Passadas as festas de final de ano e também o período de férias, chegou a hora de o Grande ABC arregaçar as mangas pelo fortalecimento dos principais pilares econômicos. O líder regional e prefeito de São Bernardo, William Dib, deve programar para logo depois do carnaval a realização de seminário sobre a indústria automotiva do Grande ABC no contexto internacional. O evento será realizado com suporte de consultoria especializada, provavelmente da Autodata, com a qual o prefeito já trata do assunto.
Só falta a Apolo (Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC) se reunir com os secretários de Desenvolvimento Econômico de Santo André e de Mauá para discutir ações coordenadas que possibilitem o adensamento da cadeia de terceira geração — conforme proposta aprovada durante evento temático do Ciclo de Debates promovido por LivreMercado no final do ano passado.
A interação entre Apolo e representantes públicos versados em desenvolvimento econômico é providencial. O Grande ABC está com a faca e o queijo nas mãos para converter o adicional de matéria-prima da Petroquímica União em geração de empresas e milhares de empregos. Só deixará de aproveitar essa oportunidade de ouro se o tecido do capital social, composto de interesses públicos, privados e institucionais for mais esgarçado do que se imagina. E não é possível que seja. O furacão da globalização há de ter deixado lição de que é preciso planejar o futuro em conjunto — além do rastro de perda do Valor Adicionado Industrial e corte de quase 100 mil empregos com carteira assinada nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
A expansão de 200 mil toneladas na capacidade produtiva da PQU a partir de 2008 deve refletir na geração de 12,5 mil empregos na cadeia de terceira geração, porque a cada 16 mil toneladas de processamento no pólo cria-se um novo posto de trabalho nos transformadores plásticos.
O desafio de proporcionar condições para que essa Volkswagen Anchieta de novos empregos seja gerada dentro do Grande ABC torna-se ainda mais viável quando se constata que somente na região do Eixo Tamanduathey, em Santo André, há 1,2 milhão de metros quadrados disponíveis para ocupação na forma de 75 lotes sem qualquer uso, de acordo com levantamento veiculado no boletim Observatório Econômico, da Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional em parceria com a Fundação Santo André.
Isso significa que aquela área tem espaço físico de sobra para acolher transformadoras plásticas que queiram se beneficiar do adicional de insumos projetado para o Pólo de Capuava.
Já que a Prefeitura de Santo André teve dificuldades para viabilizar o plano original de transformar o Eixo Tamanduathey em pólo de prestadoras de serviços de alto valor agregado, e já que a expansão do pólo embute potencial para atrair transformadoras plásticas sob o imperativo da eficiência logística, por que não traçar plano especificamente voltado ao adensamento da cadeia plástica nas áreas ociosas ao longo das avenidas dos Estados, Industrial e Giovani Batista Pirelli?
Santo André e Mauá poderiam até formatar plano integrado que contemple o Distrito Industrial de Sertãozinho e o Eixo Tamanduathey. O resultado prático da estratégia seria a consolidação do macro-eixo Tamanduathey-Sertãozinho na órbita da cadeia de primeira e segunda geração.
Como bem observou o executivo Nívio Roque, da Polietilenos e da Apolo, durante o Ciclo de Debates, a oferta de terrenos a preços competitivos e à distância da especulação imobiliária é um dos nós górdios que precisam ser desfeitos para promover o adensamento plástico. Citou o inchaço dos valores no Distrito de Sertãozinho como exemplo de empecilho a ser removido.
No caso de Santo André, o Poder Público dispõe de mecanismos para manter os preços em patamares não proibitivos. Como a maior parte dos terrenos ociosos é privada e está com problemas de documentação e dívidas com impostos como IPTU (Imposto Predial, Territorial e Urbano), a Prefeitura pode facilitar a quitação para que a liberação do espaço beneficie empreendedores dispostos a investir. Equacionar questões jurídicas de caráter fundiário é essencial para que amplos lotes de terra inseridos em áreas urbanas acolham mais que mato, lixo e, em muitos casos, ruínas de empresas que se foram.
A idéia de transformar o Eixo Tamanduathey-Sertãozinho em endereço preferencial para transformadoras de plástico ganha impulso com a instalação do Ciap (Centro de Informação e Apoio à Tecnologia do Plástico) na Fundação Santo André. Afinal, centros de disseminação tecnológica são alicerces dos clusters produtivos, nas palavras do norte-americano Michael Porter, estudioso das aglomerações sinérgicas de empresas de um mesmo segmento.
Técnicos do Ciap estão à disposição para assessorar empreendedores desde setembro do ano passado, mas a partir de 2007 o centro terá estrutura mais ampla com implantação de laboratório de testes, moldagem e prototipagem de produtos derivados de plásticos. A região deve consolidar núcleo tecnológico completo pouco antes da ampliação de 40% do pólo. E não é só. No que depender do pró-reitor de Extensão da Universidade Federal do Grande ABC, Jeroen Klink, a UFABC também deve oferecer ferramentas tecnológicas para melhor aproveitamento dos insumos plásticos na própria região.
Muito mais complexo que a missão de internalizar a maior parte dos 12,5 mil empregos projetados na cadeia de terceira geração é o desafio de resgatar parte do brilho automotivo que a globalização, a guerra fiscal e o inchaço dos custos regionais ofuscaram principalmente nos anos 1990. Mas a empreitada assumida com ineditismo regional pelo prefeito William Dib deve ganhar plataforma conceitual e de conhecimento agregado com a iniciativa de promover seminário logo após o carnaval.
Como o espectro automotivo é amplo, o evento deve de ter foco bem definido sobre as vulnerabilidades e as potencialidades do Grande ABC no contexto internacional. Expositores e convidados especializados na indústria mais competitiva do mundo terão de oferecer respostas para questões como as seguintes: o que o Grande ABC pode fazer para deixar de perder investimentos para regiões brasileiras que receberam fábricas a partir da segunda metade dos anos 90? Quais brechas a região poderia aproveitar para atrair novas linhas de montagem e fortalecer a musculatura das plantas já existentes? Quais contribuições que as três esferas do Poder Público e os trabalhadores sindicalizados podem fornecer para o sucesso da empreitada?
Observatório Econômico
A décima edição do boletim Observatório Econômico traz informações que vão além da constatação de que o Eixo Tamanduathey dispõe de 1,2 milhão de metros quadrados para ocupação. Apesar do relativo aquecimento industrial proporcionado pelas exportações, o setor de serviços foi, disparado, a maior fonte de postos de trabalho com carteira assinada na região entre janeiro e outubro do ano passado. No período de 10 meses o setor de serviços apresentou saldo positivo de 22.695 contratações, pouco mais da metade do total de 41.383 postos de trabalho formais do período. O comércio criou 7.425 e a indústria de transformação 8.869 empregos formais.
Ao se comparar a performance do Grande ABC à do Estado de São Paulo, percebe-se que a região chacoalhada pela globalização oferece mais resistência à criação de vagas na indústria. Enquanto no Grande ABC o estoque de empregos industriais formais cresceu 4,19%, no Estado o salto foi de 7,12%. No front dos serviços a tendência é invertida: variação de 9,27% no Grande ABC contra 7,06% no Estado. É uma pena que nos números do Observatório Econômico não seja possível distinguir Região Metropolitana de São Paulo e Interior. A distorção entre empregos industriais no Interior e empregos no terciário ao redor da Capital ganharia conformação geoeconômica.
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