A quadrilha organizada que em maio de 2008 agiu deliberadamente para transformar em simulação o leilão de uma valiosíssima área pública no coração econômico de São Bernardo vai ser desmascarada pelo Ministério Público e pela Procuradoria Geral do Município ou resistirá bravamente às denúncias desta revista digital?
Essa pergunta precisa ser respondida porque a MBigucci, do empresário Milton Bigucci, também presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC, grande articulador daquela investida aos cofres públicos, já está anunciando a comercialização do primeiro empreendimento que ocupará parte daqueles 16 mil metros quadrados entre a Avenida Kennedy e a Avenida Senador Vergueiro. É o Marco Zero, divulgado com pompa e circunstância.
Para quem entende que este jornalista é severo no tratamento desse e de outros casos que envolvem Milton Bigucci e meia dúzia de coronéis econômicos, políticos e sociais da Província do Grande ABC, e que também cai na armadilha defensivista do empresário que se quer fazer de vítima, vou dar um tempo antes de prosseguir com novos parágrafos sobre aquele fraudulento leilão. Vou repassar alguns parágrafos de um artigo publicado na edição desta semana da revista Época, da Editora Globo. Vejam como tenho sido condescendente demais nas definições vernaculares com as estripulias de Milton Bigucci. Tanto estou sendo bonzinho que só agora ele e o grupo que combinou dar um nó na Prefeitura de São Bernardo estão sendo tipificados como membros de uma quadrilha.
Vamos a alguns dos trechos do artigo da revista Época, assinado pelo jornalista Guilherme Fiuza sob o título “Batman e Robin em ação no Supremo”.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli são a prova viva de que a revolução companheira triunfará. Dois advogados medíocres, cultivados à sombra do poder petista para chegar aonde chegaram, eles ainda poderão render a Luiz Inácio Lula da Silva o Nobel de Química: possivelmente o primeiro caso comprovado de juízes de laboratório. No julgamento do mensalão, a atuação das duas criaturas do PT vem provar, ao vivo, que o Brasil não precisa ter a menor inveja do chavismo. Alguns inocentes chegaram a acreditar que Toffoli se declararia impedido de votar no processo do mensalão, por ter advogado para o PT durante anos a fio. Participar do julgamento seria muita cara de pau, dizia-se nos bastidores. Ora, essa é justamente a especialidade da casa. Como um sujeito que só chegou à corte suprema para obedecer a um partido iria, na hora H, abandonar sua missão fisiológica?
Coronelismo intocável
Sem estabelecer necessariamente juízo de valor sobre o texto do jornalista da revista Época, a mensagem que pretendo passar é simples: por muito menos o poderoso senhor do coronelismo provinciano do Grande ABC, Milton Bigucci, foi à Justiça para retirar dos arquivos todas as matérias desta revista digital que façam abordagem sobre suas atividades institucionais e empresariais. Milton Bigucci faz parte daquele grupo que adora bajulação, que transforma colunistas sociais em apadrinhados, que leva os amigos e aqueles que pretende seduzir à mansão de mil noites da qual é proprietário no Guarujá. Sim, frequentam aquela mansão no Acapulco tanto delegados de Polícia quanto gente bem estabelecida nos setores públicos, além de jogadores de futebol já decadentes ou aposentados, gente da mídia, entre tantos. Milton Bigucci é um anfitrião de primeira. Um anfitrião de contrapartidas, é claro.
O grupo por ele organizado e chefiado informalmente para arrebatar a riquíssima área pública (cultuada com adjetivos extraordinariamente comprovadores das denúncias) não pode ser chamado de outra coisa senão de quadrilha. Sugiro, a título de eventual futuro dissabor em novos embates no Judiciário, que Milton Bigucci não tente nova investida contra este jornalista. Não cometeria o desatino de partir para a afirmativa do conceito de quadrilha sem estar recheado de provas e testemunhas. Basta ao Ministério Público e à Procuradoria Geral do Município investigarem o processo em questão.
Um novo desafio
Sugeriria a Milton Bigucci a título de novo desafio uma prova simples: renuncio publicamente a uma função que exerço há quase meio século (mais precisamente iniciada aos 14 anos de idade, em Araçatuba, na revista Cinelândia) se num embate público para convidados que bem entender, não comprovar documentalmente que aquele ajuntamento para adquirir terreno público privilegiadíssimo não foi uma transgressão com múltiplas faces. Faço esse repto publicamente para liquidar de vez com quaisquer contrainformações que procurem desclassificar um profissional de comunicação que insiste em fazer do jornalismo atividade respeitável.
Quando um especialista em leilão de propriedade pública se debruçar sobre o caso que gerou o Marco Zero, vai constatar mais irregularidades ainda, a configurar não só total desrespeito à legislação vigente como, principalmente, alto grau de maliciosidades que culminaram num arremate por valor comercial muito abaixo (menos da metade, segundo especialistas) do mercado imobiliário de então.
Aliás, não foi por outra razão, ou seja, para gozar das vantagens de uma ação de quadrilha, que Milton Bigucci jamais se interessou em democratizar mesmo entre os poucos colaboradores da Associação dos Construtores a realização daquele evento. Tratou-se de uma ação entre amigos, literalmente de meia dúzia de parceiros de negócios que se fingiram interessados porque compareceram apenas para dar cobertura ao lance pouco acima do valor venal por si já bastante aquém da realidade do mercado.
O caradurismo de Milton Bigucci à frente da MBigucci ao anunciar em rico material promocional o lançamento do Marco Zero sugere a este jornalista algo como a certeza absoluta de que permanecerá intocável. Dá-se a impressão que Milton Bigucci está tão certo de que conta com ampla e total proteção de forças institucionais, além do silencio desavergonhado da mídia, que nada o obstará. A própria escolha da grife do empreendimento (não é para qualquer um sacar um Marco Zero sem deixar de repassar a certeza de que carrega nas cores da arrogância) conduz a ilações de ampla e total neutralização de ações decorrentes das denúncias de CapitalSocial.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!