Quase um ano depois, a revista digital CapitalSocial vai enviar nesta segunda-feira nova bateria de perguntas ao empresário Milton Bigucci, presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC e comandante do conglomerado MBigucci. Foi em 26 de setembro do ano passado que CapitalSocial remeteu a Milton Bigucci uma série de indagações sobre o arremate farsesco de um terreno público de15. 989 metros quadrados entre a Avenida Kennedy e a Avenida Vergueiro, agora em fase de lançamento oficial do empreendimento “Marco Zero”.
CapitalSocial enviará o novo material jornalístico a Milton Bigucci na tentativa de, mais uma vez, obter do empresário e dirigente classista as informações que ele considerar importantes sob a ótica daquela corporação empresarial e também da instituição setorial que preside. Também é uma forma de, outra vez, assegurar o direito ao contraditório.
Nas duas tentativas anteriores de contar com respostas de Milton Bigucci, a primeira de 13 de setembro do ano passado, CapitalSocial não obteve resposta. Melhor dizendo: Milton Bigucci se dirigiu ao Judiciário para uma intentona contra a liberdade de expressão assegurada pela Constituição Federal, requerendo censura completa na forma de eliminação dos arquivos digitais de todas as matérias relativas à Associação dos Construtores e também do dirigente da entidade. A iniciativa de viés ditatorial foi rejeitada pela Justiça em São Bernardo e outras três vezes no Tribunal de Justiça de São Paulo. A fase processual segue na Primeira Instância, por determinação do TJSP.
Apesar das intervenções de Milton Bigucci no âmbito do Judiciário, CapitalSocial segue tratando do noticiário que envolve a Associação dos Construtores do Grande ABC e, mais recentemente, das atividades do Grupo MBigucci. No primeiro caso, há a conceituação editorial sobre a importância do mercado imobiliário ao conjunto da comunidade. CapitalSocial entende e assegura que Milton Bigucci não atua como dirigente que coloque a responsabilidade social acima dos interesses corporativos e institucionais.
Quanto à introdução do Grupo MBigucci na agenda de CapitalSocial, tudo deriva das influências de Milton Bigucci como agente institucional da Associação dos Construtores em direção a seus próprios interesses, no caso o arremate de uma área pública de São Bernardo em circunstâncias nocivas aos cofres públicos, com a encenação de uma disputa que, de fato, beneficiou parceiros previamente acordados sobre a forma de atuar no evento.
Particularizando o conjunto
A tentativa de particularizar o que é estritamente de interesse coletivo para eliminar da rede mundial de computadores todo e qualquer vestígio das atividades da Associação dos Construtores e também dos desdobramentos do leilão fraudulento do terreno sobre o qual se pretende construir o empreendimento Marco Zero não conta com respaldo constitucional. Primeiro porque CapitalSocial se atém exclusivamente a publicar informações e análises enquadradas nos ditames democráticos. Segundo porque a premissa arguida pela defesa de Milton Bigucci é uma falácia.
De que se trata, afinal, o núcleo argumentativo instrumentalizado por Milton Bigucci para tentar sensibilizar o Judiciário à afronta constitucional? Que a pessoa física de Milton Bigucci está sendo atingida pelo noticiário e pelas críticas produzidas por este jornalista. Se a moda pega, o técnico Muricy Ramalho teria de processar muitos jornalistas que o colocaram como responsável pelo fracasso do Santos na decisão do Mundial de Clubes ante o quase imbatível Barcelona, porque teria escalado um time ofensivo demais. E Adriana Esteves, personagem da megera Carminha na novela das nove, irá aos tribunais para processar o autor do folhetim e também a Rede Globo pelos constrangimentos que passa no cotidiano de quem enfrenta populares inconformados com a vilania sem fim na telinha.
Há uma infinidade de exemplos que corroboram uma conclusão contundente: a vida privada, ou seja a pessoa física, está associadíssima à pessoa jurídica (no caso de Muricy, de técnico, e de Adriana Esteves de atriz) e também (no caso de Milton Bigucci) tanto à pessoa jurídica, da corporação empresarial que dirige, como de pessoa institucional, como presidente da Associação dos Construtores.
Talvez Milton Bigucci não se dê conta também das vicissitudes que a função jornalística impõe aos profissionais que não tenham como marca registrada a produção de amenidades típicas de colunas sociais ou que optam pelo incremento da prática de generosidades ostensivas com finalidades nem sempre nobres.
Reconhecimento social
O jornalismo analítico é desgastante como a função de um técnico de futebol sujeito a chuvas e trovoadas de resultados e a de uma atriz que se joga de corpo e alma num personagem que faz do mau-caratismo ação permanente. A principal diferença talvez seja a de que o jornalismo é estressante ante os grupos de pressão que se sentem incomodados, como é o caso de Milton Bigucci, mas conta com o conforto, mesmo que silencioso do reconhecimento de camadas da população que consomem informações e entendem que é preciso conhecer quem são as pedras do jogo de xadrez da sociedade em que vive.
Há ônus e bônus a pessoas físicas que se metem tanto em investidas corporativas como em empreitadas institucionais. Possivelmente Milton Bigucci não seria objeto de qualquer informação jornalística de CapitalSocial e de outros veículos de comunicação caso fosse presidente da Associação dos Passarinheiros do Grande ABC, não da Associação dos Construtores do Grande ABC. Desde que, evidentemente -- e isso é apenas e exclusivamente uma teoria -- se promovesse uma grande passarinhada tendo como convidados supostos defensores da matança de aves em nome de qualquer coisa que os fundamentalistas sempre retiram do coldre de justificativas.
Desta forma, parece insofismável a teoria da “santíssima trindade”: pessoa física, pessoa jurídica e pessoa institucional (e suas combinações parciais, ou seja, pessoa física e pessoa jurídica ou pessoa física e pessoa institucional), são indivisíveis sob a ótica da comunicação social, ou seja, não se fragmentam a título seletivamente matreiro para enquadrar a liberdade de expressão com responsabilidade social, como é o caso de CapitalSocial -- numa camisa de força de cerceamento analítico.
O que a pessoa física Milton Bigucci pretende é que o empresário Milton Bigucci e o dirigente de classe Milton Bigucci estejam completamente a salvo de injunções de responsabilidade social intrínsecas das atividades que exercem. O que a pessoa física Milton Bigucci quer de fato é usufruir das vantagens intrínsecas da pessoa jurídica Milton Bigucci e da pessoa institucional Milton Bigucci sem qualquer possibilidade de passar pelo escrutínio jornalístico. Seria algo como interditar que o que resta de independência jornalística de forma a que sequer se avizinhe das atividades institucionais e corporativas do empresário. Nada que deixe de ter parentesco com regimes de exceção. Nada que não seja o melhor dos mundos porque seria a consagração dos bônus e o estrangulamento dos eventuais ônus.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!