Economia

Diadema descobre beleza
que pode ser ainda maior

DANIEL LIMA - 29/06/2004

Demorou para a esquerdista e sisuda Diadema descobrir que a livre iniciativa pode cooperar e muito para atenuar os problemas sociais, quando não para levar a comunidade a dar um salto de qualidade de vida pela via consagrada do desenvolvimento econômico. Desde que Gilson Menezes foi eleito primeiro prefeito petista da história, em 1982, Diadema pouco se lixou com empreendimentos privados. Chegou mesmo, na gestão de José Augusto da Silva Ramos, a patrocinar escaramuças tributárias que saíram barulhentamente do Paço Municipal e se consumaram em campanhas de hostilidade explícita, em outdoors espalhados pelas principais vias.


 


Mas nada que o tempo não resolva. Uma prova provada da mudança surgiu e se fortalece na gestão de José de Filippi Júnior por meio de parceria da administração pública com número crescente de empresas do chamado Pólo de Cosméticos. Como LivreMercado mostrou em histórica Reportagem de Capa, publicada em julho de 2002, a então e hoje menos Capital regional da criminalidade sediava logomarcas estelares e desconhecidas da indústria da beleza. Um paradoxo, como se vê. Primeiro porque beleza e segurança em frangalhos não costumam se juntar. Segundo porque socialismo empedernido e capitalismo atrevido são como cão e gato. 


 


O mais importante da surpreendente história da indústria da beleza de Diadema não é necessariamente o fato de ter superado enraizada discriminação de uma série de governantes locais e se cristalizado num espaço em que os rombos sociais sempre centralizaram a preocupação dos gerenciadores públicos. O que marca o setor de cosméticos em Diadema, além da aproximação recente entre Prefeitura e empreendedores, é a constatação de que o mercado se dirigiu autonomamente àquele endereço municipal. Portanto, não seguiu qualquer script de atratividade planejada.


 


Diadema se tornou Capital da beleza nacional à revelia de gestores públicos e, também, dos próprios empreendedores, isolados em seus objetivos e desarticulados como representação de classe. Mais que isso: enfrentou todas as adversidades públicas ao longo de anos em que o capital era maltratado pela obsessão ideológica que reconhecia apenas valores supostamente igualitários e lançavam a meritocracia no cesto do lixo.


 


Superando desleixos


 


A tormenta que caracterizou a consecução do Pólo de Cosméticos de Diadema superou, portanto, a oposição e o desleixo de governos municipais hipnotizados pela exclusividade de corrigir uma geografia acidentada por natureza e infestada de caudalosas levas de migrantes. Nada, absolutamente nada, portanto, saiu da prancheta de planejadores públicos e de consultorias privadas para erigir uma Diadema ao mercado de cosméticos. A própria natureza de seguir impulsos, uma das marcas registradas do capitalismo, tratou de responder às demandas do mercado. A "improvisação organizada" -- que só mesmo as forças econômicas podem explicar no jogo de complementaridade de suprimento, produção e comercialização -- tratou de preencher na medida do possível o buraco que se abria em meio àquela cada vez mais densa e aparentemente caótica e acelerada construção do Município.


 


Uma história, como se observa, diferente dos dois pontos principais que demarcaram a geoeconomia da região a partir da segunda metade do século passado, quando a indústria automotiva e o pólo petroquímico aqui se instalaram de forma previamente definida, seguindo planejamento estratégico federal.


 


Se o Pólo de Cosméticos de Diadema foi capaz de resistir ao desconhecimento de sua própria existência e, em consequência, da própria potencialidade de organizar-se coletivamente, são mais que evidentes as ramificações profundas que lhe garantiriam resistência nestes tempos de globalização.


 


Com a Prefeitura acessível ao setor, entre outros motivos porque captou a lógica de que a consequência pragmática do fortalecimento das empresas resultará em novos nacos de tributos, é mais que provável que a solidez dos negócios poderá ser reforçada com novos empreendimentos na área. Sim, novos empreendimentos, porque o que não faltam em Diadema são galpões ociosos para dar vazão à efetivação de algo mesmo que parcialmente semelhante aos clusters, ou seja, empresas de atividades complementares entre si.


 


Competividade possível


 


Já teria passado da hora de a Prefeitura de Diadema investir num novo lance acrobaticamente demolidor do estigma de que seus comandantes sempre privilegiaram o social em detrimento do econômico. Embora a viagem do desinteresse tenha sido iniciada há muito tempo e mesmo considerando que a troca de peças estratégicas com fadiga de material se deu com certo atraso, a embarcação de competitividade está ao alcance de todos que se juntarem. Basta aprofundar o diagnóstico e acertar a mira do planejamento. Seria muito bem vindo, portanto, um campus da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) voltado à atividade e vocacionado a reforçar os recursos humanos em combinação com a modernização tecnológica.


 


A Capital Política do Grande ABC pode não se ter tornado ainda integralmente entregue à sedução do capital como ferramenta de transformações sociais. Mas, sem dúvida, já está enamorada das vantagens de aliar-se aos meios de produção. E nem pode mais perder tempo, porque os tempos de improvisação são cada vez mais passado, já que há muito prevalece nos investimentos o detalhadamente minucioso de medidas para enfrentamento de um mundo sem limites geográficos.  


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