Vou apresentar amanhã nesta revista digital um documento preparado há exatamente 10 anos e que não foi aplicado porque o caso Celso Daniel provocou estragos administrativos na gestão petista e o que se seguiu, como se sabe, foi uma sucessão de improdutividades que só aumentam a saudade daquele prefeito. Trata-se do que chamei de “Proposta para os negócios de turismo em Santo André”. Consegui encontrar o material em meu arquivo físico, depois de intensa busca. Deu-se a decisão por conta do que li no Diário do Grande ABC de ontem.
O que li no Diário do Grande ABC de ontem é que o secretário de Cultura e Turismo Raimundo Salles pretende criar um Conselho Municipal de Turismo para dinamizar o Município. Como já conheço de cor e salteado esse enredo, que não se limita a Santo André, e certo de que a dependência de recursos financeiros de terceiros, do governo do Estado e do governo Federal, é uma solução paliativa, quando em solução se transforma, não perdi tempo em busca daquela proposta que elaborei em abril de 2003. Tudo por conta de uma iniciativa do então vereador e ex-supersecretário da Prefeitura de Santo André, Klinger Sousa, quando decidiu organizar uma Audiência Pública para debater diretrizes ao desenvolvimento do turismo em Santo André.
Lembro-me que ao ser convidado ao encontro, dediquei-me durante algumas horas na preparação de um texto que vai muito além de um voo crítico do jornalista. Ali estão as marcas do comprometimento com a viabilidade do projeto. Essa é a diferença que me separa de tantos outros jornalistas e que deixa furiosa uma pequena mas barulhenta torcida de opositores acomodados, quando não prevaricadores.
Colaboração para todos
Acredito que a publicação daquela proposta sem a mudança de uma vírgula sequer (são 24 mil caracteres) é uma colaboração não só para a gestão de Raimundo Salles na secretaria de Santo André como também aos demais titulares de espaços semelhantes nas demais administrações municipais da Província do Grande ABC.
Ainda ontem à noite, após a localização do trabalho que descansava havia uma década na pasta “Turismo Santo André”, reli parágrafo por parágrafo e cheguei à conclusão de que está mais atualizado que nunca. E a execução depende exclusivamente de vontade política. E quem melhor para empreender uma liderança que poderia se espraiar por toda a região senão Raimundo Salles?
Inteligente, dedicado, protegido pela mídia regional depois de bandear-se de mala e cuia em direção a um adversário que parecia inconciliável, no caso o PT, Salles goza de todas as prerrogativas estruturais e contextuais para não passar pela história de Santo André como um secretariozinho qualquer. Muito pelo contrário. Seriam muita burrice e perda do senso de oportunidade se Raimundo Salles não fizesse da parceria com o PT algo significativo em sua carreira política.
Raimundo Salles é maior que a secretaria que lhe deram, de orçamento baixíssimo e visibilidade duvidosa. Entretanto, poderia inverter a avaliação e tornar-se menor que uma secretaria de baixa aderência popular se não revolucionar o conceito no setor. E a proposta que apresentei há uma década tem o condão de remeter o secretário da área a uma esfera muito além da imaginada. Basta querer e sensibilizar o chefe do Executivo.
Apenas para que os leitores tenham uma ideia do que trato na “Proposta para os negócios de turismo em Santo André”, reproduzo os primeiros parágrafos do material:
Financiamento garantido, descentralização de diagnósticos, concentração de decisões, enraizamento popular – eis alguns dos aspectos vitais para a construção de um ambiente de negócios de turismo no Grande ABC que rompa os conservadores paradigmas que cercam a atividade. Esse é o resumo do que poderia apresentar de proposta preliminar para a composição do Comtur (Conselho de Turismo de Santo André) e que, basicamente, serviria individualmente aos demais municípios da região e também ao conjunto do Grande ABC.
Primeiro, o material
Decidi que não vou escrever nada que avance o sinal de escancaramento daquela proposta. Na edição de amanhã reproduzirei o material do primeiro ao último parágrafo. E, quem sabe, no dia seguinte, venha a preparar mais alguns pensamentos, de forma a retirar eventuais dúvidas dos leitores.
Certo mesmo é que ao me meter mais uma vez numa seara que o convencionalismo conservador reservaria apenas a quem ocupa cargos públicos, fico na expectativa de que a inteligência de Raimundo Salles seja maior que eventual veleidade egocêntrica. Nada que seja diferente da maioria, porque a atividade pública tem uma lastimável tendência de sufocar iniciativas que publicamente tenham origens diversas, não da própria lavra de seus representantes.
Espero, sinceramente, que o cada vez mais vaselínico Raimundo Salles não tenha perdido o foco do pragmatismo com que usualmente se apresentou na vida pública e analise com atenção a proposta que será democratizada aos leitores na edição desta quinta-feira. O neologismo “vaselíneco” que atribuo a Raimundo Salles é sintomático da generosidade postiça que desfila nas entrevistas. Algo que não tem nada a ver com o perfil bélico e inconformista de tantos e tantos anos de batalhas.
A domesticação de Raimundo Salles é uma imposição captada nas pesquisas qualitativas a que se submeteu como político e não difere da postura da maioria dos agentes públicos. Acho que no fundo no fundo todos eles sofrem um bocado. Afinal, precisam dar murros em portas e paredes domésticas para desabafar no particular o que as pesquisas indicam não ser aconselhável na vida pública. Exceção, claro, ao período de disputa eleitoral, quando não há limites a ofensas e ilações.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!