
Vivemos na Província do Grande ABC um suprassumo do que é normalidade irritante no território nacional, com as exceções de sempre. Com o agravante de que viemos de um final de século passado altamente destrutivo no campo econômico e neste novo século não conseguimos encaixar um golpe de foco produtivo que nos retire da ameaça cada vez mais evidente de que daremos com os burros nágua ao depender da doença holandesa da indústria automotiva.
 
Ao acreditar que a publicação da entrevista com Rosana Chiavassa sobre as eleições da OAB-SP não teria vínculo com a realidade regional, a qual despreza em nome de relações diplomáticas tipicamente provincianas que subordinam a cidadania ao quarto de despejo da ampla mansão de interesses que vão muito além do que se noticia, o Diário do Grande ABC acabou se dando mal. A Província do Grande ABC está ali em cada linha das declarações da candidata de oposição.
 
As OABs daqui são uma vergonha institucional quando interesses da sociedade estão em jogo numa série de irregularidades que saltam às manchetes a cada semana. O comprometimento com as forças de pressão, quando não com fontes de financiamento eleitoral, congela qualquer iniciativa que tenha a sociedade como destino.


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