Economia

Pouco emprego industrial formal

DANIEL LIMA - 15/06/2004

O emprego industrial com carteira assinada e pressupostamente de maior valor social é cada vez mais raro na Região Metropolitana de São Paulo, principalmente no Grande ABC. Nos 60 meses que separam março de 1999 e março deste ano, os 39 municípios da Grande São Paulo apresentaram saldo positivo de apenas 35.393 contratações no setor de transformação industrial, ou 5% do total de 797.610 no País. Responsável por 19% do Valor Adicionado brasileiro, contra 21% do restante do Estado, a Grande São Paulo continua a dar sinais de esgotamento da capacidade de gerar postos de trabalho industrial. Diferentemente, portanto, das demais regiões paulistas.


 


No conjunto, o Estado de São Paulo participa com 19,94% da geração de emprego formal no País. Foram 164.776 postos de trabalho industrial criados no mesmo período no Interior e no Litoral. VA é a capacidade de transformação de riqueza industrial — a diferença de valor monetário do granulado plástico que vira pára-choque, por exemplo.


 


Os últimos 60 meses de mudanças no perfil do emprego industrial no Brasil mostram que o Estado de São Paulo como um todo — e a Região Metropolitana em particular — está perdendo fôlego no confronto com várias das unidades federativas. As indústrias que deixam a RMSP migram em larga escala para o Interior mais próximo da Capital, sobretudo para as regiões de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, mas também evadem do Estado.


 


Além desse componente que explica a dissonância entre geração de vagas industriais e participação relativa no setor de transformação, os paulistas pagam o preço da renovação tecnológica. Estado mais industrializado do País, São Paulo ainda vive movimentos de contrações de atualização tecnológica decorrente da abertura econômica. À medida que máquinas e equipamentos mais modernos substituem velharias de sobrevida incentivada pelo regime de fechamento de fronteiras alfandegárias, menos mão-de-obra é utilizada nos processos produtivos, quando não dispensada.


 


A tendência de esvaziamento industrial da Região Metropolitana de São Paulo que se manifesta no mapa do emprego formal da atividade está cristalizada nos dados registrados nos últimos 60 meses, quando apenas 19,94% dos postos de trabalho abertos no Estado foram contabilizados na Capital e nos 38 municípios que giram em torno da liderança paulistana de 10,6 milhões de habitantes. O volume é significativo, porque no cômputo de empregos criados em todos os setores, a Região Metropolitana de São Paulo ficou com 47,98% de participação no Estado. Nessa conta entram atividades como comércio, serviços, indústria da construção e administração pública, entre outros.


 


A vocação da Grande São Paulo para o comércio e os serviços, em gradual substituição às perdas industriais, está explicitada no contingente de 56% de empregados com carteira assinada que entraram no mercado de trabalho no Estado.


 


Além de participação relativa cada vez menor do emprego industrial na Região Metropolitana de São Paulo, os dados do Ministério do Trabalho e Emprego também revelam que os maiores municípios paulistas confirmam a curva descendente de criação de postos de trabalho. O G-14 (São Paulo, São José dos Campos, São Bernardo, Campinas, Santo André, Osasco, Sorocaba, Mauá, Diadema, São Caetano, Ribeirão Pires, Guarulhos, Barueri e Cubatão) responde por 51% do Valor Adicionado e por 45% da população do Estado, mas gerou apenas 16,55% de empregos industriais nos 60 meses pesquisados, contra 43,90% do total e 51,51% das áreas de comércio e serviços.


 


ABC discreto


 


A participação do emprego industrial no Grande ABC nos últimos 60 meses até março é constrangedora para uma região que nos anos 60 e 70 subiu à ribalta do desenvolvimento econômico. O saldo de apenas 2.830 postos de trabalho do setor de produção só é menos problemático quando se observa que entre 1990 e 2000 o Grande ABC perdeu 100 mil empregos industriais com carteira assinada. A tênue reação pode significar, entretanto, que os sete municípios locais já teriam superado a longa invernada de perdas líquidas de empregos e de massa salarial, atingidos que foram pela evasão industrial associada ao enxugamento das linhas de produção para adequar-se aos novos tempos de competição globalizada.


 


O saldo de 2.830 empregos em 60 meses significa que o Grande ABC colaborou com apenas 1,41% dos postos de trabalho das atividades da indústria de transformação. O nível é expressivamente discreto, porque as sedes das três principais regiões metropolitanas do Interior Paulista — Sorocaba, São José dos Campos e Campinas —, que somam população semelhante à do Grande ABC — alcançaram índice de 6,97% no estoque de empregos industriais do Estado. Foram 13.965 no período pesquisado.


 


O desempenho do emprego industrial do Grande ABC perde a corrida até mesmo para a cada vez mais prestadora de serviços Capital, que contabilizou participação estadual de 5,48%, resultado de 10.982 postos de trabalho. Num confronto que leve em conta a relatividade de forças, São Paulo e Grande ABC podem se dar as mãos na quebra do emprego industrial. O parque produtivo da Capital é pelo menos cinco vezes maior que o do Grande ABC. Sozinha, Osasco, cuja força produtiva é semelhante à de Santo André, alcançou saldo de emprego na indústria de transformação semelhante ao de todo o Grande ABC — foram 2.808 postos de trabalho, contra 2.930.


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