Os jornais da Província do Grande ABC anunciaram ontem com destaque mas novamente sem a análise contextual necessária que o número de assassinatos no primeiro bimestre deste ano disparou 32,5% em relação ao período de janeiro e fevereiro do ano passado. Morreram na região 26 pessoas até o final de fevereiro, ante 19 no ano passado. Fichinha, fichinha perto do que os registros apontam quando passamos por tempestades econômicas associadas ao total desleixo do governo do Estado no tratamento da criminalidade em geral.
Sugiro aos leitores que se sentem para não caírem do andaime e se estiverem sentados que se levantem em luto tardio mas nem por isso inútil ante os números que vou expor para dizer o que pretendo dizer mais adiante.
Sabem quantos assassinatos chegaram a ocorrer em finais de semana nos últimos anos da década de 1990 e no começo dos anos 2000 na Província do Grande ABC? Estou me referindo a assassinatos num final de semana, não durante um mês, ou dois meses, como os números apontam agora nesta temporada e em temporadas recentes.
A resposta é chocante e ajuda a explicar o que os ignorantes de pai e mãe, os mal informados por conta de notícias vadias e os desinformados por desinteresse qual é a verdadeira origem e o desfecho do assassinato do prefeito Celso Daniel. Como sabem, o caso Celso Daniel é um assunto sobre o qual já escrevi tanto que perdi a conta de centenas de milhares de caracteres que constam dos arquivos desta revista digital.
Então vamos deixar de suspense para atingir o centro do alvo da revelação: num único final de semana em fevereiro de 2000, num dos muitos casos que se repetiam indefinidamente, foram assassinadas 27 pessoas. Um recorde até então sobre outros finais de semana. Foram mesmo 27 assassinatos. O Diário do Grande ABC de 22 de fevereiro de 2000 estampou a seguinte manchete de página interna: “Recorde de homicídios na região”.
Facilidades para matar
Matar na Província do Grande ABC era tão corriqueiro quanto o esvaziamento industrial ditado pela macroeconomia e também pelos vieses do governo Fernando Henrique Cardoso. A diferença é que os dados estatísticos de criminalidade eram revelados com rapidez, enquanto o vazamento da riqueza produtiva demorava a configurar-se tecnicamente. Entretanto, bastava conhecer um pouco a geoeconomia local para saber que aquelas manchetes, principalmente do mesmo Diário do Grande ABC, que procuravam negar a desindustrialização, não passavam de embromação para tentar artificializar um ambiente de otimismo.
A associação de criminalidade em alta e economia forte só cabia mesmo em cabeças vazias porque é mistura insustentável, como água e óleo, como civilidade entre torcidas organizadas desprotegidas de forças policiais.
Sabem lá os leitores o que são 27 assassinatos num único final de semana? Uma barbaridade tão grande que agora, 13 anos depois, quando se tem praticamente o mesmo número, mas relativo a dois meses corridos, cria-se um estado de alerta. E tem de se criar mesmo, porque mesmo com o rebaixamento sumário de casos fatais, ainda sofremos um bocado com o empilhamento de cadáveres. Ainda mais que esses números (e isso é tema para ordens abordagens) mascaram de alguma forma o estado de ânimo principalmente nas periferias desprotegidas, onde matar já não se mata com a frequência de antes, mas viver com qualidade de vida de verdade é outra coisa.
Celso Daniel sacrificado
Quem contribuiu para mudar a história da criminalidade no Estado de São Paulo, ante a queda de assassinatos generalizada ao longo dos anos 2000, foi a morte de Celso Daniel.
Sim, o então prefeito de Santo André foi sacrificado de forma violenta e integralmente de acordo com as apurações policiais para que as autoridades públicas do Estado de São Paulo se coçassem para empreender uma grande reviravolta. Mais que a troca nominal de secretário de Segurança do Estado, pesou o novo estilo do titular alçado ao cargo. Saiu um promotor criminal e entrou outro, mas a política de Direitos Humanos legada pelo então já ex-governador Mario Covas foi literalmente para o espaço com o então (e novamente titular do Palácio dos Bandeirantes), Geraldo Alckmin. Aposentou-se a cartilha de Direitos Humanos e lançou-se a cartilha dos Direitos Compartilhados. O que são Direitos Compartilhados? Também fica para outro dia, qualquer dia, porque é questão pesadíssima e tem tudo a ver com mercados paralelos. Se é que me entendem.
Pinçar e confrontar números de assassinatos de um final de semana do passado e comparar como os dados de agora não é uma ação seletiva. São fundas as diferenças entre a medição da qualidade de vida destes tempos em relação ao período mais destrutivo que a região viveu.
Antes da morte de Celso Daniel e dos efeitos políticos, partidários e principalmente de segurança pública dos paulistas, tínhamos a industrialização de carnificinas.
Enquanto no ano passado toda a Província do Grande ABC registrou 348 assassinatos, em 2001, ou seja, pouco tempo antes do sequestro seguido de morte de Celso Daniel, foram contabilizados 1.248 casos, conforme dados da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análises de Dados). Mas aquele 2001 estava longe do fundo do poço, porque em 2000, os casos atingiram 1.485 vítimas. Menos, entretanto, que os assassinatos em anos anteriores, 1994 e 1995, quando chegamos a ultrapassar 1,5 mil cadáveres.
Melhoramos bastante
O ambiente criminal na região quando se considera o quesito assassinatos, que é o mais confiável entre todos porque não existe subnotificações, melhorou fortemente entre 1999 e 2011, período sobre o qual colocamos uma lupa para produzir o índice relativo ao G-20, conforme matéria que segue abaixo em link. Já estivemos no fundo do poço em atentados à vida entre os 20 municípios mais importantes do Estado.
A São Caetano que caiu na retórica eleitoral de que é um território que pouco se diferencia da Região Metropolitana de São Paulo, é um paraíso que ocupa a liderança do G-20 com taxa de apenas 1,99% de homicídios para cada grupo de 100 mil moradores. Coisa de Primeiro Mundo. Diadema ocupa a nona posição com 8,97% de índice, bem abaixo dos 102,82% de 1999, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado transplantados para o G-20. Santo André ocupa a 11ª posição com 9,68%, ante 39,43% em 1999, enquanto Mauá é a 13ª colocada (10,85% ante 51,94%) e São Bernardo a 15ª (11,10% ante 51,19%).
De maneira geral, melhoramos consideravelmente no G-20 nos 12 meses que se encerraram em dezembro de 2011 ante período semelhante de 2010: rebaixamos em 83,12%, em média, os casos de homicídios nos cinco municípios locais que integram o agrupamento, ante 68,43% da média dos 15 municípios que completam a lista.
Vamos providenciar para os próximos dias a atualização do ranking do G-20. Certamente tivemos estabilidade de posicionamento e uma queda relativa dos indicadores dessa tipologia criminal porque o bicho andou pegando na temporada passada em todo o Estado. Embora lidere o ranking nacional de qualidade de vida criminal, os paulistas ainda estão longe de comemorar definitivamente valores humanos de Primeiro Mundo. Província do Grande ABC incluída.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!