Economia

Quanto mais
unidos, melhor

ANDRÉ MARCEL DE LIMA E WALTER VENTURINI - 10/03/2005

O Grande ABC forjado pela globalização agregou transformações sociológicas e comportamentais tão notáveis quanto os novos parâmetros tecnológicos herdados da era mundializada. No lugar do antigo isolacionismo segundo o qual empresas não se relacionavam entre si e muito menos com o Poder Público -- visto como complicador, aproveitador e outros predicados pouco lisonjeiros --, emergiu novo conceito, marcado pela quebra de conservadorismo. Pelo menos 200 empresas de diversos setores passaram a investir em ações coordenadas a fim de galgar degraus mais elevados na escadaria da competitividade e, o que é mais importante, com apoio deliberado do Poder Público historicamente visto como estorvo.


 


Seria exagero afirmar que se alcançou a paradisíaca maturidade de capital social idealizado pelo inglês Anthony Giddens. No clássico A Terceira Via, o guru do primeiro-ministro britânico Tony Blair ressalta que somente o entrosamento entre empresários, governo e sociedade civil garante coexistência entre economia de mercado e solidariedade social. Mas a cooperação sistemática entre empreendedores e Poder Público na região que perdeu 39% do Valor Adicionado industrial nos oito anos do governo FHC mostra que, ainda se está longe do ponto desejado, mas já começa a se mover na direção correta.


 


APLs (Arranjos Produtivos Locais) de plásticos, ferramentaria e autopeças; consórcio de exportação de autopeças ATA (Autoparts Technology Association), Pólo de Cosméticos de Diadema e incubadoras de empresas de São Bernardo, Santo André e Mauá são espécie de símbolos da nova era. Por mais que tenham chegado tarde e que os resultados sejam ainda tímidos num território cujas demandas sociais se colocam à altura do contingente metropolitano de 2,5 milhões de habitantes, as mudanças representam enorme salto em relação aos tempos de trincheiras insuperáveis.


 


Traduzindo: arranjos produtivos, incubadoras e consórcios de exportação de móveis e autopeças não devem ser observados como obras prontas e acabadas, mas como pontos de partida de itinerário de recuperação que, para ser concluído, dependerá de duas condições básicas -- manutenção do ambiente de tensão positiva que impulsiona ações coordenadas, e financiamento. A manutenção do ambiente de tensão positiva depende única e exclusivamente dos protagonistas, isto é, dos micro e pequenos empresários, dos executivos da Agência de Desenvolvimento Econômico e, no caso de Diadema, do valioso suporte da Prefeitura aos empreendedores de cosméticos.


 


É imprescindível impedir que a relativa recuperação da economia regional nos dois anos do governo Lula da Silva instaure clima de já ganhou e desestimule a continuidade de ações que mal começaram a dar resultados. Afinal, a ligeira recuperação do Valor Adicionado em 2003 e o saldo positivo de 17 mil empregos industriais com carteira assinada no ano passado representam pequena parte das perdas de 39% no VA e mais de 100 mil empregos industriais formais ao longo da década de 90.


 


Em relação ao financiamento, o êxito dos agentes locais está subordinado à capacidade de sensibilizar esferas superiores de poder a fim de garantir recursos que se traduzam em instrumentais potencializadores de competitividade. E nesse ponto é preciso colocar os pés no chão e admitir que a situação das micro e pequenas empresas inspira cuidados. Não apenas por transparência e respeito à realidade dos fatos, mas também por questão de eficiência. Nenhum órgão financiador vai atender a pedido de instituições que vendem imagem de plena saúde e de que, portanto, não precisam ser amparadas.


 


Sinal dos tempos


 


Da mesma forma que a chamada Terceira Via européia ganhou corpo na lacuna de insatisfação entre o socialismo e o capitalismo, o notável despertar de solidariedade entre agentes públicos e privados no Grande ABC é reflexo direto dos estragos provocados pela desastrada inserção brasileira na competição internacional. Antes que o ex-presidente Fernando Collor de Mello chamasse os automóveis brasileiros de carroças e decidisse patrocinar o início da mais voraz e desorganizada abertura econômica que se tem notícia no mundo, empresários se comportavam como ilhas porque viviam num mundo de faz-de-conta em que podiam repassar ineficiências aos preços dos produtos no panorama de mercado fechado. As prefeituras dos sete municípios também não mexiam uma palha sequer em matéria de desenvolvimento econômico porque a arrecadação de impostos embalada pelo mercado protegido era mais que convite ao comodismo.


 


Tudo mudou radicalmente quando o Brasil entrou na rota internacional. Fornecedores da indústria automobilística passaram a conviver com pressões de custos sem precedentes nos anos de mercado blindado. Para não sucumbir aos novos tempos de competitividade sem fronteiras, tiveram que abandonar antigo sentimento de auto-suficiência para estabelecer laços estratégicos de cooperação com antigos concorrentes, além de investir em novos equipamentos e processos produtivos.


 


Ao mesmo tempo em que começaram a dar as mãos para sobreviver juntos, empresários receberam apoio de poderes públicos que saíram de posição passiva e passaram a jogar papéis prospectivos. Em vez de meras arrecadadoras de impostos, as prefeituras começam a entender que têm responsabilidade no fortalecimento de segmentos fragilizados e no desenvolvimento de embriões de novas matrizes produtivas que contribuam para amenizar os altos e baixos inerentes de uma economia sobre rodas. Esse papel coube principalmente à Agência de Desenvolvimento Econômico, braço executivo do Consórcio Intermunicipal e espécie de extensão das secretarias de desenvolvimento para questões de caráter estratégico.


 


Montadoras são exceção à regra de aproximação e ações conjuntas. Ford, Volks, General Motors, Scania e DaimlerChrysler continuam tão distantes do poder público e umas das outras como há 40 anos, basicamente porque integram relativamente poucos grupos internacionais acostumados a digladiar por fatias de mercado pelo mundo afora. São grandes demais, poderosas demais e reluzentes demais para converter proximidade física em vantagens competitivas com contratação de serviços comuns, por exemplo.


 


Também ignoram as esferas locais de poder porque, do alto da visibilidade proporcionada pelo gigantismo transnacional, relacionam-se diretamente com o Estado e a União. A falta de enraizamento e comprometimento com território local é efeito colateral do chamado desenvolvimento exógeno, de dentro para fora, como não cansa de alertar Jeroen Klink, secretário de Desenvolvimento Econômico e Ação Regional de Santo André.


 


Sem os mesmos recursos, micros e pequenos fornecedores são obrigados a se unir e buscar apoio na esfera governamental mais próxima, como os APLs (Arranjos Produtivos Locais) de ferramentaria, plásticos e autopeças geridos pela Agência de Desenvolvimento Econômico.


 


APLs em si não são novidade. Existem centenas espalhados pelo Brasil. Mas no Grande ABC ganha significado especial por ser a única aglomeração metropolitana a contar com três exemplares distintos da iniciativa patrocinada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).


 


O motivo da aparente overdose é simples: os setores de autopeças, plásticos e ferramentaria, estão no barco frágil do setor automotivo que, exatamente por esse caráter multissetorial, responde por cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) da região.


 


Os APLs do Grande ABC envolvem 65 empresas e receberam aporte de R$ 1,7 milhão do Sebrae nacional, além de R$ 100 mil da Agência de Desenvolvimento Econômico. Desde setembro do ano passado, representantes das empresas filiadas se reúnem semanalmente na sede da Agência para trocar experiências e assimilar lições de capacitação gerencial transmitidas por consultoria especializada. Empreendedores de ferramentaria se encontram às terças-feiras, de autopeças às quartas e de plásticos às quintas, sempre após o expediente.


 


Agora, os APLs estão ingressando em nova fase: técnicos da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e do Senai Mário Amato visitarão o chão-de-fábrica de cada uma das 65 participantes para sugerir aperfeiçoamentos de layout, de gestão de estoques e outras valiosas orientações para reduzir custos e otimizar recursos. A bateria de consultorias in loco começa este mês e se estende pelos próximos 90 dias.


 


“As consultorias produzirão relatórios individuais chamados PAI (Plano de Ação Imediata) e PAE (Plano de Ação Estratégica). No primeiro, os técnicos recomendarão ações simples como alterações no processo produtivo. Já no segundo, servirá para abordagens estratégicas, como recomendação de aquisição de equipamentos identificados com as novas demandas do mercado” -- explica Raimundo Libório Júnior, gerente de APLs da Agência de Desenvolvimento Econômico.


 


Associações


 


Libório conta que os próximos passos são a realização de compras conjuntas para baratear preços de insumos, máquinas e equipamentos, e reivindicação de empréstimos a juros mais acessíveis para investimentos em máquinas e capital de giro. Cada grupo já criou sua própria associação, com CNPJ comum, a fim de viabilizar aquisições em escala atacadista. “Outra meta é facilitar o acesso das associadas a programas para obtenção da norma ISO 9000” -- comenta Libório, que estima em apenas 20% o número de afiliadas que já ostentam o selo internacional de qualidade.


 


No APL de ferramentaria existe grupo que atingiu patamar mais elevado em associativismo. Proprietários da Kayac, Prodemol, Promodel, Taurus e HR investiram cerca de R$ 2 milhões na criação da Usion Metalúrgica, instalada desde janeiro de 2002 no Bairro Cooperativa, em São Bernardo. A iniciativa surgiu como resposta à necessidade de ingressar no filé-mignon das ferramentarias de grande porte. Se não se cotizassem para adquirir máquinas e equipamentos inacessíveis individualmente, estariam fora do jogo normalmente reservado a poderosas multinacionais.


 


Trata-se de exemplo acabado do que especialistas em competitividade chamam de coopetição, neologismo formado pela junção dos vocábulos competição e cooperação. Os empresários continuam disputando no front das ferramentas de pequeno porte, mas cooperam uns com os outros para vencer batalhas que demandam fortes inversões financeiras. A importância da iniciativa se dá principalmente em relação ao cumprimento de prazos de entrega. Prazo representa variável crítica, já que ferramentas e moldes entram na primeira fase do processo industrial e a renovação das linhas de produtos é cada vez mais voraz. Principalmente no setor automotivo. “Ferramentas de grande porte normalmente formam conjuntos com peças de pequenas dimensões. Com a criação da Usion passamos a ter condições de entregar o sistema completo” -- explica Carlos Diegues, diretor da Kayac.


 


A ATA (Autoparts Technology Alliance) é mais um exemplo de bloco setorial sinérgico orquestrado pela Agência de Desenvolvimento Econômico em parceria com a Casa do Mercosul, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Caetano. Mas, diferentemente dos APLs, que ajustam sensores de competitividade no compartilhamento de ações voltadas à gestão e processos produtivos, a ATA tem foco voltado para o comércio internacional. O consórcio de exportação tem sustentação financeira da APEX (Agência de Promoção de Exportações) do governo federal.


 


O cenário de desvalorização cambial é propício, mas a luta da ATA não tem sido fácil. Por enquanto, a participação em uma dezena de feiras internacionais garantiu contrato de exportação a apenas uma das seis filiadas do Grande ABC, a Soumetal, de São Caetano. As demais, Altwin Eletric, de Ribeirão Pires, Prats, de Santo André, Presstécnica, de São Bernardo, Proxion, de São Bernardo e Tila, de Diadema, aguardam resultados concretos de contatos mantidos com potenciais importadores.


 


“Como as associadas são fornecedoras de componentes para grandes sistemistas, o tempo de maturação das negociações é maior. Não se trata de produtos de balcão, mas de peças sob encomenda que demandam inclusive concepção de ferramental” -- explica Geraldo Celso Feo Nunes, gerente comercial da ATA, sediada em São Caetano.


 


A bordo da ATA, autopeças do Grande ABC já estiveram em feiras no México, França, Alemanha e Estados Unidos. Em abril surge nova possibilidade de participação no evento da SAE -- Society of Automotive Engineers (Sociedade de Engenheiros Automotivos) nos Estados Unidos. Celso Nunes explica que o estande da ATA normalmente tem entre 20 e 25 metros quadrados reservados para amostras de componentes e materiais promocionais. Cada feira conta com participação pessoal dele e de representantes de duas associadas, em sistema de rodízio. “As empresas não precisam gastar um tostão com locação de espaço ou hospedagem porque os custos são pagos pela Apex” -- enfatiza.


 


Não surpreende que autopeças de origem familiar representem o principal foco de incêndio para os extintores da Agência de Desenvolvimento Econômico. Além de sofrer assédio de concorrentes transnacionais que se instalaram no País a bordo do global sourcing (suprimento global), pequenos fornecedores foram particularmente afetados com o rebaixamento da tarifa de importação de componentes num contexto de paridade cambial artificializada. A pretexto de combater a inflação, o governo FHC dizimou centenas de empresas. As que resistiram ao apelo da guerra fiscal e permaneceram no Grande ABC continuam gritando por socorro.


 


Moveleiros


 


Assim como as autopeças, fabricantes de móveis do Grande ABC -- e particularmente de São Bernardo -- passaram por maus bocados e já não são nem sombra do passado de glórias. Parcela expressiva dos moveleiros da região, antiga capital nacional do produto, ficou restrita ao simples papel de revendedora de móveis fabricados por terceiros. Enquanto isso, regiões brasileiras como Votuporanga e Mirassol, no Interior de São Paulo, e Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, centraram foco na excelência tecnológica e assumiram papel de protagonistas.


 


Com muito atraso em relação às principais praças produtoras do País, moveleiros do Grande ABC também começaram a se mobilizar. Conseguiram, por exemplo, a criação do Centro Tecnológico da Indústria Moveleira no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) Almirante Tamandaré, em São Bernardo, integraram consórcio de exportação com empresas além dos limites regionais e, mais recentemente, passaram a trocar conhecimentos que já refletem na performance financeira. O comando das ações é compartilhado entre o Sindicato dos Moveleiros do Grande ABC e o Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Paulo, com suporte do Sebrae.


 


A articulação dos moveleiros começou no ano 2000, quando as empresas do setor conseguiram do governo do Estado a redução da cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 18% para 12%. “As necessidades começaram a aflorar naturalmente” -- conta Ronaldo Aranha Satoris, assistente do Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Paulo. O passo seguinte foi a formatação de consórcio de exportação custeado pela Apex, a agência federal de fomento às vendas externas. O consórcio de exportação reúne 32 empresas da Região Metropolitana de São Paulo, das quais 15 do Grande ABC, e começa a dar resultados -- embora modestos. Em 2004, 10 empresas exportaram R$ 1 milhão. “Outras já estão em vias de exportar. Já vendemos para os Estados Unidos e Europa e estamos negociando com o México, Chile e Emirados Árabes” -- conta José Carlos Fonseca, diretor da Matic, de Santo André.


 


Já a criação de Centro Tecnológico da Indústria Moveleira na Escola Senai Almirante Tamandaré transformou o curso de marcenaria em sistema de formação profissional com o que há de mais avançado em produção e gestão. Com essa iniciativa os moveleiros da região correram atrás dos concorrentes de Votuporanga -- que já haviam implantado moderno centro tecnológico para desenvolvimento de produtos e materiais.


 


A articulação dos moveleiros do Grande ABC e da Região Metropolitana evoluiu com a formação de grupo com 40 empresas -- metade da região -- que passaram a discutir mais aprofundadamente o associativismo. Na troca de idéias foram definidas e praticadas ações em seis eixos de atuação: design e desenvolvimento de produtos, central de compras, busca de linhas de crédito, criação de canais de distribuição e de vendas e desenvolvimento da área de comunicação.


 


As 40 empresas tiveram, de acordo com dados do Sebrae, crescimento de 38% no faturamento entre 2003 e 2004, além de avanço de 21% na geração de empregos. “Houve troca de conhecimento e de processos. Passamos a perceber que as dificuldades de um empresário já haviam sido solucionadas por outro” -- conta José Carlos Fonseca, diretor da Matic.


 


“Todas as ações estão sendo integradas em único plano para que não ocorra dispersão de forças” -- lembra Ronaldo Aranha Satoris, do Sindicato dos Moveleiros de São Paulo. Silvana Pompermayer, gerente do Sebrae no Grande ABC, lembra que em 2003, quando o grupo foi formado, diversas empresas aderiram ao debate em situação financeira pouco confortável. “Algumas começaram a participar das discussões como última alternativa. Mas conseguiram se recuperar no final de 2004” -- garante.


 


Cosmético exemplar


 


O Pólo de Cosméticos de Diadema não tem a tradição dos moveleiros nem a importância das autopeças para a economia regional, mas desponta como um dos melhores frutos de aproximação estratégica. Nesse caso, o Poder Público assumiu papel essencial: a Prefeitura vislumbrou oportunidade de transformar a aglomeração espontânea de 100 empresas responsáveis por cerca de oito mil empregos diretos em muito mais do que feliz coincidência geográfica gerada pela posição logística na margem da Rodovia dos Imigrantes. A missão de articular interesses foi cumprida com maestria pelo vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Econômico, Joel Fonseca. O entrosamento entre interesses públicos e privados vai de vento em popa.


 


Com apoio financeiro da Prefeitura, empresas do Pólo participaram de várias edições da versão brasileira da Cosmoprof e da Feira da APAS (Associação Paulista dos Supermercados), além de quatro feiras internacionais em Bologna, na Itália, Dubai, nos Emirados Árabes, Londres, na Inglaterra e San Diego, nos Estados Unidos. Nos eventos internacionais o Pólo compartilha megaestande da Abihpec (Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal e Cosméticos), também custeado pela Apex.


 


O faturamento das empresas do Pólo de Cosméticos com vendas externas atingiu US$ 750 milhões no ano passado e deve alcançar US$ 1,5 milhão em 2005, de acordo com estimativa do coordenador-geral Ricardo Fioravanti, vitrine viva do grupo nas feiras internacionais. A ele compete a tarefa de expor produtos a potenciais clientes internacionais.


 


O sistema de compras compartilhadas também garante resultados ao Pólo de Cosméticos. A aquisição conjunta de matérias-primas por meio de leilões via-internet ou em negociações diretas garante descontos de até 30%. A próxima meta é obter financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para materializar centro de desenvolvimento tecnológico. O investimento voltado ao aperfeiçoamento de produtos demandaria entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões.


 


Para facilitar a obtenção do empréstimo, o Pólo optou por identidade jurídica própria e recentemente ganhou o formato de Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Com isso, pretende consolidar as ações para transformar 2005 em ano-chave do aprimoramento do associativismo. A maioria dos participantes tem os pés no chão, reconhece que o Pólo ainda está engatinhando, mas é entusiasta da fórmula. “O mais importante foi quebrar o isolamento, romper o conceito de que empresas concorrentes são necessariamente inimigas” -- considera o presidente do Pólo de Cosméticos Renê Lopes.


 


Renê Lopes é gerente geral e responsável pela área de relações internacionais da Coper Karina e tem, portanto, propriedade para analisar o Pólo, também, sob o dia-a-dia da empresa. No papel de executivo, ele reconhece a importância da atuação conjunta no desenvolvimento de novos negócios, principalmente nas exportações. O Grupo Coper Karina é de médio porte, tem alcance nacional capilarizado, mas ainda se ressentia de maior inserção no mercado internacional, tradicionalmente mais acessível às grandes corporações.


 


Incubadoras


 


As incubadoras de empresas do Grande ABC também figuram como exemplos consistentes de que interação entre diferentes agentes pode resultar em avanços. As experiências surgiram a partir de parcerias entre prefeituras, Sebrae, Agência de Desenvolvimento, associações empresariais, sindicatos de trabalhadores e universidades. Depois de quatro anos, as três incubadoras faturam juntas perto de R$ 10 milhões por ano e registram patentes de novas tecnologias. São 51 micro e pequenas empresas responsáveis por 319 postos de trabalho.


 


Graças às incubadoras, o Grande ABC produz softwares, eletrônicos, autopeças inovadoras, além de tecidos e resinas orgânicos que fazem o sonho de qualquer ambientalista. Há cinco anos surgia a primeira experiência, a Iesbec (Incubadora de Empresas de São Bernardo), que reúne 24 empresas de base tecnológica, vai faturar média de R$ 5,5 milhões anuais entre 2004 e 2005 e já discute com universidades e institutos de tecnologia do Grande ABC a criação de pólo tecnológico regional.


 


Dos laboratórios e oficinas de incubadoras saem produtos como resinas protéicas vegetais para embalagens a custo menor do que congêneres acrílicas e tóxicas; filtros de diesel para separar água do combustível, equipamento inédito em todo mundo e que começa a ser comercializado; além de sites de gerenciamento hoteleiro e tecidos naturais, tingidos e amaciados com os brasileiríssimos açaí e cupuaçu. “Nosso principal foco agora é desenvolvimento de pesquisa para termos produtos inovadores com diferencial extremamente elevado e com grande competitividade” -- afirma o gerente da Iesbec, Alexandre Vancin, cuja principal função é transformar brilhantes técnicos e engenheiros em empreendedores de sucesso.


 


Depois de ensinar que boa idéia precisa sempre estar acompanhada por plano de negócios, Vancin já contabiliza 13 patentes de produtos inovadores, além de ter encaminhado 18 projetos para a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), dois dos quais já aprovados e que resultaram em inovações comercializadas no mercado. A prioridade é buscar financiamento para pesquisa e desenvolvimento de produtos.


 


Com dois anos e meio de atividades, a Innova (Incubadora de projetos de Desenvolvimento Tecnológicos de Santo André) abriga 12 empresas, além de outras duas em fase de seleção. “A idéia é até outubro termos 20 empresas, o dobro do que incubávamos no ano passado. O modelo de incubação já alcançamos. Agora está na hora de crescer em volume, em faturamento e em número de empreendimentos e patentes” -- declara o gerente da Innova, Alexandre Gaino. Assim como a Iesbec, a incubadora de Santo André também busca financiamento para pesquisa e desenvolvimento de produtos. A própria Innova conseguiu financiamento de R$ 325 mil junto à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para a realização de nove cursos de gestão de negócios, relações humanas até gestão de inovação tecnológica. Sete das 12 empresas desenvolvem softwares e as outras atuam nas áreas química, eletrônica e de automação. Parte da expansão pretendida pela incubadora está voltada ao desenvolvimento de tecnologia para a área educacional “Esse mercado está em expansão há muito tempo e há espaço para soluções inovadoras” -- afirmou o gerente da Innova que, em 2004, faturou R$ 350 mil, 200% a mais do que no ano anterior.


 


Em Mauá, ao contrário das experiências de Santo André e São Bernardo, a incubadora tem caráter misto, isto é, abriga empresas comuns e de alta tecnologia. Com três anos de atividades, a Incubadora de Empresas Barão de Mauá conta com 15 unidades que produzem de suco de frutas a softwares e autopeças. O faturamento em 2004 foi de R$ 4,2 milhões, mais do que o dobro do ano anterior. O gerente Domingos Sávio afirma que a meta para 2005 é manter o resultado de 2004. “A gente tem de implementar mais o marketing e vendas, além da busca de novos processos produtivos” -- afirma.


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