Sociedade

Por que analisar uma pesquisa de
Instituto fantasminha? Idiotice pura

DANIEL LIMA - 11/06/2013

Assumo porção individual de idiotia – que os inimigos dizem ser preponderante – e vou me meter a analisar alguns novos resultados do DGABC Pesquisa, o instituto fantasminha que o Diário do Grande ABC criou no ano passado e, quando tudo parecia crer que morto estava, eis que volta todo faceiro. O que fez o DGABC que ninguém conhece? Avaliou os cinco primeiros meses dos prefeitos da Província do Grande ABC. Na realidade, no caso de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, foram 53 meses, já que vem de 48 do primeiro mandato. O jornal preferiu ignorar a diferença e botou todos no mesmo saco, como se houvesse um muro a separar os sentimentos da população de São Bernardo entre o final do primeiro mandato e o começo do segundo.


 


Construir sentenças avaliativas sobre resultados do DGABC Pesquisas tem o mesmo sentido que analisar um jogo de futebol com base em comentários de terceiros. É difícil estender-se com a confiança de que não se está mergulhando num pântano. A publicação que sustenta o instituto simplesmente agride a inteligência dos leitores ao sonegar informações básicas sobre a origem daqueles números, bem como os responsáveis pelo trabalho, situando-os num campo de verificação do currículo. Algo que se repete, porque no ano passado, durante a campanha eleitoral, fizemos as mesmas objeções e, mais que isso, reprovamos a atuação do DGABC, que cansou de errar no campo de batalha de sondagens de votos que seriam depositados para valer nas urnas eletrônicas.


 


Uma das bobagens interpretativas da pesquisa é comparar os números de agora aos da reta de chegada da disputa eleitoral do ano passado. Nada mais estúpido, convenhamos, porque uma coisa é uma coisa (um começo de mandato, com os ânimos serenados, o obaoba mais cristalizado) e outra coisa é outra coisa (uma reta de chegada quentíssima, repleta de guerras de guerrilhas). Pior que a comparação é dar ênfase à comparação. Confrontar os números do então prefeito José Auricchio Júnior de final de mandato com os números de início de mandato de Paulo Pinheiro é o fim da picada, tanto quanto de Aidan Ravin com o de Carlos Grana, entre outros.


 


Dúvidas e imperfeições


 


Por mais que tenha lido os textos do Diário do Grande ABC, não consegui entender com a garantia de que não estaria cometendo erro qual foi o caminho que conduziu às notas médias de cada prefeito.  Sei que foram entrevistados 400 eleitores em cada um dos municípios, com margem de erro de cinco pontos percentuais. Se cada entrevistado atribuiu uma nota de 0 a 10 ao respectivo prefeito (pelo resultado final, acredita-se que valeram notas quebradas, além da vírgula) e se o conjunto sustentou a média final, tudo bem. Parece o mais lógico, mas não está claro. E não está claro porque o Diário do Grande ABC simplesmente e mais uma vez se recusou a apresentar um perfil do DGABC Pesquisas e da metodologia utilizada. Diferentemente de todos os institutos de pesquisas consagrados no País.


 


Ainda sobre essa questão, o que pergunto é o seguinte: qual foi o enunciado que levou cada entrevistado a atribuir a respectiva nota ao prefeito de plantão?  Qual é o enunciado exato? Seria algo como: “De 0 a 10, que nota você atribui ao prefeito Carlos Grana?”. Há tantas maneiras de perguntar e tantas possibilidades de obterem-se respostas com base na pergunta elaborada que não há como negar a importância de enfatizar o enunciado como decisivo às respostas.


 


Também fiquei encafifado com o critério de avaliação (ótimo, bom, regular, ruim, péssimo, não sabe) porque me leva a conjecturar o seguinte: teria sido conclusivo em função da nota dada por cada entrevistado ou havia no formulário da pesquisa um campo específico à explicitação da qualidade da administração municipal? O que veio primeiro em termos de entrevista, a indagação sobre a avaliação do prefeito (com a respectiva qualificação) ou a nota? Ou a pergunta teria sido apenas uma (que nota daria...) com consequente conclusão da qualificação da atuação do prefeito com base em suposta grade sustentada por notas qualificativas?


 


Há outros pontos que anotei para oferecer em forma de crítica uma colaboração à melhoria do trabalho de pesquisa. Valeria a pena relacioná-los quando se sabe que o DGABC é quase uma abstração? Como sou idiota confesso, sigo em frente para dizer que as notas médias atribuídas a cada prefeito são notas mais que manjadas e os situam no estrato destinado aos medíocres. Menos os seis prefeitos que mal tiveram tempo de sentar nos gabinetes, porque cinco meses não são nada, mais o prefeito Luiz Marinho, em segundo mandato e portanto com tempo suficiente para sair da pasmaceira em que se meteu.


 


Resultados secundários


 


O universo da pesquisa é tão restrito – por isso mesmo a margem de erro é de cinco pontos percentuais – que praticamente desclassifica resultados secundários expostos pelo jornal de forma peremptória. Caso da avaliação do eleitorado que votou em outros candidatos em outubro do ano passado.


 


Vou tentar explicar: se existe elasticidade bastante pronunciada de cinco pontos percentuais nos resultados finais com 400 eleitores, imaginem quanto seria a margem de erro dos eleitores de Raimundo Salles, por exemplo, embutidos nos resultados, ou de Alex Manente em São Bernardo, ou de Vanessa Damo em Mauá?  Quantos dos 400 eleitores entrevistados seriam representantes dos concorrentes não eleitos e quanto isso significaria de esboroamento estatístico?


 


Vou tentar avançar um pouco mais na prática para tentar explicar o que quero dizer com isso e o que pretendo transferir aos leitores. Imagine um universo de não mais que 40 eleitores de um total de 400 entrevistados que votaram em Raimundo Salles. Como esses 40 eleitores poderiam determinar as conclusões enunciadas pelo Diário do Grande ABC sobre a atuação de Carlos Grana em relação ao conjunto de eleitores de Raimundo Salles que foram às urnas em outubro do ano passado?


 


Datafolha bem diferente


 


Acho que o Diário do Grande ABC faz do DGABC Pesquisas um instrumento de marketing. Nada contra, porque o Datafolha também é isso para a Folha de S. Paulo. A diferença é que o Datafolha não é um instituto temporão e muito menos voltado exclusivamente ao campo político-eleitoral. Sem contar que tem metodologia, equipes de trabalho, respaldo institucional e tudo o mais forjados ao longo dos tempos com absoluta transparência. Seus dirigentes sabem que correm o risco da desqualificação ante-eventuais tropeços suspeitos. O DGABC é a obscuridade que estimula a desconfiança, que nutre sentimentos poucos nobres, que causa inquietação sobre a realidade dos fatos. Ou seja, um encadeamento nada nobre. E isso é péssimo porque poderia ser um agente importantíssimo à tomada de pulso da Província do Grande ABC em variados estudos, porque não faltam dúvidas a dirimir, fatos a confirmar, mistificações a demolir.


 


A classe política que o Diário do Grande ABC ouve na sequência dos números estatísticos apresentados na edição de domingo sabe que não pode deixar de tirar uma casquinha dos adversários para justificar as frustrações reveladas ou para cobrar promessas de campanha. É nessa roda viva de inutilidades que naufragamos. Questões essenciais à retomada do desenvolvimento regional exageradamente dependente do setor automotivo seguem esquecidas.


 


Nossos administradores públicos se especializaram em promessas cada vez mais rocambolescas e em ações varejistas festejados pela quantidade, não pela qualidade transformadora. Por isso, não passam mesmo de medíocres. Uma conclusão que dispensa as notas do DGABC Pesquisas, tal o grau de explicitude factual. Seria de lascar se os resultados da pesquisa fossem outros. 


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