Economia

Começa o retrato
da modernidade

MALU MARCOCCIA - 05/11/1997

O Grande ABC já está debruçado sobre o supercenso que vai desbravar as entranhas do seu parque econômico. Temas na ordem do dia como negócios com Mercosul, adesão a programas de qualidade, tipo de automação que as empresas promovem e quais áreas estão sendo terceirizadas começaram a ser detalhados e recolhidos desde o mês passado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). Serão visitadas 40 mil empresas em todo Estado, 8,6 mil das quais na região, com intuito de preparar a maior radiografia de todos os tempos sobre a economia mais dinâmica e complexa do País e, por isso mesmo, mais vulnerável à saia justa imposta pela globalização.


 


Por encomenda do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, a Paep (Pesquisa da Atividade Econômica Paulista) será mais minuciosa no Grande ABC. O levantamento terá perfil censitário e não por amostragem, como ocorre nas demais regiões do Estado, conforme antecipara com exclusividade à LivreMercado em junho o diretor-executivo do Seade, Pedro Paulo Martoni Branco. Pela diversidade da planta econômica e por abrigar um setor industrial forte -- terreno mais sensível às mudanças mundiais de processos e à abertura comercial do País --, o Grande ABC fornecerá dados fundamentais ao novo mapa do Estado, que Martoni chama de tomografia geo-econômica. Sua expectativa é de que os novos dados subsidiem não só ações governamentais dos Poderes Públicos, mas as próprias empresas privadas no planejamento de estratégias.


 


A partir de março de 1998, quando a coleta estiver tabulada, o levantamento será atualizado a cada dois anos. Um avanço considerável, quando se sabe que o último censo econômico de São Paulo data de 1985.


 


O supercenso pretende captar as mudanças tecnológicas, gerenciais e produtivas ocorridas no Estado, sobretudo com os anos recentes de abertura comercial do Brasil. No Grande ABC, 80 pesquisadores estão nas ruas orientados por sete supervisores (quatro cuidando de indústrias e três de comércio, serviços e informática). No capítulo 6, por exemplo, que trata de tecnologias de gestão e produção, as empresas são abordadas sobre se já obtiveram a série ISO ou se preparam para a certificação, assim como se fecharam ou não contratos de transferência de tecnologias com empresas nacionais e estrangeiras. A data referência do censo é até dezembro de 1996. Nesse capítulo também se procura conhecer quais os instrumentos gerenciais mais usuais entre quatro opções: sistema de apropriação de custos por obra, coleta/análise de dados sobre processos produtivos (índices de produtividade, de desperdício etc), comitês de controle de qualidade ou manuais de procedimentos para execução de serviços (de recebimento de material e de atividades produtivas, por exemplo).


 


O Mercosul ganhou destaque na coleta de dados, pois aparece com frequência nas questões. Exemplo: qual o destino geográfico das vendas, se para o mercado interno, membros do Mercosul ou outros países; e qual a origem geográfica das matérias-primas e componentes utilizados no processo de produção, igualmente com as três opções de respostas.


 


A informatização recebeu ênfase na Paep, que desce a detalhes sobre o número de computadores e terminais utilizados, se próprios, alugados ou leasing e em que categoria se enquadram (grandes, PCs, portáteis, Pentium ou abaixo de 386). Também se indaga sobre a rede corporativa interna de computadores e quais departamentos atinge. Terceirização é outro ponto destrinchado em minúcias, com 32  atividades listadas, dentre as quais assessoria jurídica, transporte de funcionários, portaria e vigilância, marketing e vendas e até partes da produção, como instalações elétricas, serviços de carpintaria e remoção de entulhos. As atividades devem ser enquadradas como repassadas a terceiros ou executadas pela própria empresa e em que grau: se integralmente ou parcialmente.


 


Os investimentos ganharam capítulo à parte: em que montante foram feitos em 1996 e para qual finalidade -- se aquisição de terrenos e edificações, se para máquinas e equipamentos, meios de transporte ou outras imobilizações. O censo também quer saber a respeito de despesas com pesquisas tecnológicas e científicas, um indicador fiel sobre a preocupação das empresas com modernidade.


 


A Fundação Seade montou em Santo André escritório regional onde podem ser tiradas dúvidas por telefone ou via Internet (http:\\www.seade.gov.br). As visitas são agendadas somente após o recebimento da correspondência. As respostas podem ser dadas em disquete ou em formulário e todos os dados terão caráter sigiloso, sendo utilizados somente para fins estatísticos.


 


O Instituto de Pesquisas (Inpes) do IMES de São Caetano cedeu as instalações para treinar os pesquisadores e deve ser chamado a auxiliar na tabulação e análise dos dados. Pelo cronograma, a coleta prosseguirá até dezembro, a tabulação até março de 98 e a divulgação da Paep acontecerá em junho do mesmo ano. Com custo avaliado em R$ 4 milhões, o supercenso de São Paulo recebeu recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa) e Finep (Financiadora Nacional de Estudos e Projetos). O Consórcio Intermunicipal custeou a complementação dos dados no Grande ABC com cerca de R$ 500 mil. A coleta vai orientar a Agência de Desenvolvimento da Câmara Regional, que cuidará do marketing local para atrair novos investidores.


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