Um dos maiores consultores imobiliários de São Paulo, o Grupo Herzog acrescenta mais preocupação à evasão industrial do Grande ABC revelada em números por LivreMercado com base em informações de outra respeitada consultoria do setor, a Bamberg. A Herzog revela que soma quase um milhão de metros quadrados construídos de áreas industriais para venda na região, além de 1,6 milhão de metros quadrados de terrenos. Desse total, a maior parte -- ou acima de 500 mil metros quadrados -- corresponde a áreas industriais em atividade fabril, e não a galpões desocupados. São empresas em funcionamento que planejam deixar o Grande ABC para se instalar em regiões sobretudo do Interior paulista.
Na edição deste mês, LivreMercado transformou em Reportagem de Capa informações da Bamberg que dão conta de 2,5 milhões de metros quadrados de áreas industriais à venda. Desse total, 400 mil metros são de 40 indústrias de médio porte instaladas na região mas que querem ir principalmente para o Interior. O restante é composto de galpões vazios ou terrenos desocupados.
Como nos casos da Bamberg, também as empresas que estão decididas a deixar o Grande ABC através da Herzog não mantêm placas de vende-se nem anunciam publicamente a decisão porque a atitude poderia gerar dores de cabeça sindicais. É arriscado somar as áreas de fábricas em atividade à venda nas duas consultorias especializadas porque nada impede eventual duplicidade de propostas, já que o sigilo marca esse tipo de negociação. A impossibilidade de identificar sobreposição de oferta está restrita apenas aos imóveis disponibilizados pelas fábricas que pretendem deixar o Grande ABC. No caso de terrenos e galpões, há contratos de exclusividade de venda bem como de liberação para mais de uma consultoria negociar.
O problema para quem quer trocar o Grande ABC está na dificuldade de encontrar compradores interessados nos imóveis disponíveis. "Há espaços em nossa carteira esperando compradores há cinco anos"-- explica Ricardo Bardelli, consultor associado da Herzog. A solução buscada pela consultoria instalada na Capital é o que especialistas no segmento chamam de retrofit, isto é, dar nova vocação à área industrial remanescente.
Foi exatamente esse trabalho prestado para a Black & Decker. Além de prospectar áreas para instalação da fábrica no Triângulo Mineiro e da parte administrativa na Capital paulista, a Herzog negociou o espaço remanescente em Santo André com o grupo responsável pelo ABC Plaza. "O anúncio da saída da Black & Decker de Santo André só foi oficializado pela empresa quando a venda da área para o shopping estava consumada, embora a fábrica de Uberaba já estivesse pronta" -- explica o diretor Eduardo Herzog.
Ricardo Bardelli observa que, além do retrofit, uma boa alternativa para garantir ocupação dos espaços industriais do Grande ABC seria reduzir a carga fiscal -- como fazem outras regiões. "Cotia e Barueri, na Grande São Paulo, estão atraindo muitas indústrias porque oferecem vantagens. O Grande ABC, ao contrário, cobra o IPTU mais alto de que tenho notícia" -- afirma Bardelli, cuja empresa atua praticamente em todo o Estado. "Mesmo quando derrubamos o preço do imóvel para fechar negócio, o IPTU representa custo fixo elevado que afugenta investidores" -- comenta.
Se é difícil encontrar compradores para os espaços industriais ocupados por empresas, é mais complicado ainda desovar o estoque de galpões desocupados, que formam a menor parcela dos quase um milhão de metros quadrados na carteira da Herzog. Além da falta de atratividade regional por questões que vão do histórico sindicalismo exacerbado, passam pelo desenvolvimento viário intra-estadual que anulou vantagens comparativas logísticas do passado e chegam até a propalada guerra fiscal, há o aspecto estrutural dos imóveis: "Por serem antigos, os galpões não preenchem requisitos de qualidade estrutural exigidos por empresas modernas" -- explica Eduardo Herzog. Entre os principais problemas o consultor cita pé-direito baixo e falta de docas para carregamento de caminhões.
Debate encerrado
Acabou após apenas quatro indagações o debate internáutico proposto pela Editora Livre Mercado ao professor-doutor João Batista Pamplona, assessor técnico da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. Absolutamente incapaz de responder às questões propostas através do boletim eletrônico CapitalSocial, braço on-line da Editora Livre Mercado, o contratado da Agência não resistiu à segunda rodada de perguntas, muito mais complexas. Por isso, a direção da Editora Livre Mercado, que ameaçou levar o acadêmico à Justiça por divulgar dados imprecisos sobre a economia da região, deu-se por satisfeita: considerou o debate espécie de nocaute técnico de quem teve a desfaçatez de afirmar que o Grande ABC não passou por processo de desindustrialização nos últimos anos. Nas duas últimas décadas, foram-se pelo ralo 32,7% do Valor Adicionado da região.
A continuidade do debate através da Internet foi considerada desnecessária pela direção editorial de LivreMercado depois que o diretor executivo da Agência, Carlos Paim, afirmou que o professor João Batista Pamplona não estaria disposto a responder às novas indagações. Carlos Paim disse que a Agência faria esforço para oferecer as respostas devidas pelo pesquisador, mas a direção de LivreMercado preferiu tirar o peso dos diretores da entidade, muitos dos quais contrários à divulgação das canhestras avaliações estatísticas do assessor técnico.
Além de comunicar a desobrigatoriedade de dar sequência ao debate eletrônico, a direção da editora consolidou parceria com a Agência para promover mais uma etapa do programa regional Construindo o Futuro, entre outros motivos, para descaracterizar qualquer interpretação de beligerância com a entidade custeada pelos poderes públicos e pela livre iniciativa. A nova programação de Construindo o Futuro é a conferência seguida de debate com o especialista em competitividade regional Fernando Musa, do Monitor Group. O evento está marcado para 24 de outubro no Piazza Demarchi, em São Bernardo, e terá como debatedores o prefeito de Santo André, Celso Daniel, o sindicalista Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e o jornalista André Marcel de Lima, de LivreMercado.
A melhor resposta da Editora Livre Mercado aos leitores do boletim eletrônico CapitalSocial e das próprias revistas impressas -- as versões Grande ABC e Estadual de LivreMercado -- ao pesquisador João Batista Pamplona está na Reportagem de Capa da publicação regional de outubro: não bastassem todos os números historicamente publicados sobre o enfraquecimento industrial e econômico do Grande ABC, a publicação denuncia a existência de 2,5 milhões de metros quadrados industriais à venda através da Bamberg, com sede na Capital paulista.
A Reportagem de Capa está disponível no site da revista (www.livremercado.com.br) e não se esgota na informação sobre a situação dos imóveis industriais disponíveis na região. O trabalho desafia autoridades públicas e agentes econômicos e sociais a reverter o quadro. O universo de imóveis disponíveis para atividades industriais no Grande ABC sempre foi um enigma para quem se debruça sobre o processo de evasão da atividade.
Tratada sob forte tabu, a desindustrialização do Grande ABC é peremptoriamente negada ou dissimulada com subjetividades sobretudo por administradores públicos que se sentem de alguma forma responsáveis pela falta de políticas de incentivo aos empreendedores privados. Também aos sindicatos e às lideranças empresariais o assunto evasão industrial normalmente incomoda. Aos primeiros porque poderia recrudescer as críticas ao grau de participação do movimento sindical nas debandadas que se iniciaram há mais de duas décadas. Aos dirigentes empresariais porque pouco se mobilizaram coletivamente nos sete municípios da região para estudar minimamente os reflexos do sindicalismo, da globalização, da guerra fiscal e dos custos internos, entre outros fatores, sobre a saída dos empreendimentos.
O que o Grande ABC está vivendo é uma grande lição para as demais regiões industrializadas do Estado de São Paulo que recebem com festa novos negócios industriais. O relacionamento entre empreendedores, autoridades públicas, sindicatos e agentes sociais não pode sofrer relaxamento semelhante ao que marcou a história do desenvolvimento do Grande ABC. A negligência pode custar caro num quadro histórico da economia internacional que estimula a migração de empreendimentos a qualquer sinal de hostilidade que reflita em custos adicionais incompatíveis com a competitividade planetária.
"O Grande ABC não vai ser o mesmo depois dessa Reportagem de Capa" -- confia a jornalista Malu Marcoccia, editora-chefe da publicação. "Vamos cobrar das autoridades públicas, dos formadores de opinião, dos agentes sociais e econômicos ações práticas contra tudo isso" -- completa.
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