A organização social voltada à melhoria da qualidade de vida em tudo que estiver relacionado ao cotidiano urbanístico da Província do Grande ABC começa a ganhar força. Os primeiros contatos entre profissionais de várias áreas que se interessam pelo movimento já se estão estabelecendo. Os primeiros acordes dessa orquestração em favor da vida e da transparência por trás dos tons de cinza da selvageria ocupacional da região dão mostras de que há mais gente insatisfeita do que pensávamos. O chamado xerifão do urbanismo parece que está mesmo ganhando corpo e alma. Não faltará combustível social para embalar a produção de novo paradigma regional que centralizará fogo e propósitos no ambiente urbano que respiramos.
O alinhavar de planos estatutários e mesmo o encaminhamento criativo de uma denominação forte começam a ganhar algumas formas. E, surpreendentemente para acredita que a instituição seria de oposição ao mercado imobiliário tão maltratado, tão viciado e tão vilipendiado, vai cair do cavalo.
Agentes imobiliários (construtores, incorporadores e imobiliárias) serão bem-vindos à organização entre outras razões porque não estão contemplados por qualquer instância organizacional. Muito pelo contrário: estão barrados ou abandonaram o baile.
Não teria cabimento barrar gente que conhece bem o mercado imobiliário. A maioria já é vítima de discriminação e descaso da Associação dos Construtores do Grande ABC, entidade mequetrefe comandada pelo ilusionista Milton Bigucci. Ninguém pode ser excluído duplamente da atividade social. Construtores, incorporadores e imobiliárias que abandonaram ou jamais se integraram à entidade manipuladora de Milton Bigucci serão bem-vindos porque, como toda a sociedade, também são vítimas de uma organização que cuida dos interesses de alguns poucos em detrimento da comunidade como um todo.
Embora ainda tenha algumas reservas sobre a velocidade e a intensidade à formação do instituto que cuidará com mais zelo, carinho e responsabilidade da ocupação do solo na Província do Grande ABC, bem como das consequências dessa ocupação, sou otimista por natureza. Como o movimento ganhou alguns nomes que já construíram ativos de envolvimento social, tenho cá comigo que o fio da meada da coalizão de interesses assemelhados já está à mão; basta destrinchá-lo.
O fato é que a sociedade da Província do Grande ABC, morta e enterrada em assuntos que dizem respeito ao coletivo, precisa reagir. Os abusos cometidos nos últimos tempos sobre o solo regional são estarrecedores. Isso quando nos referimos aos escândalos conhecidos. Imaginem então o que fica submerso na cumplicidade de empresários bem posicionados na estrutura sócio-política e agentes públicos mal intencionados. A grande maioria dos empresários do setor imobiliário é continuamente prejudicada pelos bajuladores e financiadores dos ocupantes de poderes públicos.
Ou alguém sinceramente acredita em bom-mocismo entre as partes, quando se sabe que o mercado imobiliário dos grandes players é o maior financiador, regular e por baixo dos panos, das campanhas eleitorais? Raramente alguém financia candidato ou partido sem a contrapartida previamente assegurada ou posteriormente garantida. E quem paga a conta é a sociedade como um todo porque dinheiro não nasce em árvore.
Exemplos na Capital
Enquanto a Província do Grande ABC tem dado um show de alheamento aos desbundes imobiliários, a Capital do Estado, nossa vizinha São Paulo, Cinderela de nosso Complexo de Gata Borralheira, reproduz seguidos exemplos de engajamento em causas nobres. Aliás, foi a sequência de descalabros na Província e os casos de reação de paulistanos que nos levaram a sugerir uma entidade-xerife para colocar um mínimo de ordem na bagunça regional, já que os leões da arena são por demais vorazes e dominadores do cenário de irregularidades.
O jornal Estadão publicou quarta-feira uma matéria mais que estimulante sobre a reação contra os abusos em nome de desenvolvimento seletivamente engendrado pelos mercadores imobiliários. Sob o título “Moradores barram condomínio em área verde do Morumbi”, o jornal produziu uma reportagem redentora para quem acha que nem tudo deve ser permitido em nome de interesses econômicos no mínimo desumanos. Reproduzo os principais parágrafos daquela matéria:
Acionada por um grupo de moradores reunidos na Associação Amigos do Jardim Morumbi, a Prefeitura de São Paulo vetou a construção de megaempreendimento imobiliário em uma das últimas áreas de preservação do bairro da zona sul. Por meio de uma permuta com a Congregação das Irmãs Franciscanas, dona das terras ao lado do Colégio Pio XII, a Cyrela queria alvará para construir 111.587 metros quadrados – espaço suficiente para erguer pelo menos oito torres residenciais e 1.200 vagas de garagem, segundo especialistas do mercado imobiliário. O pedido da incorporadora foi indeferido em definitivo pela Prefeitura no dia 12 de janeiro. Caso o empreendimento fosse aprovado, as Irmãs Franciscanas seriam parceiras da Cyrela em um futuro projeto imobiliário. O terreno onde havia o pedido para “edificação nova” em trâmite no governo municipal desde 2008 soma, ao todo, 127 mil metros quadrados, é coberto por mata nativa e fica entre o Colégio Pio XII e a Marginal do Rio Pinheiros. (...). “Acabaram com a mata ao redor do Panamby e queriam agora acabar também com a floresta que restou entre o Pio XII e o Rio Pinheiro”, afirma Sérgio Gottahilf, de 58 anos, presidente da Associação Amigos do Jardim Morumbi. Os moradores reunidos na entidade levaram à Secretaria Municipal de Habitação mapas, cópias de leis e fotos que mostram a presença de 59 espécies de árvores e de plantas originárias da Mata Atlântica no terreno que pertence às Irmãs Franciscanas—escreveu o Estadão, entre outros parágrafos.
Participação e transparência
Enquanto na Capital esse é apenas um dos casos de intervenção de grupos organizados contra a algazarra imobiliária, na Província do Grande ABC a realidade é completamente distinta. É contra a covardia e as conveniências institucionalizadas que sugeri a criação de uma entidade-xerife, no sentido fiscalizatório do termo, mas não apenas isso: a organização se levada adiante vai interferir decisivamente na produção de mecanismos que humanizem e deem transparências a tudo que emergir dos guetos públicos relacionados ao uso e ocupação do solo. Não faltam empreendedores imobiliários ávidos por tamanha novidade porque eles se sentem excluídos de qualquer processo transparente de definições que passam por corredores públicos.
Com essa instituição ativa, casos vergonhosos como do Semasa, do Residencial Ventura, da Cidade Pirelli, da Tognato, do Marco Zero, entre tantos outros, seriam reconfortantes recordações de um passado superado.
A propósito desse movimento de responsabilidade de uso e ocupação do solo, sugiro a leitura do texto linkado abaixo, que preparei para a Associação dos Construtores do Grande ABC como resposta a qualquer tentativa de insinuar-se que estou na praça apenas pronto a atirar pedras, como é comum a resposta dos malfeitores que se acham perseguidos por este jornalista. Sabia que aquela entidade, uma fantasia organizacional, jamais aplicaria qualquer uma das propostas, porque é da natureza de quem a comanda o objetivo exclusivo de perpetuar-se naquele poder e com isso influenciar nos bastidores administrativos públicos com o peso, mesmo que falso, de uma organização coletiva que, de fato, não passa de meia dúzia de parceiros diretos ou indiretos de negócios.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!