O futuro é feito de plástico. Essa foi a frase da atriz Anne Brankoft para o ator Dustin Hoffmann no filme A Primeira Noite de um Homem, em 1967. Anne interpretava uma mulher madura que seduzia o jovem Hoffmann, recém-saído da universidade. Ela o aconselhava a trabalhar no setor plástico que, nos anos 60, apresentava horizontes altamente promissores. Passados 40 anos, o Grande ABC não precisa da ficção para admitir que o futuro ainda é de plástico e que a próxima década será dedicada à adaptação das cerca de 700 empresas — principalmente as transformadoras de terceira geração — a um crescimento projetado para toda a cadeia produtiva. A região se prepara para enfrentar os próximos anos com a criação do Ciap (Centro de Informação e Apoio à Tecnologia do Plástico), base de apoio para pequenas e médias empresas do setor e que fornecerá orientação tecnológica e de mercado, além de estudos para a área de produção. O Ciap será implantada na Fundação Santo André e fortalece a sinergia academia-mercado.
A oportunidade não costuma bater duas vezes à porta. No caso do Grande ABC, as perspectivas de crescimento no setor plástico estão desenhadas desde janeiro deste ano, quando o presidente Lula assinou acordo para parceria entre a Petrobras e a PQU (Petroquímica União) para ampliar o fornecimento de gás de refinaria para o Pólo Petroquímico. Os investimentos são estimados em US$ 300 milhões. “Essa quantia se amplia por três quando se desdobra para o setor plástico” — afirma Hamilton Magalhães, que coordena a implantação do Ciap e é responsável pelo curso de Engenharia de Materiais da Faculdade de Engenharia da Fundação Santo André.
Produto de acordo entre a Fundação Santo André, a Finep (Financiadora de Estudos e Projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia), e Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, o Ciap terá investimento de R$ 416 mil. O novo centro de orientação do setor plástico deve estar pronto até agosto e vai ocupar algumas salas na Fundação Santo André. Terá cinco bolsistas no quadro técnico, profissionais que no mês passado concluíram a primeira etapa do treinamento realizado no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), sobre modelos de teoria da inteligência, inteligência competitiva, barreiras tecnológicas e circuitos de informações.
Combinação de excelências
O Ciap é fruto da combinação de excelências e avanços técnicos do Grande ABC. O IPT, que forma os técnicos do novo centro, é expoente em inteligência competitiva. A Fundação Santo André participa do empreendimento com o único curso de Engenharia de Materiais da região. A Agência de Desenvolvimento, por sua vez, conseguiu com que o projeto do Ciap fosse o vencedor de uma disputa que envolvia outras propostas analisadas pela Finep.
Empresários poderão solicitar ao Ciap orientação para problemas ou projetos. A informação será estratégica no novo centro que vai fornecer entre outros insumos dados sobre o processo de produção, características de matérias-primas e informações sobre normas para exportação. Não são informações simples, nem mesmo baratas. Uma consulta à legislação ou normas técnicas para exportar caneta para a União Européia não sai por menos de R$ 50 mil em caso de acesso à base de normas ou de dados disponibilizados por empresas especializadas. Como o Ciap pretende adquirir o acesso a essa e outras bases de informações específicas, o custo seria compartilhado entre os associados.
Superada a fase de sustentação por meio de recursos da Finep, o Ciap será mantido pelas empresas associadas. Uma contribuição anual permitirá ao empresário determinado número de consultas por período. O perfil do futuro associado é o pequeno ou médio empresário, geralmente ex-operário especializado do setor plástico que se associou com outro empreendedor para alugar um galpão e comprar equipamentos de segunda-mão com o objetivo de começar a produzir. “Esse tipo de empresário carece de informação tecnológica e técnica. Não conhece novas tecnologias, processos, polímeros e resinas. Quando se municia esse empreendedor com um sistema de informações, ele muda o processo e melhora o desempenho da empresa” — avalia Hamilton Viana, coordenador do Ciap.
O novo centro deve permitir que empresas do Grande ABC possam ganhar vantagens competitivas que consolidem o setor plástico regional. As necessidades de avanço tecnológico na produção brasileira de plástico são pontuais, de acordo com o professor Hamilton Viana. “Em termos de resinas e polímeros, o Brasil não deixa a desejar, produzindo commodities em alto volume. Estamos em pé de igualdade com Estados Unidos, Japão e Alemanha. Nas especialidades ainda somos importadores. Em termos de equipamentos, temos máquinas de transformação com fabricação nacional. Quando falamos em equipamentos para avaliação, também dependemos de importação” — descreve o coordenador do Ciap ao falar das lacunas que deverão ser preenchidas com a atividade do novo centro.
O papel a ser cumprido pelo Ciap num primeiro momento não será de catalisador de avanços de alta tecnologia, mas apenas de facilitador para empresas do setor. “Às vezes não se precisa chegar ao top. É só subir um ou dois degraus para se conseguir uma melhora fenomenal. O ganho em algumas etapas do processo produtivo representa bastante para o empresário” — analisa o coordenador do Ciap.
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