Faltam 21 mil empregos industriais com carteira assinada nas fábricas da Província do Grande ABC para que, pelo menos nesse quesito, os efeitos do Plano Real e das mudanças macroeconômicas do governo de Fernando Henrique Cardoso sejam minimizados. Coração e alma da economia regional, cerne da mobilidade social que marcou a geografia dos sete municípios locais durante várias décadas a partir de 1950, o emprego industrial formalizado, tradicionalmente muito mais agregador de valor, acusa déficit equivalente a sete unidades fabris da Bridgestone/Firestone de Santo André. Com FHC perdemos 81.327 postos de trabalho no setor, entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002. Com Lula da Silva e Dilma Rousseff, entre janeiro de 2003 e dezembro de 2011, recuperamos 60.247.
O desempenho do emprego da indústria de transformação na Província do Grande ABC nos dois períodos de administradores federais de conceitos antagônicos em termos de exploração da capacidade de consumo da população está estreitamente ligado à indústria automotiva. Sem as montadoras e as empresas satélites, inclusive de outras atividades econômicas, a Província do Grande ABC dificilmente reagiria com tamanha força no emprego industrial.
Durante o governo Lula da Silva e também de Dilma Rousseff, a indústria automobilística viveu e vive a fartura do consumismo sobrerrodas. Incentivos fiscais e fartas facilidades de crédito são liberados, como atualmente, para impedir a quebra de produção e o desemprego. Saem da Província do Grande ABC perto de 20% da produção de veículos de passeio do mercado brasileiro. O Brasil depende cada vez menos das montadoras da região, mas a região viveria uma catástrofe sem as montadoras.
Doença holandesa
Nossa doença holandesa é um mal-me-quer que também se traveste de bem-me-quer. Dependendo do ângulo com que se analisa o copo pela metade, está meio cheio ou meio vazio. Com FHC estava meio vazio. Com o PT, goste-se ou não do partido, está meio cheio. Antes de Fernando Henrique Cardoso e por uma década e meia de descobrimento, mobilização e maturação do movimento sindical, a Província do Grande ABC viveu período de refluxo do emprego industrial na esteira de redirecionamentos do governo do Estado da política de indução de desenvolvimento econômico ao Interior. O fator sindical como agente de hostilidade ao capital não pode ser retirado da equação que torpedeou a indústria regional antes das intervenções federais que, inclusive antecederam a chegada do PSDB ao governo. Foi o então presidente Collor de Mello quem iniciou o processo de abertura dos portos. Fernando Henrique Cardoso foi mais amplo nas medidas que impactaram dolorosamente a Província do Grande ABC.
O emprego industrial da Província do Grande ABC contava com 276.650 postos de trabalho com carteira assinada quando foi implementado o Plano Real, em 1994. É esse número que baliza a contabilidade de CapitalSocial. Eleito naquele ano, Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência da República em dezembro de 2002. Foram 96 meses de dois mandatos. Quando deu posse a Lula da Silva em 1º de janeiro de
Com Lula da Silva e Dilma Rousseff (e sem contar os dados deste ano, desfavoráveis ao emprego industrial na região), a Província do Grande ABC recuperou 60.247 postos de trabalho industrial. Eram 195.323 deixados por Fernando Henrique Cardoso e passaram a ser 255.570. Recuperaram-se, portanto, por mês, 602 postos de trabalho do setor. A cada quatro meses os governos petistas devolveram uma fábrica da Bridgestone/Firestone de emprego da indústria de transformação.
Durezas de mudanças
Pesaram no lento e sofrido processo de enfraquecimento do emprego industrial na Província do Grande ABC vários vetores. As autopeças foram colocadas na guerra santa de uma competitividade internacional tremendamente desvantajosa, sem tempo para irem a uma luta minimamente adaptadas ao turbilhão concorrencial. Acabaram em larga escala dizimadas ou absorvidas por grandes conglomerados internacionais, além de buscarem outros endereços fora da região. As montadoras, inchadas durante décadas de farra burocrática, período no qual repassavam aos preços todas as improdutividades da manufatura, ceifaram milhares de cabeças e mãos despreparadas para o jogo da produtividade que a internacionalização da economia exigia.
A descentralização automotiva a vários endereços do Interior Paulista e também do território nacional, movida à guerra fiscal e benesses locacionais com dinheiro público, foi o corolário do esvaziamento industrial da região. A desindustrialização tem estreita relação com a perda de empregos no setor porque é uma combinação perversa que nem mesmo a produtividade tecnológica e de processos dissimula.
Também fatores macroeconômicos internacionais embaçaram a força industrial da Província do Grande ABC, mas foram esses pontos genuinamente decididos em território nacional que levaram os sete municípios a infortúnios incontroláveis. A mobilidade social foi para o espaço. Mergulhou a sociedade num quadro de desestruturação das relações econômicas e interpessoais. A chegada tsunâmica de empreendimentos comerciais e de serviços jamais compensou o esboroamento industrial. Mais competidores do setor terciário num universo de potencial de consumo em contração significa guerras esganiçadas pelo consumidor.
Saldo para dois
Mauá e Rio Grande da Serra foram os únicos municípios da Província do Grande ABC que, numa comparação ponta a ponta, entre o ano-base de 1994 e dezembro de 2011, anotaram saldo de empregos industriais. Mauá contava com 15.842 trabalhadores em 1994, aumentou para 17.454 ao final do governo FHC e subiu de novo, agora para 24.186 ao final do primeiro ano do governo Dilma Rousseff. A trajetória de Rio Grande da Serra, o menor Município da região, foi errática: de 671 empregos industriais em 1994, subiu para 778 em 2002 e desceu a 722 em 2011.
Os demais municípios da Província do Grande ABC tiveram o mesmo comportamento de Rio Grande da Serra no quesito emprego industrial: o número de postos de trabalho em 1994 superou largamente o do final de 2002 e reagiu no período seguinte, que se estendeu até 2011. Mesmo assim, a conta não foi zerada quando confrontada com a largada inicial.
Diadema contava com 61.286 mil empregos industriais em 1994, caiu para 43.849 em 2002 e subiu para 59.898 em 2011. Ribeirão Pires contava com 11.466 em 1994, caiu para 6.226 ao final do governo FHC e subiu para 9.725 ao final do primeiro ano de Dilma Rousseff. Santo André saiu de 41.392 empregos em 1994, caiu para 29.005 durante o governo FHC e subiu para 38.496 com o PT. São Bernardo contava com 119.867 em 1994, caiu para sofríveis 83.484 em 2002 e subiu para 101.942 em 2011. Completando a lista, São Caetano contava com 26.136 em 1994, caiu para 12.527 em 2002 e subiu para 21.601 em 2011.
Sintonia de perdas
A queda do emprego industrial na Província do Grande ABC espelha o PIB (Produto Interno Bruto) do setor. Há uma estreita relação entre os dois vetores. Não é por outra razão que o PIB Industrial da Província cambaleia quando confrontado com outros endereços municipais do Estado. Num período menos longo do que os dados sobre o comportamento do emprego industrial com carteira assinada (de
Em números absolutos e sem considerar a inflação, o G-7, como poderia ser rotulada a Província, contava com R$ 8,793 bilhões de PIB Industrial em 1999, enquanto em 2009 chegava a R$ 24,466 bilhões. Um crescimento nominal, ou seja, sem efeitos inflacionários, de 178,22%. Muito abaixo dos 271% de Sorocaba, dos 234,24% de Jundiaí, dos 272,77% de São José do Rio Preto, dos 218,96% de Santos, dos 425,05% de Sumaré, dos 291,31% de Piracicaba, entre outros municípios que integram o G-20, o grupo dos 20 mais importantes municípios paulistas, exceto a Capital. A Província do Grande ABC conta com cinco representantes na lista. Apenas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão excluídos.
Ainda sobre o PIB Industrial do período de
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