Uma boa notícia para o Grande ABC, mas que de forma alguma pode ser transformada em triunfalismo porque não passa, provavelmente, de espasmo circunstancial: o setor industrial da região (sem contar a pequena e não capturada estatisticamente Rio Grande da Serra) registrou no ano recém-terminado -- contabilizado até novembro último pelo Ministério do Trabalho e Emprego -- um saldo de 3.029 postos de emprego. O resultado é alvissareiro, porque quebra rotina de perdas dos últimos anos. Já nos últimos 35 meses -- de janeiro de 2001 a novembro de 2003 --, obtivemos saldo de 435 empregos industriais com carteira assinada, o que elevou o estoque de mão-de-obra do setor produtivo a 195.554 postos. Praticamente 100 mil empregos a menos no confronto com 1990, quando a região contabilizava 294.767 carteiras assinadas em atividades industriais. Ou 81.058 mil trabalhadores desligados de nossas fábricas em comparação com 1994; ou seja, antes da chegada do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Apesar da recuperação nos 11 meses do ano passado, o desempenho do emprego formal nas indústrias do Grande ABC está longe do ideal. Menos mal -- e isso é muito importante -- que tenha havido não só o estancamento de uma hemorragia persistente como, também, o vermelho sempre inquietante tenha cedido ao azul de vagas oportunas. As 435 vagas de saldo de emprego industrial com carteira assinada em 35 meses significam apenas 32% do total alcançado pelo G-3, formado por São José dos Campos, Campinas e Sorocaba, municípios que, somados, têm praticamente a mesma população do Grande ABC. Para ser mais preciso, 10% menos.
Nada surpreendente, em realidade, porque, como se sabe, o eixo da produção industrial deslocou-se para aquelas três regiões metropolitanas. Talvez o saldo de São José, Campinas e Sorocaba seja visto até como modesto, mas convém ressalva importante: a tendência dos três municípios é cederem espaços econômicos a seus respectivos entornos, dos quais usufruem a condição de centro de metrópoles. Contrariamente, portanto, à situação do Grande ABC, periferia da Capital tão vizinha quanto monopolizadora das atenções.
Ainda comparando o G-7 (Grande ABC) com o G-3 (Campinas, São José dos Campos e Sorocaba), quando se projeta o confronto do saldo de empregos formais dos setores de comércio e de serviços com os industriais, mais se cristaliza o terciarismo de nossa região. Comércio e serviços do Grande ABC geraram saldo de 32.206 empregos formais nos 35 meses analisados, contra apenas 435 empregos industriais. Ou seja: para cada 100 novos trabalhadores do terciário do Grande ABC, abriu-se o equivalente a 1,36 vaga na indústria. Em contraposição, o G-3 criou 27.454 empregos de comércio e serviços com carteira assinada, contra os já revelados 1.344 industriais. Para cada 100 postos de trabalho do terciário foram contratados 4,89 trabalhadores industriais em Campinas, São José dos Campos e Sorocaba.
Só Ribeirão Pires perde
Exceto Ribeirão Pires, que perdeu 12 empregos industriais formais entre janeiro e novembro do ano passado, os demais municípios da região puderam comemorar: Mauá registrou saldo de 227, Diadema de 1.188, São Caetano de 164, São Bernardo de 954 e Santo André de 508. Já quando se estica o período de análise para os 35 meses deste novo século, São Caetano e São Bernardo seguem no vermelho -- a primeira com déficit de 449 postos de trabalho e a segunda com 1.573. Mauá lidera o saldo com 1.261, contra 1.117 de Diadema, 852 de Santo André e 227 de Ribeirão Pires.
Uma das conclusões a que se é possível chegar depois dessa breve exposição, quando mal apanhei os dados no Ministério do Trabalho e Emprego -- sempre com a assessoria da faz-tudo Eliane Souza, ex-patrulheira mirim que virou estudante de jornalismo --, é que se delineia no espectro regional uma consolidada possibilidade de o emprego industrial formal finalmente ter chegado ao fundo do poço e, portanto, se estabilizado e de, agora em diante, mesmo sem a ocorrência de novos investimentos, manter-se seguramente num patamar próximo de 200 mil postos de trabalho.
Visto por esse ângulo, menos mal, porque nossa estrutura socioeconômica é extremamente dependente da capacidade de transformação industrial solapada em 39% durante os oito anos do governo FHC. O drama é de outra espécie: o rendimento dos trabalhadores continua a sofrer fortes reduções não só por causa dos efeitos inflacionários como, principalmente, da rotatividade de uma mão-de-obra em lento e gradual processo de desmanche de conquistas trabalhistas de um passado autárquico. O limite dessa operação de diminuição de custos salariais é a premência da qualidade que, como se sabe, não combina necessariamente com precarização salarial.
Destrinchando os números
Acompanhem com atenção o saldo de empregos formais nos 35 meses desse novo século, entre janeiro de 2001 e novembro do ano passado, dos sete municípios do Grande ABC, de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e também de São Paulo. A diferença da soma dos números que serão apresentados decorre de perdas e ganhos de emprego em outras atividades.
Santo André -- obteve saldo geral de 6.358 empregos, dos quais 852 industriais e 5.643 do terciário.
São Bernardo -- obteve saldo geral de 8.332 empregos, dos quais 11.870 do terciário, com perda de 1.573 postos industriais.
São Caetano -- obteve saldo geral de 6.045 empregos, dos quais 6.025 do terciário e perda de 449 postos industriais.
Diadema -- obteve saldo geral de 6.396 empregos, dos quais 1.117 industriais e 5.279 do terciário.
Mauá -- obteve saldo geral de 4.325 empregos, dos quais 1.261 industriais e 2.883 do terciário.
Ribeirão Pires -- obteve saldo geral de 351 empregos, dos quais 227 industriais e 506 do terciário.
Campinas -- obteve saldo geral de 16.683 empregos, dos quais 415 industriais e 17.565 do terciário.
Sorocaba -- obteve saldo geral de 5.496 empregos, dos quais 935 industriais e 5.384 do terciário.
São José dos Campos -- obteve saldo geral de 4.209 empregos, dos quais 5.384 do terciário e perda de seis postos industriais.
São Paulo -- obteve saldo geral de 145.974 empregos, dos quais 171.913 do terciário e perda de 10.412 postos industriais.
O resultado geral do Grande ABC nos últimos 11 meses (os dados acima, repetimos, referem-se aos últimos 35 meses) mostra que pelo menos em matéria de emprego e também (como analisados ainda nesta semana) de repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a maldição do governo Fernando Henrique Cardoso parece não ter atingido Lula da Silva. Por menos que o País tenha se desenvolvido no ano passado -- o crescimento do PIB provavelmente não ultrapassará a 0,5% --, o Grande ABC conseguiu recuperar-se no mercado de mão-de-obra formal com as mais de três mil contratações e no campo tributário a queda do ICMS não chegou a 2%. Como o ICMS está atreladíssimo ao Valor Adicionado, essencialmente a capacidade de transformação industrial, é provável que, quando pintarem os números oficiais do comportamento fabril, o Grande ABC de um Lulacá bastante reticente terá perdido bem menos que a média anual de quase cinco pontos percentuais do destrutivo FHC.
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