Uma nova boa notícia para o Grande ABC. Pelo segundo ano consecutivo, coincidentemente do governo Lula da Silva, egresso das bases metalúrgicas da região, o PIB (Produto Interno Bruto) regional, como poderia ser definido, grosso modo, o Valor Adicionado, registrou crescimento. Depois de acumular perdas de 39% durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, quando viveu o pior período de sua trajetória econômica e social, o Grande ABC registrou no ano passado crescimento real de 7,58%. O índice se soma aos 5,67% do ano anterior, primeiro do mandato de Lula da Silva. No somatório, o Grande ABC consegue desconto de 13,25% nos indicadores herdados dos tucanos, o que reduz o déficit para 25,75%. Ou seja: nos últimos 10 anos registramos perda de um quarto de nossa riqueza industrial.
Apartidário, partidarizei de propósito o enunciado essa informação exclusiva que tem como base dados do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) junto à Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. O IEME é um laboratório virtual que comando para desmantelar mentirosos de plantão.
Os leitores provavelmente estranharam, porque se há algo que detesto é ambiente de torcida organizada da política em assuntos econômicos e sociais. Fi-lo por ser indispensável: o governo Fernando Henrique Cardoso procedeu ao maior assassinato econômico contra uma região. Algo, como tenho cansado de afirmar, que só não ultrapassa em estupidez o triunfalismo que o Grande ABC se deu ao desfrute naquele período, por interesses variados, entre os quais uma safadeza generalizada de instituições que tinham por obrigação zelar pelo patrimônio ético e moral da região.
Por essas e por outras, quem quiser entender a história econômica do Grande ABC não pode, de forma alguma, separar o antes, o durante e o depois de Fernando Henrique Cardoso. Pagamos muito caro pelo pato de o Grande ABC ser núcleo do sindicalismo cutista e petista que os tucanos tanto detestam nesse jogo de soma zero da fratricida política nacional. A CUT hostilizou burramente FHC na única vez em que, como presidente da República, esteve no Grande ABC, na inauguração da linha de montagem do Ford Ka. Na sequência e ao sabor de abertura econômica apressada, o governo tucano enfiou goela abaixo da região muitos sabugos que calaram praticamente a todos.
Aos números, então!
O desempenho da economia do Grande ABC no ano passado, expresso no Valor Adicionado, não causa surpresa. Se o PIB nacional cresceu 4,9%, só tínhamos mesmo que avançar mais porque a indústria automotiva, carro-chefe regional a movimentar direta e indiretamente 70% da economia, estabeleceu novo recorde de produção. O Grande ABC viu diminuir participação relativa frente ao restante do Brasil na produção de veículos de todos os tamanhos, mas em termos absolutos elevou a produção. Não há outra explicação mais sensata, portanto. Em 2003, quando o PIB nacional avançou apenas 0,5%, o PIB do Grande ABC alcançou 5,67%. O abastecimento do mercado externo por nossas montadoras sustenta a ruptura com os anos de chumbo do governo FHC, quando a moeda valorizada e a descentralização automotiva, entre outros vetores microeconômicos e macroeconômicos, nos colocaram de quatro.
Ainda sobre o ritmo da indústria automotiva, recorro a dados de uma análise publicada recentemente na revista LivreMercado pelo jornalista André Marcel de Lima, que, entre outras funções, é setorista da atividade. Vejam o que ele escreveu:
"O balanço do desempenho da indústria automobilística brasileira no ano passado traz uma notícia positiva e outra negativa para o Grande ABC. Primeiro a boa: a produção regional de veículos pesados vai de vento em popa e supera a média de crescimento do setor no Brasil. Enquanto a produção nacional de caminhões e ônibus registrou crescimento de 28,19% em 2004, no Grande ABC o salto foi de 32,74%. A produção conjunta de Ford, DaimlerChrysler e Scania -- todas sediadas em São Bernardo -- pulou de 61.525 em 2003 para 81.672 unidades no ano passado, enquanto o volume brasileiro saltou de 105.928 para 135.796 no mesmo período".
"Com isso, a participação regional na produção nacional de pesados foi ampliada de 58,1% para 60,1%. Significa que o Grande ABC se consolidou ainda mais como peso pesado automotivo responsável por seis de cada 10 veículos de grande porte que saem das linhas de montagem do País. Agora a notícia negativa: a participação do Grande ABC na produção de automóveis e comerciais leves ficou ainda mais reduzida porque o crescimento regional no ano em que a indústria, como um todo, bateu recorde histórico, se deu em ritmo muito inferior ao do conjunto das plantas espalhadas pelo País. A produção brasileira de automóveis e comerciais leves saltou de 1.721.110 unidades em 2003 para 2.074.945 unidades em 2004 -- crescimento de 20,5%. Especificamente no Grande ABC, a produção de veículos leves evoluiu de 409.295 unidades em 2003 para 445.930 unidades no ano passado. Com crescimento de 9,17%, equivalente a menos da metade da média brasileira, a participação regional sofreu novo abalo nesse quesito. Caiu de 23,71% em 2003 para 21,49% no ano passado. Um tombo de mais de dois pontos percentuais no curto espaço de 12 meses" -- escreveu André Marcel de Lima, responsável pelo ineditismo de extrair de números nacionais a porção participativa do Grande ABC. Aliás, ele o fez bem antes da publicação da matéria que transcrevo parcialmente.
Mais informações
Nas próximas edições vamos descer a mais detalhes sobre o comportamento da economia do Grande ABC no ano passado. Antecipamos -- e vamos dar os motivos com substância -- que em termos relativos quem mais cresceu em 2004 foi a pequena Rio Grande da Serra. Entretanto, como a economia daquele Município é quase inexpressiva no âmbito regional, o resultado mais brilhante mesmo foi registrado por São Caetano. Descontando-se a inflação do período de janeiro a dezembro de 2004, utilizando-se para tanto o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), da Fundação Getúlio Vargas, indexador de todos os indicadores do Instituto de Estudos Metropolitanos, São Caetano alcançou 31,14% de avanço nos 12 meses. Graças ao peso da General Motors que, ao lado de Casas Bahia, centraliza a maior parte das receitas tributárias locais.
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