Economia

O ás para salvar
o jogo produtivo

TUGA MARTINS - 05/03/1999

Mesmo com perda de indústrias, o Grande ABC esconde ás na manga que pode fazer desaguar na região cifras do FEEBT (Fundo de Empresas Emergentes de Base Tecnológica) do Sebrae-São Paulo (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa) e reanimar o jogo do meio produtivo regional. Pesquisa da Fundação ParqTec de São Carlos, realizada para detectar EBTs (Empresas de Base Tecnológica) no Estado, destacou o Grande ABC como au concour na fabricação de máquinas e equipamentos. Resultado surpreendente para uma região que sempre se projetou como pólo automobilístico, moveleiro e químico-plástico, e diante da violenta diminuição do mercado na indústria de bens de capital desencadeada pela abertura às importações.


 


A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) registra a existência de 249 empresas de máquinas e equipamentos no Grande ABC. A líder Diadema acolhe 103, seguida por São Bernardo com 57, Santo André com 34, São Caetano com 30, Ribeirão Pires com 13 e Mauá com 12.  A Schuller, produtora de prensas pesadas, de Diadema, a Grobb, fabricante de máquinas de usinagem, e a Semeraro, que faz equipamentos para a indústria de plásticos, de São Bernardo, são algumas referências respeitáveis do setor. "Pesquisa anterior da Abimaq em parceria com o Sebrae já havia apurado que o nível tecnológico das empresas de bens de capital da região é excepcional. Exportamos linhas completas para a General Motors dos Estados Unidos, por exemplo" -- cita o vice-presidente da Abimaq, Pedro Buzatto Costa, que responde pela diretoria  operacional de Desenvolvimento Tecnológico da entidade.


 


Importações aumentam


 


Entre 1993 e 1997 o volume de importações de máquinas e equipamentos aumentou 243,1%, ou seja, saltou de US$ 2,62 bilhões para US$ 8,99 bilhões, enquanto a produção interna manteve-se nos mesmos níveis -- US$ 15,1 bilhões em 1997. Para se ter idéia do encolhimento da produção nacional, calcula-se que nos últimos quatro anos 1,3 mil indústrias de máquinas e equipamentos fecharam as portas, passaram a importar, mudaram de ramo ou de cidade. Na região, empresas de porte significativo como Atlas Copco, Krones, Mollins e Nordon são exemplos notórios dos casos.


 


Em 1980, a produção nacional chegou a atender a 94% do consumo interno. Este índice gira atualmente em 40% a 50%. "A diminuição do setor não ocorreu por falta de competitividade dos produtos nacionais, mas por conta do excesso de incentivos que o governo federal dedicou às importações" -- dispara Buzatto Costa.


 


Agora, com a desvalorização do real e o consequente encarecimento das importações, o quadro tende a mudar. Depois de tantas bordoadas, a produção de máquinas e equipamentos pode reacender o parque produtivo do Grande ABC. Primeiro porque  o setor não desponta como principal opção de investimento em regiões concorrentes como Ribeirão Preto e São Carlos, conforme apurou a Fundação ParqTec. Segundo porque, com possibilidade de receber recursos por meio do FEEBT, muitas pequenas indústrias podem recompor a produção, desde que não tenham desativado totalmente a fábrica.


 


O FEEBT é uma luz no fim do túnel depois que em setembro de 1998 o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)  reduziu de 100% para 60% o limite de financiamento e o governo baixou de 20% para 5% a alíquota do Imposto de Importação para 666 produtos de máquinas e equipamentos.


 


Vale ainda lembrar que no mundo apenas 14 países produzem bens de capital, entre os quais a Alemanha, onde a produção anual do setor supera US$ 150 bilhões e emprega 992 mil trabalhadores, números superiores aos apresentados pelos fabricantes de veículos. No Brasil, o nível de emprego no setor despencou de 300 mil em 1990 para 175 mil em 1998. A região acolhe apenas nove mil desses trabalhadores. "Incentivar novas vocações resulta em gol" -- projeta o diretor técnico do Sebrae, Edson Fermann.


 


Recém-criado pelo Sebrae-São Paulo, BNDESPar e IIC/BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o FEEBT conta com R$ 40 milhões iniciais para suprir a demanda para capital de risco, já que o mercado financeiro tradicional não tem linhas de crédito que atendam às necessidades das EBTs. O mapeamento da ParqTec partiu de cadastro de quase 100 mil empresas da Capital, Grande ABC, região de Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e São José dos Campos. Extraiu amostra de 178, nas quais foram feitas análises para definir o perfil das EBTs do Estado de São Paulo.


 


Consta do levantamento que 72,5% das EBTs têm idade igual ou superior a cinco anos; 98,2% são micro e pequenas; 87% dos funcionários em postos-chaves têm nível superior e, desses, 15% são pós-graduados. Também apurou-se que 99,4% vêm fazendo investimentos nos últimos cinco anos, dos quais 86% focaram a aquisição de novas máquinas e equipamentos, e que 73% não exportam. 


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