Economia

Prestem atenção: William Dib
pode mesmo virar nosso JK

DANIEL LIMA - 24/08/2005

Cairão do cavalo do ceticismo incorrigível todos aqueles que eventualmente julgarem precipitada a possibilidade de o prefeito de São Bernardo, William Dib, também presidente do Consórcio Intermunicipal, ocupar posição de destaque na história do Grande ABC e, como antecipei aqui, transformar-se em Juscelino Kubitschek regional. Outro dia, para que seja possível compreender melhor o conceito, destrincharei o que vem a ser essa expressão. Não falta quem não a tenha entendido e, pior, a tenha corrompido.


 


Primeiro vamos ao que mais interessa: William Dib tomou gosto tão profundo pela iniciativa de reconfigurar as bases da indústria automotiva do Grande ABC, que envolve montadoras e autopeças, que já não é mais possível ao político mais importante da região sequer estacionar, quanto mais recuar. O almoço que William Dib manteve ontem discretamente em São Bernardo com o presidente da Anfavea, entidade que reúne as montadoras de veículos do País, resultou numa tarde de imensa felicidade. Encontrei-o assim em seu gabinete, numa visita de trabalho sobre seu projeto de refortalecimento do setor automotivo, tema da Reportagem de Capa da edição de setembro da revista LivreMercado.


 


Não vou antecipar a conversa rápida e instigante que tive com William Dib, detentor de impressionante memória informativa. Mais importante que detalhes que vão desaguar numa série de medidas a partir do mês que vem, quando será lançado o programa de debates sobre o assunto, é o engajamento da Anfavea. Geralmente cauteloso, William Dib não se conteve no breve diálogo com este jornalista. Ele está entusiasmadíssimo com a possibilidade de recuperar parte das perdas industriais automotivas que o Grande ABC acumulou nos anos 90, especialmente durante o mandato de seu amigo Fernando Henrique Cardoso.


 


Foto e fofoca


 


Aliás, por falar nisso, não perdi a oportunidade de, ao chegar ao 18º andar da Prefeitura de São Bernardo, recepcionado calorosamente pelo secretário de Comunicação, Raimundo Salles, brincar sarcasticamente com a imagem fotográfica que me foi entregue com ironia pelo homem que está permanentemente na antessala do prefeito.


 


"Eis aqui o mais autêntico fosso entre duas personalidades. De um lado um acadêmico que não soube o que fazer com a economia do Grande ABC. De outro, um pragmático que encontrou o caminho das pedras" -- disse a um Raimundo Salles que provavelmente mal me ouviu, porque já corria para atender a demanda de visitantes que fazem dos corredores de acesso ao prefeito William Dib passarela de expectativas.


 


A frase que dirigi a Raimundo Salles decorria do flagrante em que ele, secretário de Comunicação da Prefeitura de São Bernardo, era circunstancialmente coadjuvante do encontro entre William Dib e Fernando Henrique Cardoso, segunda-feira no instituto que leva o nome do ex-presidente da República. Logo em seguida, para salvação de FHC, lá estava eu com Dib em seu gabinete.


 


Sei que minha presença num Paço Municipal causa certo frisson. Longe de mim qualquer intenção à celebridade. Muito pelo contrário. Trata-se apenas do fato de que não sou frequentador de prédios públicos. Sim, minhas atividades profissionais me enclausuram no escritório domiciliar ou empresarial e mal posso caminhar pelos palácios regionais onde o poder Executivo está incrustado. Por isso, quando apareço, e dada a fama de independência, não faltam olhares nem sempre tão enigmáticos quanto parecem. Há sempre maledicentes prontos para destilar veneno. Eles não sabem o que pensam.


 


Mais visitas


 


Devo confessar que provavelmente me meta mais palácios adentro, bem como entidades empresariais, entidades sociais, entidades sindicais. Essas visitas têm o efeito de colocar pelo menos duas coisas nos devidos lugares.


 


Primeiro: ao contrário do que eventual ou persistentemente meus textos remetem, não sou o bicho-papão que alguns adversários procuraram estigmatizar. Adoro brincadeiras, piadas relacionadas principalmente à subjetividade da linguagem sexual, essas coisas. E falo sério, muito sério, quando necessário.


 


Segundo: minhas convicções são tão arraigadamente profundas e meu compromisso com o que digito é tão inabalável com a coerência histórica que não tenho o menor receio de ser seduzido. Mais que isso: nem dou bola à possibilidade sempre oportunista de detratores provavelmente com culpa no cartório destilarem comentários maliciosos sobre minhas incursões. Mais ainda: estou descobrindo que talvez meus propósitos regionalistas exijam a complementaridade da ação pessoal, sequencial à do mundo internético e material de páginas impressas.


 


Estou chegando à conclusão de que a proximidade com o poder é extraordinária oportunidade de interação quando colocada como âncora da filosofia do "Grande ABC Futebol Clube". O que vem a ser "Grande ABC Futebol Clube"? Simples: o compromisso entre jornalista e homem público, entre jornalista e liderança empresarial, entre jornalista e liderança social, entre jornalista e liderança sindical, de que o encaixe das peças do quebra-cabeça de mudanças econômicas e sociais da região passa por acordos tácitos de empenho e dedicação, acima de vaidades pessoais e questiúnculas político-partidárias. E é exatamente essa a filosofia que tenho exposto aos interlocutores, provavelmente numa função jornalística que transcende o convencionalismo. Principalmente porque não tem cores partidárias e jamais se converterá em privilégios pessoais.


 


Com sindicalista


 


Foi por essas e por outras que na semana passada almocei no Baby Beef Jardim com Cícero Martinha Firmino da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, homem simples, inteligente, esclarecedor de bastidores cujas decisões ajudam a explicar o estágio em que se encontra a área industrial do Grande ABC. Aliás, almocei com Martinha para tratar, também, das intervenções lideradas por William Dib em favor da retomada automotiva. Vou transcrever pontos daquele almoço, devidamente autorizados pelo sindicalista, ainda nesta semana. Posso adiantar que foi um encontro agradabilíssimo e entusiasmador. 


 


O almoço com Martinha me deixou ainda mais convencido de que William Dib encontrou a fórmula terapêutica no momento em que o doente econômico chamado Grande ABC está mais acessível ao tratamento. E ele, como bom médico, não vai perder a oportunidade para iniciar nova cronologia da história industrial do Grande ABC, que o remete, sim senhores, a um novo conceito sobre a analogia de imagem com JK.


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