Para não dizerem que não falei, também, dos espinhos do Atrium Shopping, inaugurado ontem em Santo André com a festa de sempre reservada a empreendimentos de grande calibre orçamentário e publicitário, tivemos a repetição do enxugamento verificado na semana passada quando se abriram as portas do Golden Square, em São Bernardo: apenas um quarto ou menos dos espaços aos lojistas foi oferecido aos consumidores.
Promete-se, como no Golden Square, que a turma completa estará apta a atendimentos até o final do ano. Juro por todos os juros que não entendo bulhufas de marketing dos centros de compra. Os profissionais do setor devem ser sabichões demais, porque me reduzem à estúpido, embora não me falte dedicação à leitura de tudo que meus olhos alcancem. Sem contar que, como jornalista, cansei de entrevistar gente do ramo a sustentar que um quarto de uma laranja pode indicar que seja uma laranja, mas não é uma laranja.
Considerando que os marqueteiros dos shoppings sabem tudo e algo mais, não está fora de cogitação que influenciem a direção do Corinthians à adoção de estratégia equivalente a ser implementada na inauguração do estádio na Zona Leste. Provavelmente vão recomendar que somente as arquibancadas à Oeste devem estar à disposição dos torcedores. Possivelmente até as traves serão suprimidas. Quando não devem sugerir que se pinte o gramado de preto e branco para impedir que vestígios do arquirrival alvinegro sejam lembrados.
Fio-me na reportagem que li ontem à noite no site do jornal Repórter Diário, assinada pelo jornalista Leandro Amaral. Escreveu esse repórter olho vivo que apenas 50 das 200 lojas estão abertas ao público. Como fiz na semana passada, provavelmente amanhã, porque hoje já tenho compromisso, vou conhecer pessoalmente o Atrium Shopping. Já a matéria que consta do site do Diário do Grande ABC diverge no número de lojas abertas. Teriam sido apenas 30. Na versão impressa, que leio nesta manhã, foram apenas 28. A cobertura do Diário impresso repete o tom da abertura do Golden Square. A mesma matriz de triunfalismo poderia ter racionalizado o trabalho jornalístico. A matéria da semana passada poderia ser repetida, substituindo-se apenas o nome do empreendimento.
Credibilidade e consumidor
De qualquer maneira, sinto-me recompensado por haver apontado omissão generalizada da mídia nos desfalques registrados na inauguração do Golden Square. Quem sabe os donos dos veículos de comunicação comecem a entender que esconder dados relevantes depõe contra a credibilidade das publicações. Os consumidores que se deslocam aos centros de compra se sentem lesados ante a constatação de que em vez de vitrines encontram tapumes com logomarcas comerciais. O comentário mais massificado de ontem no Atrium Shopping ganhava conotação típica dos criativos latinos, que fazem piada da própria desgraça. Museu Atrium ganhou a preferência dos consumidores frustrados com a baixíssima oferta de produtos, mascarada pelo suposto sucesso de que não houve remarcação de dada de inauguração como no Golden Square. O roto falando do rasgado.
Quero ver de perto o que fizeram com parte do espaço reservado originalmente à Cidade Pirelli que Celso Daniel esculpiu com gente especializada e que por conta da imprevidência dos administradores que ocuparam o Paço Municipal após sua morte acabou caindo no esquecimento, quando não na malandragem juramentada. Sim, malandragem juramentada Pirelli e de parceiros de negócios terem sido jogadas no lixo. Tanto que até um viaduto indevidamente pago pela Administração João Avamileno, numa operação denunciada por CapitalSocial e jamais investigada pelo Ministério Público dentro do pacote de irregularidades do espólio da Cidade Pirelli.
A Brookfield não tem nada a ver com a história do viaduto, mas está metida numa enrascada senão de ilegalidade ao menos de cunho ético. O empreendimento sempre bem vindo impactou de tal forma o entorno viário que não haveria outra medida a minimizar os transtornos senão apressar as obras compensatórias. Aliás, é o que determina o Estatuto da Cidade, desrespeitadíssima na Província por conta da ganância imobiliária e dos interesses escusos que permeiam os gestores públicos ante essa fonte inesgotável de recursos paralelos.
Contrapartidas demoradas
A informação que chega de fonte segura é que a Brookfield vai esticar até o possível a contrapartida acordada com a Prefeitura de Santo André, porque há cláusulas contratuais que jogam para o futuro as obrigações de liberação de recursos financeiros às obras viárias, entre outras. Os motoristas que trafegam por aquela área em direção a Mauá ou a Santo André vão continuar a suar de raiva e a proferir palavrões contra a Administração Carlos Grana.
Se houvesse uma bolsa de apostas sobre o destino dos shoppings que aportaram na Província do Grande ABC nos últimos tempos – Parkshopping de São Caetano, São Bernardo Plaza Shopping, Golden Square e o Atrium – teria dificuldades em me definir. Minha intuição, parenta muito próxima de conhecimento com valor agregado, diz que o melhor mesmo é esperar. E esperar bastante.
Sei que sei que o São Bernardo Plaza Shopping anda mal das pernas porque é bom demais numa área aquém da expectativa de renda, que o Golden Square tem enormes dificuldades de sedução por conta de um sistema de estacionamento esdrúxulo, que o Parkshopping de São Caetano seria enorme demais para um Município sem interatividade econômica com o restante da Província e que o Atrium, agora no pedaço, teria recorrido ao lobby do Poupatempo de serviços a ser inaugurado só no ano que vem porque haveria mais que indícios de que precisava de âncora popular para redirecionar o mix de produtos inicialmente voltado a uma classe média-média saturadíssima na região. Escrevi classe média-média, não a classe média inventada pelos alquimistas do PT.
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