Inércia e ação continuam a pontuar o comportamento e a visão estratégica das autoridades do Grande ABC. Enquanto a região não decide se quer integrar-se ou não ao Porto de Santos, abrigando retroporto na confluência do futuro trecho sul do Rodoanel com o Sistema Anchieta/Imigrantes, Mauá acaba de aprovar nova Lei de Zoneamento que garante acesso de micro e pequenas empresas ao Pólo Industrial de Sertãozinho.
A questão do retroporto, que motivou Reportagem de Capa de LivreMercado em outubro de 1999, tornou-se ainda mais urgente no mês passado, quando o Conselho de Autoridade Portuária do Porto de Santos (CAP) definiu prazo de um ano para que empresas de transporte de cargas criem áreas de estacionamento, privadas ou cooperativadas. O objetivo é expandir em 40% os espaços operacionais do porto e finalizar a privatização dos terminais que abastecem navios. Ainda neste semestre será leiloado o terminal de contêineres Tecon II. Até o fim do ano devem entrar em licitação 28 áreas operacionais restantes. A Codesp (Companhia Docas do Estado), administradora do porto, quer que essas áreas sejam de múltiplo uso e não mais restritas a produtos específicos como o açúcar, principal item das exportações.
Wagner Rossi, presidente da Codesp, considera estratégica a instalação de retroporto no Planalto porque desafogaria o tráfego de carga pesada no Sistema Anchieta/Imigrantes. O fluxo atual é de aproximadamente três mil caminhões/dia. Com isso, Rossi afirma que estaria garantida maior competitividade ao terminal portuário, com redução de custos e agilização de embarques. Como até agora as autoridades do Grande ABC não mostraram interesse no empreendimento, a Codesp analisa a possibilidade de o retroporto ser instalado na Baixada Santista. A desvantagem embutida nessa alternativa é que não será possível controlar o tráfego de carga pesada na descida da Serra do Mar, fator de atrasos permanentes em embarques de mercadorias.
"Retroporto é excelente negócio. Existe nos portos mais modernos do mundo. Gera empregos e dá lucro" -- diz Fernando Viana, diretor comercial da Codesp. Um dos fatores de crescimento do Porto de Paranaguá (PR) nos últimos anos é o retroporto operado pela iniciativa privada. O empreendimento tem espaço para estacionamento de caminhões, hotel, oficinas, área de alimentação e outros tipos de comércio e serviços. Maior e mais movimentado do País -- embarcou e desembarcou 42,7 milhões de toneladas em 1999 --, o Porto de Santos precisa do retroporto para consolidar-se como concentrador de cargas do Mercosul.
Quanto à privatização das últimas áreas operacionais de embarque e desembarque ainda neste ano, há informações de que montadoras estariam interessadas em entrar no negócio estimuladas por novos mercados importadores, como México e África do Sul. A Volkswagen demonstrou interesse em anos recentes, mas não confirma e nem desmente renegociação. Fernando Viana desconversa: "Não sei de nada".
Novo Sertãozinho
Se o retroporto é incógnita, o Pólo Industrial de Sertãozinho promete deslanchar em Mauá. A nova Lei de Zoneamento permite instalação de indústrias em áreas de 500 metros quadrados. Há oferta de cinco mil quilômetros quadrados ao preço de R$ 30 o metro quadrado. Outra novidade é a permissão para que sejam instalados condomínios empresariais. Três grupos já procuraram a Prefeitura de Mauá interessadas nesse tipo de empreendimento.
A nova Lei de Zoneamento permite atividades comerciais e de serviços em áreas residenciais, desde que compatíveis com a tranquilidade dos moradores. Com a regularização das Zonas de Uso Industrial, será possível legalizar perto de 300 estabelecimentos. A Câmara de Mauá também aprovou a polêmica doação de 30 mil metros quadrados, no Centro, para o Grupo Peralta, proprietário de outros 62 mil metros quadrados. No local será construído shopping center com 200 lojas, duas mil vagas de estacionamento e um hipermercado Extra. O investimento previsto é de R$ 40 milhões.
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