Depois de oito anos seguidos de derrotas, período que coincidiu com o governo Fernando Henrique Cardoso, o Grande ABC conseguiu recuperar parte das perdas de produção de riqueza durante o primeiro ano do governo Lula da Silva, em 2003. O resultado exclusivo deste veículo está fundamentado em números preliminares da Secretaria da Fazenda do Estado.
No ano em que o PIB (Produto Nacional Bruto), que é a soma de riquezas produzidas no País, caiu 0,2%, o Valor Adicionado (produção de riqueza industrial) cresceu 14,38% no Grande ABC. Descontada a inflação do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas, de 8,71%, o crescimento real do Grande ABC alcançou 5,67%. No período ultraliberal de Fernando Henrique Cardoso o Grande ABC emagreceu 39% em Valor Adicionado. Com o resultado do ano passado, a perda em nove anos cai para 33,33%.
Como se explica o comportamento do agregado de valor de riqueza produtiva do Grande ABC num período em que o País caiu pelas tabelas e foi salvo de debacle maior pelas exportações e pelo agronegócio? Comparativamente ao rendimento do Estado de São Paulo, o Grande ABC também se saiu bem no ano passado, já que na média os municípios paulistas cresceram nominalmente 8,66%, ou seja, um pouco abaixo da inflação de 8,71% do período.
No conjunto, os sete municípios da região registraram R$ 30,2 bilhões de Valor Adicionado, contra R$ 26,4 bilhões de 2002. Geramos menos da metade do VA da Capital, que atingiu R$ 76 bilhões, em números redondos. A soma de Campinas, São José dos Campos e de Sorocaba alcança R$ 26 bilhões. A comparação é pertinente porque esses três municípios contabilizam em conjunto população semelhante à do Grande ABC. Conseguimos, portanto, afastar o empate técnico que aquele G-3 havia alcançado no ano passado, depois de um encurtamento histórico da diferença, que chegou a 50% em favor do Grande ABC.
O problema é que, sedes de três regiões metropolitanas que brotaram da desindustrialização da Grande São Paulo, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos perdem a inflexão industrial porque também se tornam urbanisticamente complicadas. Entretanto, as cidades próximas acabam por absorver os investimentos. Contrariamente, portanto, aos principais municípios industrializados da Grande São Paulo, que perdem para terceiros mais distantes. Fora de seu eixo desenvolvimentista.
Rio Grande da Serra é o Município da região que em termos relativos mais produziu riquezas no ano passado: passou de R$ 36,4 milhões em 2002 para R$ 53,6 milhões em 2003, ou 38,57% de aumento real. Santo André vem a seguir com 10,19%, passando de R$ 4,5 bilhões para R$ 5,4 bilhões. São Caetano cresceu 5,93% em termos reais, de R$ 3 bilhões para R$ 3,5 bilhões. Em seguida vem São Bernardo com avanço real de 5,62%, de R$ 10,7 bilhões para R$ 12,3 bilhões. Diadema registrou crescimento real de 4,06%, contabilizando Valor Adicionado de R$ 4 bilhões, contra R$ 3,5 bilhões do ano anterior. Ribeirão Pires apresentou performance semelhante com crescimento de 3,70%, de R$ 385,9 milhões para R$ 433,8 milhões. Completando o grupo, Mauá cresceu em termos reais apenas 1,84%, de R$ 4,1 bilhões para R$ 4,5 bilhões.
Limite de perdas
Há várias explicações para a recuperação de parte do Valor Adicionado do Grande ABC depois de trajetória descendente e asfixiante. A principal é que provavelmente a região já tenha chegado ao limite de perdas físicas de produção, sem que isso, necessariamente, seja caracterizado como o encerramento da temporada de desativação e evasão industriais. Como assim? Isso significa que continuaremos a perder unidades industriais pela força de atratividade do cinturão da Grande São Paulo expandida, mas os ganhos de produtividade assegurarão desempenho positivo.
Os investimentos em máquinas, equipamentos, processos, treinamento e reciclagem de mão-de-obra formam coquetel de aperfeiçoamento das linhas de produção. Seremos cada vez mais uma região muito próxima da modernidade internacional, mas com número cada vez mais compacto de estabelecimentos. A globalização impõe as regras do jogo da competitividade.
Comemos o pão que o diabo amassou durante os anos FHC. Nos anos 90 desapareceram 100 mil empregos industriais com carteira assinada. As empresas cortaram além da conta, especialmente na fase de radicalização do enxugamento de estruturas e de pessoal. A recomposição da mão-de-obra industrial, mesmo em período de crescimento como no ano passado e neste ano, será a conta-gotas. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego relativos aos 12 meses da temporada passada em que o Valor Adicionado do Grande ABC avançou 5,67% além da inflação registram saldo de apenas 2.129 empregos industriais formais. É muito pouco. Não dá para comemorar. Mas também paramos de nos lastimar.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?