O prefeito William Dib prepara um salto triplo à frente da Prefeitura mais poderosa do Grande ABC e uma das principais do Estado. A iniciativa será centrada inicialmente como titular do Executivo de São Bernardo, mas deverá desmembrar-se ao Consórcio Intermunicipal. Para comemorar mais um aniversário de fundação de São Bernardo, William Dib e assessores preparam o primeiro de uma série de debates para colocar o futuro da atividade automotiva -- montadoras e autopeças -- numa bitola de amplo conhecimento, intensa preocupação, decidido monitoramento e, mais importante, providenciais operações táticas e estratégicas.
Seria espécie de terceira onda, depois da primeira, conduzida pelo governo Juscelino Kubitscheck no final dos anos 50 com a implantação da indústria automotiva e depois da segunda, da globalização dos anos 90 de péssimas recordações para a região. William Dib quer reorganizar a atividade de equilíbrio socioeconômico da região.
O plano ainda não está delineado a ponto de se tirarem conclusões mesmo que preliminares. Certo é que William Dib descobriu o óbvio que nenhum prefeito de São Bernardo ou qualquer outro chefe de governo municipal do Grande ABC foi capaz de enxergar: a regionalidade econômica depende da organização institucional para potencializar o setor automotivo, corpo, espírito e músculos de nossa economia. William Dib quer colocar os debates sobre o amanhã do setor mais competitivo do mundo como prioridade de gestão à frente da Prefeitura e, em seguida, incorporar a questão em âmbito regional.
Por que, afinal, William Dib não sai com tudo, de imediato, levando o setor automotivo para o Consórcio Intermunicipal? Porque ele quer dar um presente especial a São Bernardo neste mês. A largada de uma corrida contra o tempo vai se dar sim no Município que ele dirige. O compartilhamento com os demais prefeitos poderia prorrogar a cronologia que Dib considera impostergável. Afinal, enquanto a palavra final à frente de São Bernardo é sua e de mais ninguém, por mais que exercite o diálogo, no Consórcio Intermunicipal há ritual democrático que se traduz, na maioria dos casos, em entorpecimento de deliberações.
Sete cabeças, sete sentenças, sete interesses individuais, sete compromissos com respectivos eleitores, sete olhares diferentes -- eis o resumo de um jogo coletivo importantíssimo, mas que, quando se tem pressa, atrapalha. Lançado com sucesso em âmbito municipal, quase que por inércia, acredita-se, a iniciativa se moverá em direção ao Consórcio Intermunicipal.
Maior liderança
Apontado há quatro meses pelo Instituto Brasmarket como a maior liderança política da região, William Dib reconhece que nos últimos meses sofreu consequências da morosidade do Consórcio Intermunicipal. Não que tenha chegado à conclusão -- como Celso Daniel dois anos antes de morrer -- que o Consórcio é ponte que sempre ameaça ruir quando se imagina travessia com sucesso. Dib ainda não chegou a essa conclusão, mas desconfia, segundo alguns interlocutores próximos, de que há certa semelhança entre o trajeto que pretendia realizar e aquela cena do personagem de Indiana Jones que, sobre um rio recheado de jacarés, torcia para que o iminente rompimento da esgarçada ponte de cordas pudesse esperar um pouco mais.
Esses mesmos interlocutores asseguram que William Dib quer, de fato, dar o drible da vaca no destino aparentemente fatalista de que o Consórcio Intermunicipal é uma fonte de desilusões. Com o esperado sucesso de debates sobre o setor automotivo a partir de São Bernardo, capital nacional de produção de veículos, o prefeito eleito por 76% do eleitorado em primeiro turno acredita que levará entusiasmo aos demais titulares dos paços e, com isso, estenderá os próximos capítulos da proposta para o âmbito regional.
E nem poderá deixar de fazê-lo, porque a indústria sobre-rodas se ramifica como atividade desenvolvimentista por todo o Grande ABC. Basta recorrer aos números que publicamos na edição de ontem que dá conta do aumento real do Valor Adicionado do conjunto dos municípios locais em 7,58% no ano passado. Tudo por causa do crescimento representado por montadoras e autopeças que, juntas, respondem por 70% do PIB industrial da região.
A expectativa que se tem com o lançamento do projeto de readequação do setor automotivo do Grande ABC às nuances nacionais e internacionais deve ultrapassar o comedimento gerado pela desconfiança natural de que jamais conseguimos dar prosseguimento à obra de JK. Esse é, portanto, o desafio para William Dib. Há delineada série de propostas para o evento que marcará o tiro de largada dos debates.
Sabe-se, preliminarmente, que serão convidados executivos-chave das montadoras sediadas em São Bernardo, representantes de autopeças e também da Anfavea, entidade que reúne produtoras de veículos. O encontro não se limitaria a ouvi-los discorrer sobre o quadro nacional e internacional. Há viabilidade de, também com o suporte de consultores especializadas em automotivas, rascunhar, de imediato, medidas emergenciais para transmitir aos investidores a mensagem de que São Bernardo em particular e o Grande ABC como um todo pretendem adensar o setor automotivo.
Antídotos locais
William Dib espera que, apesar de todas as inescapáveis sacolejadas globalizantes no setor de veículos, o Grande ABC tenha competência para desenvolver antídotos que revertam o quadro de esvaziamento ao longo dos últimos 10 anos. Só para se ter idéia -- esse número é inédito -- do quanto perdemos, o Valor Adicionado registrado pelo Grande ABC no ano passado -- R$ 36,6 bilhões -- está muito aquém dos R$ 49,3 bilhões que saltam do deflacionamento dos R$ 16,0 bilhões registrados em 1994. Isso mesmo: numa comparação ponta a ponta entre dezembro de 1994 e dezembro de 2004, o Grande ABC deixou de contabilizar R$ 12,7 bilhões por conta da descentralização automotiva. Isso representa quase uma São Bernardo de emagrecimento industrial. Imaginem o rombo nas finanças públicas por conta da redução de 25,7% no repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
O setor automotivo, a julgar pela decisão de William Dib, finalmente reencontrará a rota de fortalecimento. Teremos, finalmente, um administrador público pragmático e objetivo para desatar o maior nó regional. Alguém que poderá desempenhar no campo econômico o que Celso Daniel empenhou-se de corpo e alma na área institucional: dar ao Grande ABC o sentido de regionalidade da própria expressão que o identifica como região.
Volto ao assunto amanhã e devo me estender sobre vários matizes ao longo deste mês. O Grande ABC precisa aprender a dar prioridade ao que é prioritário. O Consórcio de Prefeitos é um convite ao embaralhamento temático. Não temos mais tempo a perder com firulas. Felizmente, William Dib parece dar-se conta disso. Se fizer apenas uma parte do muito que se tem para fazer no setor automotivo regional, ficará para a história como o maior prefeito de todos os tempos. Ele tem a vantagem de que não precisa dos demais prefeitos para chegar a tanto. Mas também tem a grandeza de compartilhar o sucesso com todos eles.
Pela primeira vez chegamos, portanto, a uma equação imune a eventuais sabotagens. Quem quiser pegar carona e, mais que isso, dividir a cabine de comando com William Dib, terá oportunidade. Quem preferir dar vez à vaidade fragmentadora, chupará o dedo. É pegar ou largar.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?