O Secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Jefferson José da Conceição, que se cuide. Mesmo com entranhas sindicalistas, como assessor de entidades ligadas a trabalhadores, esse acadêmico pode ser vítima de perseguição de dinossauros que ainda transitam pela região, notadamente no entorno da Administração Luiz Marinho.
A iniciativa de promover o que chama de turismo industrial colide com o unilateralismo petista de glorificar acriticamente a classe trabalhadora, notadamente a classe trabalhadora egressa de chãos de fábricas de montadoras e autopeças.
A iniciativa do secretário não é assim uma Brastemp em matéria de transformações sustentáveis, mas tem valor simbólico extraordinário. É um choque na visão caolha de que só o trabalho faz a riqueza, que o capital deve ser excomungado ou servir apenas de correia de transmissão a financiamentos eleitorais escusos.
Tanto o empreendedorismo privado ainda é mal visto que a Administração Luiz Marinho está construindo com ajuda federal o chamado Museu do Trabalho e do Trabalhador, voltado exclusivamente a quem suou a camisa nos chãos de fábricas. Os pequenos e médios empresários, e mesmo os grandes, das montadoras sempre bem exploradas, não terão importância alguma naquele espaço.
A extratificação de que a Província do Grande ABC carrega em seu vente uma rejeição explícita aos empreendedores está na morte do pequeno empresário e consultor de classe Cláudio Rubens Pereira. Os jornalistas que sobraram na praça – a maioria se escafedeu enquanto outros já foram desta para outra melhor – não têm a menor ideia de quem se trata e muito menos a curiosidade de ouvir quem sabe de quem se trata. Os homens púbicos então, vereadores, deputados, prefeitos, só têm memória àqueles que lhes ajudaram a abrir portas a financiamentos eleitorais muitas vezes espúrios. Já os sindicalistas contam com todo o aparato de marketing pós-morte.
Um gol de placa
Então, não poderia passar em branco a iniciativa de Jefferson José da Conceição. Turismo industrial não é novidade no território nacional, rebocado de experiências europeias. Mas em se tratando de Província do Grande ABC é um gol de placa. Até porque não parece algo improvisado, perdido em meio à necessidade de mostrar serviço.
A Administração Marinho é uma calamidade em termos organizacionais quando se trata de desenvolvimento econômico, porque quer agarrar o mundo de alternativas para fugir da dependência da Doença Holandesa da indústria automotiva. Até poderia tentar agarrar o mundo, porque lhe poderia sobrar alguma coisa. Desde que o secretário de Desenvolvimento Econômico contasse com aparato de recursos humanos, técnicos e financeiros para executar muitas propostas formuladas como cartas de intenção.
A notícia sobre o turismo industrial em São Bernardo foi publicada no ABCD Maior e também no Diário Regional. A informação foi bem mais substanciosa no Diário Regional. A jornalista Aline Melo mostrou que o programa teve início quarta-feira com um grupo de 16 pessoas que visitaram a linha de produção de embalagens de vidro da Wheaton Brasil, líder no segmento de perfumaria, cosméticos e farmacêuticos. O grupo foi recebido por funcionários da empresa, participou de um café da manhã e visitou toda a linha de produção.
O profissionalismo da iniciativa inclui uma agência de viagens, a Happy House, que está comercializando passeios a partir do mês que vem. Com razão, a especialista Sandra Regina Croco, executiva da empresa de turismo, afirmou que a modalidade poupa muito investimento das empresas em marketing, porque os turistas passam a fazer a divulgação da experiência.
Museu da parcialidade
Tivesse maior conhecimento regional, Sandra Regina acrescentaria ao discurso o quanto São Bernardo e a Província do Grande ABC também lucram com a iniciativa. A imagem de região de operariado rebelde e anticapitalista não condiz com a sede de empreendedorismo generalizado, embora o passado tenha deixado marcas indeléveis. Como é o caso do Museu do Trabalho e do Trabalhador que poderia ter dado vez a algo mais interessante e por que não lucrativo, algo como o Museu do Automóvel.
Tomara que a iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo não se dissolva após os impactos iniciais. Sabe-se que outras fábricas constam da lista de visitas. Apesar da centralidade automotiva, não faltam setores a contar com exemplares que despertariam a atenção de visitantes. A Karmann-Ghia e a Rolls Royce já estariam no roteiro. Cada turista pagará R$ 45 pelo passeio pedagógico, incluindo-se no programa translado, café da manhã e restaurante da fábrica.
Se não temos muitas belezas naturais para exibir em condições minimamente técnico-operacionais, já que os imensos mananciais são relegados historicamente a invasões e abusos, não custa nada mesmo pegar o que está pronto, acabado, em pleno funcionamento, e definir roteiros alternativos à visitação. O Brasil e também a própria Província do Grande ABC precisam saber o que e como produzimos uma parte relativamente importante da riqueza nacional. O espirito vivo do capitalismo pode perfeitamente conviver numa terra agressiva aos empreendedores no passado e burramente ignorada no presente.
Valorização do empreendedorismo
Outras secretarias de Desenvolvimento Econômico da região poderiam juntar-se ao projeto de Jefferson José da Conceição. A regionalização do turismo industrial só traria bons fluídos. E não contemplaria somente os turistas, mas os próprios responsáveis pelas secretarias que, também como turistas locais, poderiam estreitar os laços com as companhias privadas. Esse mundo desconhecido de todos nós porque insistimos em tratá-lo como um mundo à parte, é um mundo que faz parte do nosso mundo, queiram ou não os radicais que incensam o trabalho em detrimento do empreendedorismo.
O espírito de Cláudio Rubens Pereira e de tantos defensores dos pequenos e médios negócios que se foram estará sempre presente nestas terras, por mais que forças obsoletas ecoem apenas um lado da moeda do desenvolvimento econômico.
E por falar em Cláudio Rubens Pereira, não poderia deixar de registrar uma mensagem de Angela Athaíde, amiga de tantas horas e durante muitos anos executiva do Ciesp, Centro das Indústrias, em Santo André. Ela se manifestou sobre a morte de Cláudio Rubens Pereira no tom consternador de quem conheceu aquela liderança empresarial e se lembrou de outros dois contemporâneos que igualmente já se foram, casos de Alberto Vassoler e Hiroshi Yamamoto. Angela evocou aqueles tempos de ações institucionais com saudade. Respondi-lhe também em breve mensagem que ao menos tínhamos esperança e sonhos.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?