Economia

Nossas mazelas
sem tapeações

DANIEL LIMA - 05/04/1999

Viva! Pela primeira vez as mazelas da região foram colocadas à mesa de debates pelo Poder Público sem meias-palavras. O documento preliminar preparado pela Câmara do Grande ABC intitulado Uma Breve Leitura do Grande ABC, base do workshop que a entidade promoveu no final de março no Hotel Estância Pilar, em Ribeirão Pires, resume grande parte da situação econômica, social e política da região. Redigido a muitas mãos e cabeças, já que entre os subscritores do trabalho estão o prefeito Celso Daniel, vários secretários municipais como Fernando Longo, Josiene Francisco da Silva, Maria Regina Gonçalves e Nelson Tadeu Pereira, além do assessor executivo da Câmara Regional, Jorge Hereda, Uma Breve Leitura do Grande ABC coloca a nu muitos aspectos regionais que LivreMercado tem exposto exaustivamente desde que passou a circular, há nove anos.


 


O workshop da Câmara Regional pode até não ter empolgado, porque faltaram representantes empresariais e do governo do Estado, mas isso perde relevância diante da constatação de que já não é mais crime de lesa-região tocar nas feridas locais. Jorge Hereda, assessor especial da prefeita de Ribeirão Pires na coordenação da Câmara Regional e na presidência do Consórcio de Prefeitos, afirma que o documento-base definiu dezenas de idéias que, depois de sistematização preliminar, servirão de âncora para novo documento, no qual deverá ser colocado o cenário futuro desejado.


 


Alguns dos trechos mais importantes do documento preliminar:


 


 "O Grande ABC apresenta contradição dentro da Metrópole de São Paulo: ao mesmo tempo em que se constituiu no centro mais dinâmico da economia nacional, do ponto de vista territorial é frequentemente visto como periferia urbana, sem equivalência de condições com o centro da Metrópole".


 


 "Os espaços urbanos das cidades da região são resultado de concentração industrial relativa à primeira e à segunda revoluções industriais que, somadas, produziram municípios despreocupados com sua beleza. Dotados de espaços públicos atrofiados e centros comerciais pequenos, os municípios do Grande ABC reproduziram os mesmos desequilíbrios internos das cidades brasileiras -- segregação social advinda das desigualdades sociais crescentes e condições precárias de moradia".


 


 "São claros os indícios de predatória guerra fiscal envolvendo vários outros municípios e principalmente outros Estados, e que estimulou empresas a saírem da região, onde não havia condições de oferecer incentivos públicos".


 


 "A abertura comercial por um lado e a pressão da grande indústria com custos, por outro, e o processo de fusões nos últimos anos exercem forte pressão sobre as micros, pequenas e médias empresas industriais da região. Isto reforça a situação de total desarticulação do setor que nunca criou qualquer estrutura que o sustentasse".


 


 "O Grande ABC nunca foi priorizado para o acesso de linhas de financiamento em geral, por ser considerado uma região rica, sem necessidade premente de recursos".


 


 "A qualificação e a educação da mão-de-obra formam uma questão de extrema importância devido às novas relações de trabalho, novas tecnologias, e às suas vinculações com a produtividade".


 


 "As questões de logística, isto é, infra-estrutura e equipamentos urbanos de apoio às indústrias, bem como a exigência com qualidade de vida, passam a ter hoje outra configuração. A ausência total de uma Política Metropolitana foi protelando a solução de problemas regionais urgentes".


 


 "A qualidade de vida e a qualidade do meio ambiente passam a ser requisito locacional importante, porque uma parte da alta direção de grandes empresas tende a se transferir para o local onde estão instaladas suas unidades".


 


 "Qualquer espaço que se pretenda como cidade precisa dar conta do problema da violência urbana, problema seríssimo dentro da discussão das perspectivas globais da região".


 


 "Soma-se ao conjunto de problemas o aparecimento de uma crise fiscal nos municípios".


 


 "A vida no Grande ABC caracterizou-se por atrofia de ambiente intelectual, cultural e político contrastante com a expansão econômica".


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