Desapareceram do mapa do Estado de São Paulo nos últimos cinco anos -- entre dezembro de 1998 e dezembro de 2003 -- nada menos que 34.787 indústrias de variados tamanhos, ou 19,44% do efetivo. Um arraso, como se pode ver. Não há dados anteriores do Ministério da Fazenda, que controla as empresas formais do País. É mais que provável que retroceder nas estatísticas, se houvessem estatísticas, seria um exercício dolorido. Principalmente para o Grande ABC, de dantesca trajetória de dessarrumação industrial a partir da abertura econômica de Collor de Mello, agravada pela irresponsável política econômica do governo FHC. Mesmo assim, ou seja, mesmo depois do dilúvio, o Grande ABC perdeu 1.665 indústrias nos 60 meses encerrados em dezembro do ano passado. Tínhamos 9.489 empresas do setor de produção em 1998. Sobraram 7.824 cinco anos depois, conforme o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica).
Esses dados são exclusivos. Foram extraídos em parceria com Marcos Pazzini, diretor da Target Marketing e Pesquisas, a empresa mais confiável em analisar o potencial de consumo do mercado brasileiro. Marcos Pazzini também é dirigente do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), laboratório de dados e análises que criamos com um grupo de profissionais das mais diferentes atividades no Grande ABC. O IEME mede entre outros vetores a competitividade dos principais municípios paulistas, com base num só aparentemente emaranhado de 15 variáveis criminais, econômicas, financeiras e sociais.
Um show de recolhimento e sistematização de informações que a maioria da imprensa fastfoodiana ainda não aprendeu a utilizar porque se perde no arrasta-pé de um cotidiano mimetizado reciprocamente por redações cada vez mais burocráticas. Não vou dar exemplos porque seria constrangedor para pauteiros e editores.
Voltando ao dilúvio industrial paulista, constatamos depois de série de medições e esquadrinhamentos que o conjunto formado pelo G-7 regional (os sete municípios do Grande ABC), pelo G-3 paulistano (São Paulo, Osasco e Guarulhos), e o G-3 interiorano (Campinas, Sorocaba e São José dos Campos) perdeu 21.336 empresas industriais do total de 34.787 do Estado, ou seja, 61,33% do universo paulista. O restante do Estado viu desaparecerem 13.451 indústrias. De 178.914 indústrias que constavam dos computadores do Ministério da Fazenda em dezembro de 1998, restaram 144.127 no Estado de São Paulo cinco anos depois. Uma quebra de 19,44%.
Problemas específicos
O caso paulista de mortandade industrial, quando confrontado com os números do território nacional, é claramente definidor de problemas específicos de nosso Estado. Em 1998 o Brasil contava com 558.757 indústrias e a participação do Estado de São Paulo chegava a 32,02%. Cinco anos depois, em dezembro de 2003, o Brasil passou a registrar legalmente 584.799 indústrias e a participação relativa de São Paulo foi reduzida a 24,64%. Com a inclusão dos números negativos dos paulistas, a indústria nacional apresentou avanço de apenas 4,66% em unidades. Retirando-se os paulistas, cuja queda de 19,44% compromete os números gerais, o ganho do País atinge expressivos 16%. São Paulo de fora, o Brasil contava com 379.843 unidades industriais em dezembro de 1998, contra 440.672 em dezembro de 2003. Ou seja: enquanto os paulistas perderam 34.787 unidades, o restante do Brasil ganhou 60.829.
Aparentemente a situação do Grande ABC não é pior que a média do Estado, porque perdemos 17,54% de unidades, contra 24,45% da Capital, 18,76% de Campinas e 19,42% de Sorocaba, os municípios que mais ultrapassaram nosso desempenho. Se observado puramente por esse ângulo, pelo ângulo dos deserdados, não estamos na pior, como poderiam imaginar. O problema é que nossas perdas sobrepuseram-se às demais, conforme provam nossos estudos sobre Valor Adicionado, que é a medida de transformação do produto industrial.
Melhor dizendo: enquanto boa parte dos demais municípios do G-3 paulistano e do G-3 interiorano conseguiu elevar a participação relativa no Valor Adicionado, ou perderam bem menos que o Grande ABC, ficamos catando lata o tempo todo porque aqui foi insidiosa a associação de dissolução de empreendimentos industriais e rebaixamento de produção do parque de transformação de produtos.
É muito provável que os números do Ministério da Fazenda identifiquem um segundo fenômeno pós-abertura econômica destrambelhada. O primeiro, como se sabe, foi uma corrida maluca de desempregados industriais que se projetaram ao mercado como empreendedores. A maioria dos quais, sem dúvida, até pelo custo relativamente baixo de virar patrão, preferiu o setor terciário, de comércio e serviços. Os que aderiram ao negócio de pequeno porte industrial também significaram quantidade relativamente expressiva. Com isso, num primeiro instante, inflaram as estatísticas de empreendedorismo industrial. O segundo fenômeno vem na sequência, principalmente depois da desvalorização do real, no começo de 1999, quando a fantasia da moeda primeiromundista do governo FHC se diluiu: os pequenos negócios industriais foram de vez engolfados pelos efeitos da competitividade encardida que prevaleceu e prevalece entre os grandes conglomerados industriais.
Voltaremos amanhã para explicar por que o Estado de São Paulo está perdendo a corrida industrial para os demais Estados e vê sua participação relativa no PIB nacional do setor definhar em proporção quase semelhante à quebra de unidades de produção. Entre outros motivos está um governo do Estado pouco capaz de organizar a estrutura produtiva porque, tanto sob o comando de Mário Covas quanto de Geraldo Alckmin, recrudesce um viés arrecadatório que dotou a Fazenda Pública de mecanismos inexoravelmente modernos nas artimanhas legais de reduzir a massa sonegadora e maximizar as fontes formais. Para felicidade de Estados menos ostensivamente tributaristas.
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