Sociedade

Aidan e Ronan são muito mais que rima
na Administração Pública e no futebol

DANIEL LIMA - 16/08/2012

Talvez a melhor definição para a Administração Aidan Ravin seja o desempenho do antigo Santo André e há cinco anos Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), equipe que representa o futebol da cidade. Talvez a melhor definição para a equipe que representa o futebol da cidade seja a Administração Aidan Ravin. Tanto uma quanto outra são de Terceira Divisão. Como se marcados pelo destino, Aidan Ravin e a direção do Saged seguem semelhante trilha de esvaziamento.


 


A diferença é que Aidan Ravin é submetido mais democraticamente à análise crítica. O Saged, de propriedade do presidente do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto, é ignorado em tudo que de nocivo acrescenta à geografia esportiva da Província do Grande ABC. Não fosse CapitalSocial, o Saged passaria incólume a observações. O mundo real, feito de gente que frequenta a cidade e que estabelece juízos de valor, embora os mantenham segregados, não teria como se apresentar. Sou apenas e exclusivamente um porta-voz dos insatisfeitos, nesse caso, com a responsabilidade de interpretar e calibrar o movimento das pedras.


 


Por que me ocorre de comparar Saged e Administração Aidan Ravin? Uma entrevista do prefeito ao jornal Diário Regional. Vários pontos me chamaram a atenção, mas um particularmente, sobre a demolição do setor de numeradas do Estádio Bruno Daniel, mais ainda. Vou reproduzir a pergunta do jornalista, a resposta do entrevistado e tentarei contextualizar o caso para que os leitores possam entender por que a gestão Aidan Ravin é de Terceira Divisão e o Saged está na Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. Vamos à pergunta do Diário Regional e à resposta do prefeito:


 


 O que o senhor pretende fazer no Estádio Bruno José Daniel?


 


 Quando o estádio foi fechado pelo Ministério Público, decidimos fazer a reforma, mas a empresa contratada (para demolir a cobertura) destruiu a numerada e não há como aproveitá-la. Nossa ideia é aterrar aquele espaço e construir nova arquibancada, até que surja a oportunidade de uma Parceria Público-Privada (PPP) para a construção da arena. Para fazer isso, precisamos de R$ 50 milhões, mas não podemos tirar esse dinheiro da Educação e da Saúde, em troca de um jogo por semana. Temos contato com pessoal (investidores) da Espanha, que quer investir na arena.


 


Herança maldita mal explicada


 


Onde errou a Administração Aidan Ravin no caso do Estádio Bruno Daniel, a expressar o despreparo geral para uma gestão mais transparente e competente também em outras áreas? Simples, muito simples: não se organizou para justificar tecnicamente a demolição da marquise do estádio, uma obra de quase meio século jamais monitorada com zelo pelos administradores que o precederam. A arquibancada do Bruno Daniel apodreceu ao longo dos anos, colocando em risco os torcedores.


 


Fosse minimamente preparada para o jogo da transparência (fronteira que Aidan Ravin detesta, como explicitou com a aprovação do suspeitíssimo Plano Diretor de Santo André na calada da noite de um final de ano) a Administração Municipal convocaria a imprensa, engenheiros e técnicos especializados no assunto, dirigentes do Saged (a empresa que privatizou o Ramalhão) os atuais dirigentes do Esporte Clube Santo André (que cuidam exclusivamente do Parque Poliesportivo, sem qualquer ingerência no futebol), representantes da Câmara Municipal e o escambau para, no próprio local, expor um quadro completo, ao vivo, da herança que Newton Brandão, Lincoln Grillo, Antonio Pezzollo, Celso Daniel e João Avamileno lhe deixaram.


 


Seduzido por um entorno de suposta blindagem institucional que lhe parecia eterna e, portanto, impeditivo de rescaldo em qualquer uma das áreas da Administração Municipal, Aidan Ravin desdenhou da possibilidade de sofrer desgaste com a derrubada da marquise do Estádio Bruno Daniel como também, entre outras irregularidades, da gestão calamitosa do Semasa. Deu com os burros nágua porque de uns tempos a essa parte andou se embananando com alguns suportes que imaginava irreversíveis.


 


A resposta ao Diário Regional, principalmente no ponto em que diz que não valeria a pena gastar R$ 50 milhões para construir uma nova arquibancada, porque só haveria um jogo por semana, não é a mais adequada e de encaixe no figurino de fragilização do futebol da cidade. O valor citado não seria dispendioso demais porque se disputaria apenas um jogo por semana no local (na verdade, a cota média é menor), mas porque o beneficiário do investimento público não conta com respaldo popular nem institucional. O Saged é uma empresa que trafega à parte no mundo regional. Aquele time que entra em campo na Série C do Campeonato Brasileiro há muito deixou de representar a cidade. Está descredenciado como extensão da sociedade. Apenas, por injunções jurídico-esportivas há muito desrespeitadas, veste a camisa do Esporte Clube Santo André, fundado há quase meio século. O mesmo Santo André pelo qual muitos se emocionaram e choraram de alegria e felicidade, mas que não passa, já há alguns anos, de um fantasma em busca de identidade.  


 


São Bernardo é diferente


 


O petista Carlos Grana, na volúpia em busca de votos, tem prometido investir no Estádio Bruno Daniel. Quer um modelo semelhante ao do São Bernardo, empresa privada que se beneficia do Estádio Primeiro de Maio, construído com recursos públicos municipais. É claro que há diferenças fundas entre os dois casos. O São Bernardo, à parte a partidarização política implícita da direção e da organização como um todo, o que tolhe seu potencial de representatividade integral do Município, é um sucesso de público e bilheteria. Leva milhares de aprendizes de torcedores do Tigre ao estádio. Começa a construir uma história que, espera-se, não dependa dos humores e rumores das urnas. Deverá ter vida própria sempre. Falta-lhe abrangência institucional, mas nem se compara essa deficiência com o isolacionismo do Saged. O São Bernardo é uma obra que começou a ser construída do zero. O Saged destruiu as bases do passado de glória do Santo André para reinventar a roda. Só poderia dar no que está dando.


 


A Terceira Divisão da Administração Municipal de Santo André e a Terceira Divisão do Saged formam um paralelismo sintomático porque reproduzem o modelo de gestão tanto do prefeito quanto do presidente da empresa esportiva. Messiânicos, voluntários, centralizadores, Aidan Ravin e Ronan Maria Pinto jamais conduzirão seus respectivos barcos a portos seguros. É da essência deles flertar com maremotos, com o imprevisível, com o improviso.


 


Não se chega à Terceira Divisão por obra do acaso. Tanto na Administração Pública quanto no Futebol.


 


Leiam também:


 


Restou ao Ramalhão somente a metade sem alma do Bruno Daniel


Leia mais matérias desta seção: Sociedade

Total de 1097 matérias | Página 1

21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!
20/01/2025 CELSO DANIEL NÃO ESTÁ MAIS AQUI
19/12/2024 CIDADANIA ANESTESIADA, CIDADANIA ESCRAVIZADA
12/12/2024 QUANTOS DECIDIRIAM DEIXAR SANTO ANDRÉ?
04/12/2024 DE CÃES DE ALUGUEL A BANDIDOS SOCIAIS
03/12/2024 MUITO CUIDADO COM OS VIGARISTAS SIMPÁTICOS
29/11/2024 TRÊS MULHERES CONTRA PAULINHO
19/11/2024 NOSSO SÉCULO XXI E A REALIDADE DE TURMAS
11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS
08/11/2024 DUAS FACES DA REGIONALIDADE
05/11/2024 SUSTENTABILIDADE CONSTRANGEDORA
14/10/2024 Olivetto e Celso Daniel juntos após 22 anos
20/09/2024 O QUE VAI SER DE SANTO ANDRÉ?
18/09/2024 Eleições só confirmam sociedade em declínio
11/09/2024 Convidados especiais chegam de madrugada
19/08/2024 A DELICADEZA DE LIDAR COM A MORTE
16/08/2024 Klein x Klein: assinaturas agora são caso de Polícia
14/08/2024 Gataborralheirismo muito mais dramático
29/07/2024 DETROIT À BRASILEIRA PARA VOCÊ CONHECER