Sociedade

Um decálogo para passar a limpo
a podridão que domina Província

DANIEL LIMA - 20/06/2013

Não resisto à ideia de puxar a sardinha dos rescaldos de manifestações que acabaram de abalar o País para a brasa da realidade do território regional. E o faço com a agenda de mudanças formulada mesmo às pressas. Ainda reajo no embalo do movimento que botou políticos e legisladores de quatro e que certamente não se esgotou com a redução de tarifas de transporte público, entre outros motivos porque o setor é uma caixa-preta de comprometimentos espúrios. 

 

Na realidade, mesmo às pressas, o que se segue em forma de sugestões a eventuais engajamentos de manifestantes preocupados com o fato de o Grande ABC ter virado Província do Grande ABC é um apanhado incompleto do quanto tenho produzido de informações e interpretações ao longo dos anos. Uma pregação que parecia idiotice até outro dia -- mas que agora, pós-esculhambação das instituições políticas por manifestantes que cansaram de esperar por inalcançáveis resultados institucionais, tornou-se menos onírica e patética.

 

Vou deixar de lado apenas por questão de racionalidade uma porção de questões possivelmente secundárias mas nem por isso desimportantes. A agenda não pode ser extensa demais porque dispersaria o foco que deve se concentrar em pontos cuja influência no emaranhado social é altamente danosa.

 

Vamos elencar o que seria um decálogo de medidas a serem esgrimidas por forças sociais à margem da institucionalidade formal comprovadamente divorciada de perspectivas profiláticas que se exigem para colocar a Província mais ou menos na rota de recuperação que já tarda.

 

Também está fora de qualquer projeção transformadora a participação de entidades de classe mais que alinhadas ao que encontramos de inutilidades no território regional. São gatos pingados cristalizados em instituições que não viram o tempo passar pela janela do inconformismo da sociedade e que ainda se apresentam como representativas de setores que, de fato, lhes voltam as costas. São representantes deles mesmos, falam por eles mesmos, por seus interesses geralmente privados, travestidos de bons samaritanos corporativos e sociais. 

 

Possivelmente nos próximos tempos venha a me deter sobre a especificidade dos quesitos que se seguem, porque não faltarão predadores de plantão que se aproveitariam da síntese destas propostas para deturpar o conjunto da obra. Essa é a velha e antiquada linguagem ocupacional de segmentos da sociedade que ainda se imaginam importantes. Ou se imaginavam importantes -- até que as ruas fossem tomadas de indignação e revolta.

 

O movimento que acabou de ganhar as ruas possivelmente refluirá porque atingiu intensidade mais que inesperada, mas por mais que retroceda em ímpeto, certamente não se rivalizará com a inapetência das instituições sociais mais tradicionais cujos comandos seguem envelhecidos mesmo sob alguns casos de novas gerações. As entranhas que os geraram legaram cromossomos igualmente conservadores.

 

Vamos então ao decálogo cuja interpretação mais detalhada, repetimos, ficará para outra oportunidade, em formato individualizado para cada enunciado.

 

 Transparência total dos gestores públicos em encontros com representantes da sociedade para prestação de contas geral e temática dos respectivos mandatos, eliminando-se a via única de esquemas de marketing de dados e informações sob o silêncio crítico e o estardalhaço servil de boa parte da mídia engessada pelo estrangulamento financeiro.

 

 Abertura completa das planilhas da Fundação do ABC, cujo orçamento superior a R$ 1 bilhão, regado por dinheiro público, é uma fonte mais que evidente de distorções e irregularidades, encoberta por pelotões partidários antagônicos da boca para fora e consistentemente autoprotetores.

 

 Reformulação completa dos referenciais metodológicos que lubrificam a indústria da traquinagem do setor imobiliário, uma das maiores fontes de financiamento espúrio de campanhas eleitorais, adotando-se entre tantas deliberações medidas para impedir a verticalização insana que intensifica o desastre do sistema de mobilidade urbana.

 

 Abertura das planilhas das relações contratuais entre empresas privadas e o setor público na área de transporte coletivo, outro ramal mais que manjado de incorreções e abusos que desvirtuam os conceitos de democracia ao favorecer concorrentes mancomunados com os donos do poder político.

 

 Acompanhamento minucioso dos gastos de autarquias públicas, notadamente no setor de água e saneamento, impondo-se faxinas principalmente nos relacionamentos com fornecedores que também podem ser chamados de parceiros de negócios nada republicanos.

 

 Transparência total das relações entre prefeituras e os mais diferentes fornecedores de serviços e produtos das áreas mais demandadoras de recursos financeiros carimbados, casos de saúde e educação.

 

 Acompanhamento técnico independente da cadeia de custos de coleta e transporte de lixo, outra ramificação delituosa na geração de valores completamente fora da realidade prática das operações.

 

 Apresentação sistemática nas páginas de Internet das respectivas prefeituras do estoque de terrenos sujeitos a leilões públicos por conta de dívidas dos proprietários e, adicionalmente, de ampla divulgação dos eventos que visem a transferência de propriedade.

 

 Acompanhamento permanente da produção de indicadores econômicos e sociais que envolvam os municípios locais e também a região, de forma a evitar que manipuladores de plantão vendam gato por lebre aos consumidores de informação.

 

 Acompanhamento minucioso dos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na Província do Grande ABC, bem como de outros programas que envolvam municipalidades locais e instâncias governamentais do Estado e da União, além de recursos financeiros internacionais.

 

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