Economia

Luiz Marinho perde fábrica da
Mercedes para Iracemápolis

DANIEL LIMA - 22/10/2013

O prefeito Luiz Marinho fez de tudo para trazer a fábrica de automóveis da Mercedes-Benz para São Bernardo, na planta de caminhões e de ônibus da multinacional alemã com espaços físicos ociosos demais por conta de históricas reengenharias de produção. As negociações se prolongaram durante meses, mas o ex-dirigente sindical acabou derrotado pela pequenina Iracemápolis, na região de Piracicaba.


 


Pesaram vários vetores. Parte deve ser debitada a um sindicalismo regional dos metalúrgicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores) que, na linha de frente, não é tão dócil quanto as lideranças que aparecem na mídia querem fazer crer. Em parte porque a Província do Grande ABC perde competitividade ano após ano, na exata medida em que as chamadas deseconomias de escala ajudam a fazer a diferença entre rentabilidade satisfatória e rentabilidade a fórceps.


 


Perder a planta de automóveis da Mercedes-Benz para uma cidadezinha de 20 mil habitantes no Interior de São Paulo não é uma notícia que Luiz Marinho gostaria que vazasse. Tanto que se fechou em copas nos últimos tempos, desde que se insinuaram informações sobre a decisão considerada mais sensata da multinacional. Nem mesmo o bom relacionamento de Luiz Marinho com a cúpula daquela corporação contribuiu para sufocar as alternativas que se abriram. Como cabrito bom não berra, se Luiz Marinho não cantou vitória antes, por que haveria de lamentar derrota depois?


 


Derrota política


 


Mais que ser superado pelo Interior de São Paulo cada vez mais palco de investimentos do setor automotivo, como mostrou o jornal Estadão numa ampla reportagem na edição de ontem, a derrota imposta pela Mercedes-Benz extrapola o âmbito econômico e sindical. É uma ducha de água fria política nos ímpetos de marketing do chefe de Executivo que controla o PT na Província do Grande ABC.


 


Marinho precisava como nunca da vitória em forma de investimentos da Mercedes-Benz, mas não insistiu tanto quanto poderia pela fábrica porque tem pretensões políticas que vão além do território regional. Teria de bater boca com os sindicalistas da região de Piracicaba.


 


Sindicalistas vistos pelos empresários locais como mais acessíveis, mais palatáveis e menos beligerantes que os sindicalistas da Província do Grande ABC. Por mais que os sindicalistas daqui tenham deixado no passado sombras mais densas de combates entre capital e trabalho.


 


A manchete de ontem do Estadão foi um chute portentoso no orgulho regional, sobretudo na classe de sindicalistas históricos do movimento liderado por Lula da Silva no final dos anos 1970. “Polo Caipira vai superar o ABC”, estampou o Estadão. Logo abaixo, uma ampla matéria. Leiam alguns dos trechos que selecionei:


 


 A inauguração até 2016 das fábricas das montadoras de veículos Honda, em Itirapina, e da Mercedes-Benz, em Iracemápolis, consolidará no Interior paulista o “polo caipira das montadoras”, que ultrapassará em unidades de produção o ABC Paulista – berço da indústria automotiva do País. Em cinco anos, a área entre Campinas, Sumaré, Sorocaba e São Carlos receberá quatro grandes montadoras, com investimentos de R$ 4 bilhões e a geração de 6,7 mil empregos diretos. Além das fábricas anunciadas, a coreana Hyundai iniciou atividade neste ano em Piracicaba e a japonesa Toyota abriu sua segunda fábrica no interior, em 2012, em Sorocaba. As quatro montadoras, somadas às instaladas durante o primeiro ciclo de expansão do setor, na década de 1990, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, elevarão para sete o número de indústrias automotivas (sem contar as de máquinas agrícolas) dentro desse “polo” no interior paulista. A Volkswagen funciona desde 1996 em São Carlos; a Honda desde 1997 em Sumaré (cidade próxima de Campinas); e a Toyota desde 1998 em Indaiatuba. A montadora japonesa anunciou ainda que investirá R$ 1 bilhão em uma fábrica de motores em Porto Feliz. (...) Em 2011, dos 1,45 milhão de veículos produzidos em São Paulo, 880 mil saíram do ABC e 574 mil das demais unidades do Estado – que concentra 42 da produção nacional. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Com a produção da Toyota em Sorocaba, da Hyundai em Piracicaba, da Honda em Itirapina e da Mercedes em Iracemápolis, 356 mil carros a mais serão produzidos no interior paulista a partir de 2016, roubando do ABC o título de maior produtor do País – escreveu o Estadão.


 


Rabo de foguete


 


Luiz Marinho pegou um rabo de foguete que ajudou a construir no passado quando participou intensamente do movimento sindical. O rabo de foguete é tentar reforçar o viés automotivo na economia da Província do Grande ABC paralelamente a ações que pretendem explorar novos filões produtivos. Como dificilmente conseguirá êxito na atração de investimentos da indústria automotiva desde que, entre muitos outros fatores, logística e mercado consumidor ganharam novas configurações, e como não formou uma tropa de choque de especialistas à atratividade de outras matrizes industriais, é mais que provável que encerrará o segundo mandato sem sequer apresentar um único feito digno de nota a eventualmente pautar novos tempos do setor de manufatura na região.


 


Economia não é um ponto que possa ser relacionado às eventuais competências de Luiz Marinho. Vai lhe restar o braço social como salvação de uma intervenção mais que pífia de oito anos à frente da principal cidade da Província do Grande ABC. O que é muito, mas muito pouco. Sobretudo porque nem mesmo a institucionalidade regional, uma bandeira que poderia minimizar os estragos em outras áreas, foi devidamente avaliada, equacionada, planejada e executada pelo prefeito de São Bernardo.


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