Um dos homens de ouro do prefeito Celso Daniel está enfurnado no meio acadêmico e, portanto, longe das lides produtivas. Nada mais lamentável. Estou me referindo a Jeroen Klink, um holandês torcedor do Ajax que Celso Daniel elevou à condição de secretário de alta qualidade quando Santo André emergiu na liderança de debates que colocaram temáticas econômicas acima de todos os patamares anteriores na região. Nada que fosse fenomenal, embora importante, porque até então e também depois de então o que tivemos e temos na Província do Grande ABC é uma quase marginalidade em termos de empenho e competência.
Jeroen Klink reapareceu na Imprensa regional na semana passada ao conceder entrevista ao ABCD Maior, versão digital, sob o título “Parques Tecnológicos criam ambiente para a inovação”. O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, também presidente do Clube dos Prefeitos, já deve ter lido o material. Se não o fez por eventual falha de assessoria, deverá fazê-lo. Assim, saberá distinguir polo tecnológico, ou parque tecnológico, de conglomerado de empresas. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, mas para Luiz Marinho, ex-metalúrgico que não se deu conta do que se passava além-fronteiras sindicais, tudo é a mesma coisa.
Tanto que tudo é a mesma coisa que em recente entrevista ao Repórter Diário, Marinho chegou ao desplante de afirmar que o setor automotivo de São Bernardo constituiu o primeiro parque tecnológico do Município. Uma barbaridade. Uma estupidez informativa. Provavelmente o secretário de Desenvolvimento Econômico, Jefferson da Conceição, deve ter-lhe dito, colaborativamente, que se trata de um equívoco descomunal. Ou Conceição prefere mesmo o silêncio de quem detesta contrariar o chefe?
Para Marinho ler
Na entrevista ao ABCD Maior, publicação com viés de centro-esquerda, Jeroen Klink respondeu sobre a diferença entre parque, polo e rede tecnológica. Vejam só o que ele disse e que, repito, Luiz Marinho precisa ter conhecimento até mesmo para que seus sonhos de atingir novos patamares públicos não conflitam com a estreiteza cultural:
Os parques tecnológicos, polos ou redes são empreendimentos para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e da inovação. São espaços que oferecem oportunidade para as empresas transformarem pesquisas em produto, aproximando as instituições de ensino ao setor produtivo. Não vejo diferença entre eles, apenas o conceito é dado de acordo com quem vai implantar. Eles desenvolvem inovação em diversos aspectos não somente de produto ou processo, mas social, ambiental, criam soluções para os problemas das cidades como mobilidade urbana. E boa parte do que é criado neles pode ser utilizada em diversas outras áreas.
Leram os leitores com atenção o que disse Jeroen Klink, atualmente orientador de pós-graduação na Universidade Federal do Grande ABC, além de lecionar Economia e Sociedade Regional no Programa de Mestrado em Administração na Universidade Municipal de São Caetano? Jeroen é doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e mestre em Economia Internacional e Economia Financeira pela Universidade Católica de Bragant, Tilbur-Holanda.
Jeroen Klink foi ouvido durante muito tempo por este jornalista e por outros jornalistas da revista LivreMercado na gestão de Celso Daniel. Tanto que, embora ainda em fase de transplante de acervo, contamos com 22 matérias em que aparece esse especialista em regionalidade.
O que Jeroen Klink não disse porque não foi perguntado, e sei lá se diria se contrapusesse à indagação a declaração de Luiz Marinho, é que relacionar o setor automotivo da região a qualquer uma das três alternativas de conglomerado tecnológico sinérgico beira à loucura. Então, vou esclarecer a Luiz Marinho, em rápidos parágrafos, as razões de as automotivas e de as autopeças de São Bernardo jamais terem integrado um polo tecnológico, um parque tecnológico, ou uma rede tecnológica:
Primeiro, porque sempre centralizaram preocupação com interesses capitalistas específicos, sem dar a menor bola para a sociedade que as cerca. Segundo, porque as montadoras mantiveram e mantém as autopeças em regime de cabresto, estabelecendo competição encardida que as tornaram reféns a ponto de as pequenas empresas familiares do setor terem desaparecido. Terceiro, são exceção e não regra os relacionamentos entre empresas e o Ensino Superior instalado na região. Quarto, somente agora e por instinto de sobrevivência as montadoras se manifestam preocupadas com mobilidade urbana, imputadas como grandes vilãs pelos mercadores imobiliários que também são intestinamente responsáveis pela maçaroca sobrerrodas em que se transformou a qualidade de vida nos grandes centros humanos. Quinto, montadoras e autopeças jamais tiveram inserção nas administrações municipais, exceto em ações individuais ou grupais das quais se beneficiassem ou se protegessem.
Viés sindicalista
Poderia listar muito mais elementos que dissolveriam qualquer tentativa de atribuir ao setor automotivo da região, e especificamente de São Bernardo, algo que fugisse do conceito de individualidades mercantis que respondem a diferentes anseios e projetos dos acionistas internacionais aos quais estão vinculadas com a máxima de lucratividade a todo custo. Luiz Marinho pode não entender de parque tecnológico, mas entende de montadoras e autopeças como poucos. A pregação em torno de um falso conglomerado sinérgico com os anseios da sociedade deprecia o prefeito de São Bernardo.
Ainda sobre a entrevista de Jeroen Klink ao ABCD Maior, registro a confiança daquele regionalista no futuro de parques tecnológicos na região.
O Brasil, a partir da gestão do ex-presidente Lula (PT), criou uma série de politicas industriais que contemplam incentivos fiscais, apoio a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos, entre outros itens que fazem a diferença para impulsionar a criação dos parques. Além dos prefeitos desses dois municípios (São Bernardo e Santo André), os parques têm apoio do movimento sindical. O presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico da Região (Rafael Marques) é também presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Historicamente os sindicados são os pontos de pressão, são eles que conhecem bem a necessidade das empresas se tornarem competitivas para manter o trabalho e a renda da população. Eles conhecem melhor que ninguém a importância dos parques para a Região.
Jeroen Kling exagerou na dose. O governo Lula da Silva não deixou marca que possa ser catalogada como minimamente impressionante em políticas industriais. Mais que isso: não foram poucos os projetos que lançou e jamais decolaram. Lula da Silva notabilizou-se pelo culto ao consumo, movido pela inclusão social de programas financiados pelo crescimento do PIB notadamente na esteira da exportação de commodities aos chineses, principalmente.
Além disso, esperar que os sindicalistas conduzam ou liderem o processo de parques tecnológicos na região é submeter-se ao império de vieses ideológicos e corporativos que não combinam com critérios de equilíbrio assegurado pela participação de empresários, lideranças sociais e gestores públicos. Quando o tripé formado por Mercado, Sociedade e Estado tem uma perna maior que a outra, o estrago é geral.
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