O fracasso pedagógico, curricular e também institucional da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) é de inteira responsabilidade da classe política da Província do Grande ABC, em especial do PT, e também dos coronéis que trataram aquele que poderia ser um grande diferencial à recuperação econômica com desdém ou com interesse partidário exacerbado.
O desabafo não tem nada a ver com suposto oportunismo, por conta da avalanche de greves no setor público, inclusive na UFABC. Trata-se de mais um balanço que faço dessa escola que confirma o Complexo de Gata Borralheira de uma região que se pretendeu de vanguarda no País. Pura bobagem e jogo de cena dos tempos dos metalúrgicos que, ao contrário do que propagaram, estavam preocupados apenas e legitimamente com os próprios bolsos. Aliás, o então presidente Lula da Silva se referiu aos tempos de sindicalismo exatamente nestes termos.
Alguns pontos precisam ser enfatizados neste texto. Leitores desta revista digital aparecem do nada, o que acho muito bom, mas de vez em quando causam algum tipo de estresse a exigir explicações em mensagens eletrônicas privativas. O principal aspecto que dá suporte a este artigo é que sou um velho combatente do modelo da UFABC. Aliás, o mais antigo, renitente e empedernido. Tudo muito natural, porque acompanhei de perto (e escrevi muito) sobre as baboseiras que marcaram os bastidores e as ações oficiais rumo à aprovação desse que seria um monumento à convergência de grande parte da agenda da regionalidade da Província do Grande ABC.
Já em sete de agosto de 2004, antes portanto da instalação da UFABC, escrevi um artigo na coluna “Contexto” no Diário do Grande ABC (onde era diretor de Redação) sob o título “Obviedade plástica”. Adverti com a ênfase conhecida (e muitas vezes combatida, quando não levada à Justiça pelos prevaricadores sociais de sempre): “Tem-se a impressão de que as trapalhadas jamais se esgotarão porque se retroalimentam da improvisação. Agora, o que se programa no festival de desvio de foco recheado de populismo disfarçado de democracia são audiências públicas nos legislativos da região”.
Festival de demagogia
Recuperando aquele artigo, e explicando os parágrafos entre aspas catapultados a este texto, estava me referindo à iniciativa da então presidente do Clube dos Prefeitos, Maria Inês Soares, petista então prefeita de Ribeirão Pires. Ela tomou a decisão de transformar em atos políticos e eleitorais a expansão dos debates sobre a criação da UFABC a platéias de parcos conhecimentos específicos, quando o bom senso e a cautela indicavam que deveria compor-se com núcleos de especialistas em competitividade de educação e econômica. Competitividade sim, escrevi, “porque é exatamente esse facho de luz que deve nortear a identificação de preciosidades teóricas que nos retirem da escuridão prática em que nos encontramos”.
A justificativa para o título daquele artigo (“Obviedade plástica”) foi construída parágrafo por parágrafo, mas provavelmente o que menciono em seguida seja o mais definidor: “Diferentemente de um ou outro protagonista do jogo econômico do Grande ABC, incapaz de perceber o aporte de novos insumos químicos e petroquímicos que estará na alça de mira dos investimentos no Polo de Capuava, escancara-se a porta de uma vocação compulsória da UFABC. Sim, a conversão de insumos petroquímicos em material plástico, cujo aproveitamento industrial é subestimado no Brasil, é o mapa da mina da reação do setor de transformação do Grande ABC sob bases empregatícias, não apenas de geração de tributos. O consumo de material plástico no Brasil não chega a 40% da média dos países mais industrializados. Temos, portanto, uma ampla e confortável pista para imprimir velocidade e romper a fita de chegada num horizonte de década e meia”, escrevi.
Parafraseando Roberto Carlos, foram tantas as emoções que cercaram a aprovação e a modelagem da Universidade Federal do Grande ABC que talvez tenha faltado mesmo, ou faltou de verdade, racionalidade. Mas o que fazer se a classe política da Província deixou-se engolfar pela tutela petista no projeto, uma tutela perniciosa porque seguiu uma retórica de falsa democracia?
Coronéis encastelados
E os coronéis provincianos então, encastelados (muitos deles ainda continuam por ai a mandar e a desmandar ante covardes que fazem de tudo para imaginar que estão de pé, quando dobram os joelhos a cada esquina) nas respectivas corporações? Simplesmente aceitaram que uma comissão montada pelos petistas excluísse qualquer representação empresarial, num jogo de cartas marcadas e de resultados que só poderiam ser o que temos desde que a UFABC ganhou concreto, alunos e professores na Avenida dos Estados e aos poucos se espalha pela região. Não fosse tudo isso uma barbaridade, as subsedes da UFABC são saudadas com o mesmo entusiasmo dos indígenas ante o desembarque dos invasores travestidos de descobridores.
Hão de dizer os enroladores de sempre que a UFABC está alterando a rota do desastre de regionalidade anunciada, com alguns cursos voltados à realidade econômica e social da Província do Grande ABC. Tudo não passa de manobras diversionistas, para tentar amenizar a pressão dos raríssimos opositores.
Menos mal que os próprios petistas, raiz ideológica e partidária da desídia, começam a se dar conta de que a UFABC é um estorvo para a Província do Grande ABC, porque o dinheiro que o governo federal canaliza para sustentá-la é debitado na conta dois de transferência aos sete municípios da Província. Quanto dinheiro desperdiçado com uma maioria de alunos (cerca de 80%) sem entranhamento com a região e uma quase totalidade de cursos que fogem completamente dos cromossomos de desenvolvimento econômico de quase três milhões de pessoas.
Foi por conta de todo um histórico de tranqueiras em forma de planejamento que, ao empunhar o microfone na manhã de anteontem para formular uma pergunta a um dos prefeituráveis de Santo André, coincidentemente Carlos Grana, deputado estadual petista que pretende tomar o posto do petebista Aidan Ravin, não pude resistir à coceira do inconformismo de bater forte na UFABC. A reação de Grana foi em forma de promessa de que, ele prefeito, tudo mudará, com mobilização dos Executivos da Província. Embora o candidato me mereça respeito, tenho sérias dúvidas sobre isso, porque o PT não tem vocação a redirecionamentos mais que flagrados em desatinos de Inteligência, enquanto os outros políticos, de outras agremiações, não querem meter a mão numa cumbuca da qual foram barrados do baile e na qual pouco se empenharam a colaborar.
Sabem os leitores o que é regionalidade para a cúpula da UFABC? Basta ler a notícia estampada em manchete de página do jornal ABCD Maior, de vertente de centro-esquerda, editado
“Fronteiras e segurança na América do Sul: perspectivas regionais”, foi o tema da aula pública nesta segunda-feira (06/08) pela UFABC (Universidade Federal do ABC). A atividade faz parte do ciclo de debates “Desigualdade Regional e as Políticas Públicas” (...). Especialistas de cinco regiões do Brasil participaram da discussão, que destacou a preocupação com o que acontece nas fronteiras brasileiras, como tráfico de drogas e de armas. “As fronteiras estão bem delimitadas, o problema é o que acontece nelas. São problemas não tanto de defesa, mas de segurança pública que estão afetando o Brasil, avaliou o professor e mediador do debate, José Blanes Sala. Blanes Salas destacou que a questão não está tão distante da realidade do ABCD como pode parecer, já que a Região está próxima da região portuária de Santos. Além disso, existe a participação de São Bernardo na produção e pesquisa no setor de defesa. Desde o ano passado a cidade possui o CISB (Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro). Os investimentos na Região podem aumentar caso o modelo sueco de caça supersônico seja o escolhido pela presidente Dilma Rousseff para equipar a Força Aérea Brasileira. “O ABCD quer ser um polo de tecnologia industrial avançada. As universidades, como a Federal do ABC, podem contribuir com cursos de engenharia em áreas importantes de tecnologia avançada, aeroespacial, meio ambiente. O ABCD tem a possibilidade de conseguir um espaço importante de discussão na área de defesa no Brasil” – afirmou o professor.
Reproduzida a matéria do ABCD Maior, alguns esclarecimentos se fazem necessários, mesmo que breves: a) o professor entrevistado apenas confirma o descaso pedagógico e curricular da UFABC com o território que a sedia; b) o polo de defesa pretendido pelo prefeito Luiz Marinho sofreu duro revés cronológico porque os investimentos do governo federal estão suspensos; c) O centro de pesquisa mencionado está longe, longe mesmo, de qualquer coisa que possa ser catalogada, por enquanto, como instrumento de implementação do suposto polo de defesa. É uma iniciativa importante, mas que vive quase que embrionariamente, quando, infelizmente, o problema econômico da Província está pelo menos duas décadas a saltar aos olhos e aos bolsos.
Leiam também, entre outras opções:
Obviedade plástica
Universidade Federal é boa para o ego regional; e para o bolso?
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!