Quando setembro chegar, o Grande ABC pode ser apresentado a um novo Grande ABC. Tanto a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) quanto o Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) anunciam daqui dois meses os resultados dos censos que fizeram ao longo dos últimos meses na região, mas antes da tabulação final já se sabe que a economia do Grande ABC dançou afinadíssima com a música das mudanças da globalização.
Coordenadora no Seade da Paep (Pesquisa da Atividade Econômica Paulista), Maria de Fátima Infanto Araújo diz que a reestruturação patrimonial, relativa a fusões e incorporações que constam dos questionários, chama muita atenção. A Fundação Seade trabalha com cadastro das empresas cujos dados básicos referem-se às atividades em 1995, isto é, não muito distante de atualização. Mesmo assim, afirma a pesquisadora, a realidade patrimonial se mostra bastante diversa. Já o Sebrae surpreendeu-se com o setor de plásticos, no qual empresas com mais de 20 anos no mercado mantêm-se competitivas, mesmo adquirindo matéria-prima de fora. "Há um potencial enorme nessa atividade totalmente desconhecido da região" -- sublinha o gerente metropolitano do Sebrae-SP, Eduardo Giorfi.
A Paep do Seade é um supercenso econômico no Estado de São Paulo cuja expectativa é capturar o universo final de 25 mil empresas entre os 38 mil questionários distribuídos. "Tínhamos idéia da transformação patrimonial. Só não imaginávamos que fosse tão profunda. Muito do que ocorreu está registrado, mas acessar informações não foi fácil porque mexeu com a rotina das empresas, agregando algumas dificuldades na coleta de dados. O campo de pesquisa mostrou razoável alteração no cadastro" -- afirma.
Maria de Fátima lembra que muitas organizações que deveriam ser investigadas fecharam ou mudaram de endereço. Outras, formaram uma terceira empresa devido à incorporação. Algumas das que se mudaram foram localizadas por meio de investigação adicional, realizada basicamente em cima de pequenas empresas. "Para isso foi importante o apoio da Telesp (Telecomunicações de São Paulo), que cedeu o cadastro montado com os respectivos CGCs" -- lembra a pesquisadora.
A Paep não vai gerar informações degradáveis. O trabalho foi desenhado de forma estrutural e com aberturas. Só a indústria possui 23, de alimentos a têxteis, de metalurgia básica a artigos de borracha. O comércio se abre dos hipermercados às lojas de conveniência. Também a construção civil foi levantada. "Quando finalizada, teremos uma pesquisa que nos sinalizará de forma ampla os vários aspectos da economia. Daqui a dois ou três anos, vamos repicar o campo. Naquele momento, então, irá se abrir um leque. Poderemos fazer pesquisas específicas, mais pontuais, sobre difusão e inovação tecnológica, indicadores de produtividade e competitividade, questões relacionadas à reestruturação patrimonial ocorrida, por exemplo, com mais ou menos intensidade nesse ou naquele setor, nessa ou naquela região. Ou, quem sabe, numa nova Paep por inteiro, voltada para a abordagem dos itens incluídos nos atuais questionários e somados às prováveis alterações consequentes de nossas análises" -- comenta Maria de Fátima.
A Paep privilegia o Grande ABC em quantidade e qualidade, por encomenda do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos. Diferente do restante do Estado e da Região Metropolitana, na qual está inserido, o Grande ABC será mais esmiuçado por meio de pesquisa censitária, não por amostragem. Total de 8,6 mil questionários foi distribuído e aplicado na região e os resultados vão ancorar as atividades da Agência Regional de Desenvolvimento Econômico.
Já a pesquisa do Sebrae, a cargo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), envolve 122 das estimadas 600 empresas de plásticos na região, três montadoras e 10 autopeças. O Sebrae-SP destacou as cadeias petroquímica e automotiva por serem vocações consolidadas e nas quais pretende aplicar o Proder (Programa de Emprego e Renda). Ao identificar nichos que podem ser explorados, o Proder objetiva alavancar não só novos, mas empreendedores já atuantes, com foco sobretudo na geração de empregos.
"O setor de plásticos faz desde sacolinhas de supermercados até pára-choque de carros e tem características favoráveis como bases geográfica e tecnológica bastante próximas dos clientes. Precisamos fazer um marketing melhor" -- diz Eduardo Giorfi. Quanto às autopeças, a descentralização automobilística para outros pólos pode ser compensada pela continuidade de investimentos nas plantas locais e, segundo Giorfi, pela própria terceirização das montadoras. "É possível criar condições para que esses terceirizados sejam da região" -- diz.
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