Economia

Até quando metalúrgicos
vão resistir ao aperto?

ANDRE MARCEL DE LIMA - 22/03/2007

O sindicalista Cícero Martinha da Silva está preocupado com o futuro da região. Testemunha ocular das transformações que redesenharam chãos de fábrica e o Grande ABC na condição de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Cícero Martinha deixa transparecer uma realidade ameaçadora: os metalúrgicos estão à beira de um ataque de nervos, basicamente porque os salários encontram-se no nível mais baixo da história recente e trafegam na contramão de atribuições e responsabilidades que só aumentaram com a internacionalização das empresas.


 


"Se as condições não melhorarem corremos o risco do retorno das greves" -- prevê o dirigente. Diante da gravidade da situação, que tende a piorar com o avanço asiático, principalmente a bordo da China, Martinha não hesita em apoiar duas bandeiras de LivreMercado: a conversão da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) em centro de formação voltado às necessidades das cadeias produtivas e a contratação de consultoria independente que vislumbre novos caminhos para a região.


 


Breve contexto histórico ajuda a compreender a inquietação do presente. Martinha lembra que no início do governo Collor, em 1990, o sindicato contabilizava 50,4 mil metalúrgicos em Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Passados 17 anos, o número caiu para 22 mil, ou 60% menos. Entretanto, o número de indústrias é praticamente o mesmo na comparação ponta a ponta. São mais de 600 dos mais variados portes.


 


Manipuladores estatísticos poderiam usar esse dado para argumentar que não houve evasão industrial e sim uma onda de reestruturação que tornou as empresas muito mais produtivas e competitivas. Não é o caso. A globalização impôs tecnologias e processos que extirparam parcela significativa do efetivo funcional, mas o número de empregadoras permanece o mesmo porque a evasão de grandes indústrias é mascarada pela criação de pequenas metalúrgicas.


 


Exemplos? A Black & Decker teve três mil empregados onde funciona o ABC Plaza Shopping, na Avenida Industrial, em Santo André, antes de se transferir para Uberaba, no triângulo mineiro. A Brosol teve efetivo semelhante em Ribeirão Pires, lanterninha do ranking de riqueza per capita elaborado por LivreMercado. Empresas como KS Pistões, Eaton e Constanta também tomaram o rumo do Interior de São Paulo e de outros Estados, na contramão de pequenas indústrias que engordaram as estatísticas locais sem a contrapartida da mesma geração de riqueza. "KS Pistões e Eaton trocaram Santo André por Nova Odessa e Valinhos, na região de Campinas. Já a Constanta, que fabrica componentes eletrônicos para a Philips, deixou Ribeirão Pires para se instalar em Recife" -- lembra Cícero Martinha, ao acrescentar dois ícones que faliram: Pierre Saby e Fichet.


 


A Molins do Brasil, na qual Cícero Martinha iniciou carreira sindical como integrante da comissão de fábrica, em 1979, é outro exemplo de deserção. Foi transferida de São Bernardo para Mauá, no distrito industrial de Sertãozinho, e de Mauá para a região de Curitiba, no Paraná.


 


Os protagonistas do movimento de evasão industrial eram movidos por razões internas e externas. As razões externas dizem respeito à guerra fiscal, carnificina por impostos e empregos sem a menor intermediação por parte do governo central. Já as razões internas dizem respeito às inconformidades tipicamente regionais. E neste ponto Cícero Martinha faz mea-culpa ao lembrar que a conquista de salários e benefícios muito acima da média nacional nos tempos de mercado fechado foi um dos principais fatores que fizeram com que tantas empresas batessem em retirada da região. "Na época, a diretoria de recursos humanos da Black & Decker dizia que somente com o valor dos benefícios pagos aos funcionários de Santo André era possível pagar os salários do pessoal em Minas Gerais" -- lembra o sindicalista.


 


Outros tempos


 


Mas aqueles tempos eram bem diferentes. O recrudescimento da competitividade fez com que conquistas históricas dos anos 60, 70 e 80 fossem para o espaço em pleno século XXI. Menos para o seleto grupo de montadoras, sistemistas de autopeças e grandes empresas químicas e petroquímicas cujos trabalhadores conseguem se manter no pedestal -- como LivreMercado mostrou na edição de julho de 2003. Exceções à parte, trabalhadores de pequenas e médias empresas afrouxaram reivindicações por planos de saúde, alimentação e transporte em troca da manutenção de empregos. "Antes esses serviços eram gratuitos, subsidiados integralmente pelas empresas. Hoje, os funcionários é que pagam a conta" -- explica Cícero Martinha.


 


Quem se sente chocado pela anulação dos direitos adquiridos nos tempos do sindicalismo revolucionário que contaminou as sete cidades a partir do epicentro automotivo em São Bernardo e São Caetano ainda não viu nada. Cícero Martinha conta que a massa salarial dos metalúrgicos andou para trás nos últimos 10 anos -- apesar de o sindicado ter conseguido série de reajustes com ganhos reais, isto é, acima da inflação. O aparente contra-senso de perdas da massa salarial é facilmente explicado por um fenômeno tão execrável quanto comum e, em muitos casos, inevitável à luz da competitividade: a intensificação da substituição de trabalhadores mais velhos e bem remunerados por jovens com vencimentos mais modestos -- prática que reduziu o salário médio a R$ 1,4 mil.


 


Pressionadas pelo baixo crescimento econômico, pela escalada dos impostos que atingem quase 40% do PIB (Produto Interno Bruto) e pela valorização cambial que mina a competitividade das exportações, indústrias buscam fôlego financeiro na folha salarial, mesmo com o comprometimento da produtividade no longo prazo -- porque experiência e cultura corporativa são patrimônios que não podem ser desprezados. "Turnover é uma expressão bonita que esconde substituição para redução de salários" -- define Cícero Martinha. Ele acredita que essa válvula de escape pode ter o efeito de uma bomba-relógio. "Tenho alertado as empresas de que estamos com problema muito sério. Muitos jovens estão entrando no mercado de trabalho com salários baixos e sem motivação, o que significa que daqui a pouco podemos voltar à fase das greves. O achatamento foi muito violento" -- desabafa.


 


Para se ter idéia da intensidade da troca de trabalhadores motivada pela redução de custos com pessoal, Cícero Martinha calcula que apenas 10% dos 22 mil metalúrgicos que restaram na base ocupam os postos de trabalho desde a ponta do levantamento, em 1990. Isto é, o exército de heróis da resistência que passou incólume por 16 anos de intempéries micro e macroeconômicas não ultrapassa 2,2 mil. Os quase 20 mil restantes foram absorvidos ao longo dos anos por salários muito mais baixos.


 


Pior é que a remuneração trafegou na mão oposta do aumento da responsabilidade e do comprometimento dos trabalhadores. Cícero Martinha lembra que nos tempos de mercado fechado um grupo seleto formado por engenheiros e técnicos conhecia o processo produtivo. Aos metalúrgicos cabia executar tarefas meramente operacionais. "Dizia-se, à época, que o metalúrgico era pago para trabalhar, não para pensar. E que se pensasse muito acabaria atrapalhando" -- lembra.


 


Hoje a história é outra. Com o downsizing -- nome bonito para enxugamento funcional -- as atribuições de quem está na linha de frente mudaram. "Hoje predominam as células de empregados multifuncionais. Os trabalhadores conhecem o processo completo, executam várias tarefas e ainda fiscalizam os colegas porque são pressionados por metas de produção. Acabou a figura do inspetor de qualidade. A qualidade passou a ser garantida em cada etapa do processo" -- explica o sindicalista.


 


Para bom entendedor, o metalúrgico do Grande ABC tornou-se altamente descontente e estressado. Ao rebaixamento dos salários somou-se a elevação brutal do nível de responsabilidade no panorama da mundialização dos negócios, de um lado, e do peso gigantesco de um Estado que cobra muito e devolve pouco, de outro. Nada a ver, portanto, com a imagem de privilegiados integrantes da classe média que ainda ilustra os bem-aventurados com carteira assinada pelas montadoras. Mas o avanço chinês e a implementação de 3,6 mil demissões na Volkswagen Anchieta mostram que até os tripulantes mais bem posicionados podem naufragar.


 


Por estranho que pareça, o incremento dos setores de comércio e serviços na mão oposta da evasão industrial representou complicador adicional ao mercado de trabalho metalúrgico. Salários mais baixos pagos pelo terciário passaram a servir de referência nas contratações. "Indústrias se espelham nos salários dos shoppings sem levar em conta que trabalhar em um centro de compras, em forjaria ou em caldeiraria são situações bem diferentes" -- ilustra Cícero Martinha.


 


Além da adoção de tecnologias e processos poupadores de mão-de-obra e da evasão industrial turbinada pela guerra fiscal, é preciso considerar o papel da terceirização na redução de 50,4 mil metalúrgicos em 1990 para 22 mil nas quatro cidades sob o sindicato. "Bombeiros, porteiros, vigilantes, cozinheiros e outros profissionais de atividades acessórias deixaram de ser registrados como funcionários das indústrias para adensar o quadro de prestadoras de serviços com salários e benefícios muito menores, embora a rotina de trabalho permanecesse a mesma" -- destaca Cícero Martinha.


 


Eis aí o modestíssimo perfil do segmento de serviços empresariais, saudado como nova vereda socioeconômica por manipuladores estatísticos que já passaram pelo Grande ABC. O terciário surgido da necessidade de aliviar a estrutura mastodôntica das indústrias não tem nada a ver com o terciário de alto valor agregado defendido pelo prefeito de Santo André Celso Daniel, e que se sustenta em áreas nobres como propaganda, marketing, design, engenharia e consultoria.


 


Sócio usuário


 


A redução da base metalúrgica restringiu o contingente de associados e, consequentemente, as receitas do sindicato. Mas se a conjuntura mudou, a entidade se adaptou. Não é preciso ser metalúrgico para se associar ao sindicato. Basta inscrever-se na modalidade sócio usuário e pagar mensalidade de R$ 10 para ter os mesmos direitos dos sócios metalúrgicos ou aposentados, como descontos em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços conveniados e possibilidade de usufruir de colônia de férias no Litoral por preços subsidiados. "Os descontos variam de 10% a 40% e incluem clínicas oftalmológicas, laboratórios de análises clínicas, ortopedia, dentistas, raios X, universidades e muitos outros segmentos" -- afirma Cícero Martinha.


 


A colônia de férias em Praia Grande, na Baixada Santista, tem 39 apartamentos com piscina adulto e infantil, salão de jogos, restaurante, lanchonete e vestiários feminino e masculino, além de estacionamento. Cícero Martinha observa que o interesse dos estabelecimentos que oferecem descontos reside na escala: são cerca de 14 mil associados somando-se seis mil trabalhadores na ativa, sete mil aposentados e mil sócios usuários. Os aposentados pagam R$ 3 por mês e os trabalhadores da ativa contribuem com 1,5% do salário bruto. A assessoria jurídica gratuita é o maior atrativo aos associados na ativa. "O associado não coloca a mão no bolso se for demitido, entrar com ação na Justiça e perder; nesse caso o sindicato é que paga as despesas processuais do Estado" -- explica Cícero Martinha.


 


Outra mudança visível, além da busca de sócios fora das hostes metalúrgicas e a transformação em espécie de clube de compras, é a preocupação com a reinserção de quem ficou à margem do mercado de trabalho. O Centro de Solidariedade ao Trabalhador é espécie de bolsa de empregos de caráter exclusivamente social em funcionamento desde 1999 na sede do sindicato, no Centro de Santo André. "O Centro de Solidariedade atendeu 1,047 milhão de desempregados desde a inauguração. Destes, 292,4 mil foram encaminhados para testes em empresas e 51 mil arranjaram emprego" -- conta Cícero Martinha. Atualmente o Centro de Solidariedade registra 115 mil trabalhadores à espera de vagas, além de 700 vagas não preenchidas por conta da incompatibilidade dos candidatos às funções. Até meados do ano passado o Centro de Solidariedade era administrado pela Força Sindical, à qual o sindicato está vinculado. Depois a gestão passou para a Prefeitura de Santo André.


 


Apoio à regionalidade


 


É por conhecer as agruras do Grande ABC que o sindicato liderado por Cícero Martinha engrossa o coro pelo enraizamento conceitual da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) e se coloca favoravelmente à contratação de consultoria internacional que vislumbre novos rumos para a região. "A UFABC não pode ser uma universidade solta. Tem de estar conectada às vocações da região" -- destaca. O sindicalista vai além ao considerar que a UFABC deveria destinar cotas de vagas para moradores do Grande ABC. "Estudantes oriundos de outras regiões do Estado e do País que passam temporada na região para estudar e depois vão embora trazem qual benefício para o desenvolvimento econômico do Grande ABC?" -- questiona.


 


Cícero Martinha observa que setores empresariais, sindicais e a sociedade regional não podem se apequenar a ponto de sucumbir à visão equivocada de que a UFABC é um presente do governo federal e, como tal, deve ser aceita da forma que vier. "Não é presente não. O Grande ABC já contribuiu muito por meio de geração de impostos, de modo que o governo tem obrigação de oferecer modelo adequado às necessidades locais."


 


Cícero Martinha também assina embaixo da proposta de contratação de consultoria especializada que aponte soluções para a indústria automobilística, além de rumos alternativos para compensar os efeitos da evasão industrial e da desindustrialização. "A represa Billings e a Mata Atlântica são patrimônios naturais que deveriam ser aproveitados pelo turismo" -- sugere.


 


Entendimento sindical


 


Se o quadro regional inspira cuidados, pelo menos na seara estritamente sindical há boa notícia no horizonte: está chegando ao fim a queda de braço jurídica entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, vinculado à Força Sindical, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores). "Estamos muito próximos de um acordo que se desenha da seguinte maneira: entregamos a representação de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra ao Sindicato de São Bernardo e eles nos devolvem uma escola de formação sindical instalada no Centro de Santo André" -- explica Cícero Martinha.


 


Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra somam cerca de quatro mil metalúrgicos. O sindicato de Santo André deve ganhar a representação de outros dois mil que trabalham em sua área de abrangência, mas estão oficialmente ligados a São Bernardo. É justamente para dar fim à confusão que o acordo desponta como solução. "Para os metalúrgicos e as empresas o fim da batalha judicial significa mais tranquilidade e eliminação do risco de duplicidade de comando. Para os sindicatos também trará economia, já que os custos advocatícios são significativos" -- considera Cícero Martinha.


 


O processo se arrasta desde 1996, quando representantes de Santo André foram à Justiça para reivindicar separação da união selada em 1993. Desde então, tramita por diversas instâncias. "Sem o acordo uma resolução definitiva poderia levar anos" -- afirma Cícero Martinha.


 


O Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André representava as sete cidades da região quando foi criado em 1933. Na década de 50, com a vinda das montadoras, a entidade foi desmembrada com a criação de sindicatos em São Bernardo e São Caetano. Santo André e São Bernardo voltaram a se unificar em 1993. Três anos depois deram início à pendenga judicial que deve estar com os dias contados, de acordo com o sindicalista.


 


Disputa jurídica à parte, o fato é que o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra nunca teve maior visibilidade institucional porque todos os holofotes da mídia sempre recaíram sobre o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Não apenas porque embates com as montadoras eram prato cheio para a grande mídia obcecada por notícias de impacto num tempo em que crucificar companhias multinacionais por todas as mazelas da humanidade pegava bem, mas, sobretudo, porque tais embates se desenrolaram em momento propício: a ditadura militar que se estendeu de 1964 a 1985 conferiu ares de heroísmo ao movimento dos operários de São Bernardo e converteu reivindicações sindicais em passaporte carimbado para o universo paralelo da política. Tanto que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo foi a semente do Partido dos Trabalhadores e, não por acaso, o mais influente dirigente do sindicato e do partido tornou-se presidente da República.


 


Cícero Martinha concorda com a interpretação de que o sindicato que dirige e que acumula 74 anos de história foi praticamente eclipsado pelo congênere de São Bernardo. Mas fala em tom de compreensão, sem sinal de rancor ou frustração. "Era esperado que, com a concentração das montadoras, todas as atenções se voltassem a São Bernardo. Além disso, o fato de um representante dos trabalhadores criar um partido político, se transformar em presidente e ser reeleito pelo voto popular é acontecimento ímpar no mundo. Lula é um fenômeno que ocorre aleatoriamente na história, assim como o surgimento de Pelé no Brasil ou de Maradona na Argentina" -- observa Cícero Martinha.


 


O fenômeno Lula é capitalizado com a ajuda da tecnologia pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, auto-intitulado Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. No endereço eletrônico oficial da entidade lê-se: "A reação dos metalúrgicos do ABC contra a Ditadura Militar é histórica na categoria. Particularmente a partir de 1978, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o Sindicato desempenhou papel importante na luta pela recuperação da democracia do País. Em 12 de maio de 1978, em plena vigência do Ato Institucional número 5 (AI-5), considerado o mais duro golpe do governo que, entre outras coisas, acabou com a garantia de habeas corpus e aumentou a repressão policial e militar, várias fábricas do ABC entraram em greve, sendo que a maior paralisação ocorreu na Scania, dando ciclo a um novo início das lutas sindicais no País, que se irradiou para outros Estados em pouco tempo. Essas mobilizações são apontadas como elemento fundamental no processo de construção do Partido dos Trabalhadores em 1979 e da CUT (Central Única dos Trabalhadores), fundada em agosto de 1983”.


 


O texto prossegue com outros exemplos de movimentos impulsionados pela intersecção de interesses sindicais e políticos, como as mobilizações pela pré-constituinte de 1986 a 1988 e a campanha pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, além da participação em fóruns como a Câmara Setorial da Indústria Automobilística em Brasília, em 1992, e na finada Câmara Regional do Grande ABC. "Os metalúrgicos ampliaram e disseminaram o conceito de sindicato-cidadão. Além dos interesses próprios, passaram a intervir mais amplamente em temas como os direitos da criança, do adolescente e da mulher, a discriminação racial, a luta pela reforma agrária, campanhas de combate à fome e um leque amplo de iniciativas voltadas à consciência política e social dos metalúrgicos do ABC".


 


O que o próprio sindicato não conta, nem os jornalistas que escreveram a história recente do País com base no epicentro sindical de São Bernardo, são os efeitos colaterais dos tremores no núcleo das montadoras. Se para deserdados de Norte a Sul Lula e companheiros encarnaram verdadeiros heróis, para potenciais investidores os mesmos personagens assumiram conotação de vilões avessos ao capitalismo. Ainda hoje, em que pese a dinamitação das chamadas conquistas históricas, a imagem de região repulsiva à iniciativa privada persiste como obstáculo à atração de investimentos privados. "Para quem está fora e não conhece o Grande ABC, o mito do sindicalismo bravio e das conquistas históricas permanece. Mas os empresários que atuam na região sabem que a globalização e a guerra fiscal transformaram a realidade. Hoje não há muita diferença entre os salários e benefícios pagos aos metalúrgicos do Grande ABC e de outras regiões do País, com exceção das montadoras, mas ainda apenas por uma questão de tempo. Dentro de cinco anos, os trabalhadores das montadoras da região terão salários equiparados aos das fábricas de veículos instaladas em outras regiões do País. É se adaptar ou morrer" -- aposta Cícero Martinha. 


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