Quase um ano após a Reportagem de Capa sobre o boom das academias de ginástica, o Grande ABC continua fértil na multiplicação de opções de boa forma: Santo André ganhou três empreendimentos nos últimos tempos: Bio Fit, em funcionamento desde meados de setembro na Vila Bastos, além de Italy e EcoGym, abertas em fins de outubro no Bairro Jardim. As novidades ampliam ainda mais o leque de opções para o público em busca de saúde e bem-estar. Mas carregam nuvem de preocupação na medida em que sinalizam overdose de contendores. Se a base de alunos não crescer na velocidade da multiplicação dos concorrentes, é possível que o setor apresente sinais de fadiga nos próximos anos.
A Italy aterrissou na Rua das Figueiras com o que há de melhor e mais moderno no universo do fitness (boa forma). E nem poderia ser diferente. Trata-se da primeira filial de mega-academia criada há 17 anos
“Procuramos oferecer o que há de melhor em nível internacional” -- sintetiza o diretor Rogério Strazzi, filho do fundador Nilson Strazzi.
Os adeptos da corrida sabem que não há substituto à altura de ruas e parques para conferir satisfação às passadas. Mas a Italy lança mão de tecnologia de ponta para conferir o máximo de prazer e segurança à atividade indoor. As 17 esteiras da unidade de Santo André dispõem de sistema personalizado de absorção de impacto. Alunos digitam o próprio peso antes de iniciar o exercício para que o equipamento calcule a resistência ideal de acordo com a massa corporal. Mas não é preciso se preocupar em apertar botões para aumentar ou diminuir a velocidade. Basta passar a mão direita sobre um sensor para acelerar o ritmo das passadas ou a mão esquerda sobre outro sensor para reduzir a intensidade do esforço.
Além de práticas e seguras, as esteiras da marca Total Health (Saúde Total) distraem a mente enquanto exercitam a musculatura, o coração e os pulmões. São equipadas com telas planas para que os alunos possam acompanhar a programação preferida enquanto suam a camisa, incluindo canais de tevê a cabo.
Outro sinal de que a Italy chegou com fôlego de maratonista para ganhar espaço entre as academias já instaladas está nas três amplas salas de ginástica transformadas em palco para 150 aulas por mês. O número representa menos da metade das 400 aulas mensais da unidade de São Bernardo, mas ainda assim é respeitável para academia aberta há poucas semanas. “Cada sala conta com banheiro feminino e masculino independentes” -- ressalta Rogério.
A sala específica para sessões grupais de pedaladas é um espetáculo à parte. Assim como na Top Spin & Big Ball, de São Bernardo, e outras academias ultra-aparelhadas da região, na Italy as aulas remetem a clima de balada, em meio a show de luzes propagadas por estroboscópios, som de alta definição e videoclipes exibidos
A área de musculação exclusiva para alunos acompanhados de personal trainers é diferencial que mostra o apetite pelo nicho de quem faz questão de exercitar com suporte técnico individualizado. No oceano dos matriculados nas academias há sempre ilhas de alunos que preferem pagar adicionalmente em troca de orientação em tempo integral. Seja porque apresentam limitações físicas que demandam cuidados especiais, seja porque desejam resultados mais rápidos em termos estéticos ou em performance esportiva. A diferença da Italy em relação à maioria é que conta com verdadeira miniacademia para atender quem desejar rimar malhação e personalização.
Apesar do arsenal tecnológico, das instalações impecáveis e de todos os recursos a serviço da comodidade -- estacionamento gratuito com manobristas, kids room (sala de crianças) com monitores para entreter filhos enquanto os pais se exercitam, vestiários equipados com secadores de cabelo, tábuas e ferros de passar roupa, além de horário de funcionamento esticado das 6h às 24h de segunda à sexta, das 8h às 17h aos sábados e das 10h às 22h aos domingos, a Italy de Santo André não cobra preços exorbitantes. Pelo contrário, as mensalidades se situam na média da região. Quem opta pelo plano anual paga o equivalente a R$ 95,00 por mês, não precisa custear taxa de matrícula, exame médico e cartão de acesso, e ainda ganha bônus de R$ 50,00 para adquirir produtos da marca Italy na loja instalada logo na entrada da academia.
O preço convidativo é resultado da economia de escala, como explica Rogério Strazzi, formado em economia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica). “Contrariamos o senso comum de que tudo o que é bom custa mais caro” -- orgulha-se Strazzi, apoiado nos mais de dois mil alunos da unidade de São Bernardo. Ele espera que a academia de Santo André atinja mais de mil matrículas, ou até 1,5 mil em plena forma. O quadro de colaboradores já registra 30 profissionais, mais da metade dos 50 de São Bernardo.
Ao lado da Top Spin & Big Ball e da Tem Esportes, a Italy de São Bernardo é uma das maiores academias da região em número de alunos e estrutura física. O colosso instalado no km 17,5 da Via Anchieta totaliza sete mil metros quadrados com academia de musculação e ginástica, duas quadras de tênis, uma quadra de squash, piscina coberta, centro estético especializado em tratamentos faciais e corporais e estacionamento para 200 veículos.
Rogério Strazzi conta que cerca de 30% dos dois mil alunos de São Bernardo moram
Ecológica
A poucos quarteirões da filial da Italy
Não é preciso ser expert no mercado de fitness ou obcecado por atividade física para se dar conta de que a EcoGym é diferente. Imagine um bosque bem cuidado repleto de aparelhos de musculação. Pois essa imagem surreal é a que melhor traduz o ambiente. Logo na entrada, espreguiçadeiras de madeira sobre o gramado verdejante convidam os visitantes a deixar o estresse do lado de fora. Em vez de concreto ou metal, a estrutura é feita de quiosques de sapê, madeiras de reflorestamento e telhas translúcidas. No lugar de escadas e elevadores que dão o tom da verticalização urbana, a ponte sobre o lago integrado à cascata.
O lago não é meramente decorativo, mas fruto de trabalho de biólogos, como João Vicente faz questão de enfatizar. Composto de plantas tropicais e pedras naturais, não implica em consumo de água potável, pois o sistema de retroalimentação permite aproveitar as chuvas. A lanchonete serve apenas lanches naturais e empanados integrais. Quem utilizar o lavabo depara com outra peculiaridade ecologicamente responsável: o encanamento aparente é feito com bambu extraído de Caucáia do Alto, Interior de São Paulo, por comunidade que vive da exploração responsável do vegetal.
“Os quiosques de sapê também foram feitos pela mesma comunidade” -- explica João Vicente, que destaca mais uma diferença em relação às academias convencionais: as aulas de alongamento e bicicleta são realizadas ao ar livre, sobre o gramado. Mais um detalhe do engajamento à causa ecológica? Material de divulgação e planilhas de treinamento dos alunos são impressos em papel reciclável.
Além do apreço de João Vicente e das sócias pela natureza, uma razão exclusivamente pragmática levou o trio a optar pelo formato ecológico: a necessidade de trilhar caminho diferente das demais academias para driblar a disputa com concorrentes maiores e mais tradicionais. A EcoGym se posiciona preferencialmente sobre o nicho de público formado pelos adeptos do culto à natureza que estão em busca de estilo de vida mais simples, tranquilo e saudável.
“A ênfase é no público mais maduro, incluindo pessoas que não estão em plena forma ou passaram a se exercitar por recomendação médica a fim de se reabilitar. O foco também recai sobre profissionais estressados de todas as idades que, em vez de prolongar o sentido de competição na hora de fazer atividade física depois de longo período de trabalho, como acontece em muitas academias, preferem relaxar em um ambiente mais calmo” -- explica João Vicente, consultor e especialista em esportes ao ar livre e de aventura.
A disposição para oferecer serviço premium mais identificado com o conceito de wellness (bem-estar) do que fitness (boa forma) está presente na origem do projeto. João Vicente explica que poderia ter estruturado academia com
“Imagine se todas as empresas destinassem 40% do espaço a áreas verdes. O mundo seria outro, bem mais agradável” -- comenta, esgrimindo conceito que trafega na contramão da escassez dimensional dos conjuntos habitacionais, dos carros compactos e das poltronas dos aviões. “A capacidade máxima é para 250 alunos” -- define.
É claro que espaço e exclusividade têm custo. Os alunos na EcoGym pagam mensalidades um pouco mais salgadas que a média do mercado regional, mas estão certos de que o cenário verdejante e o barulhinho da cascata compensam o sobrepreço.
Sonho realizado
Com
Luciana e Rogério acumulavam quilometragem como professores em academias de terceiros antes de embarcar na própria. “O sonho de todo professor de Educação Física é ter o próprio negócio” -- explica Luciana.
Como o Grande ABC acolhe a Fefisa (Faculdades Integradas de Santo André), considerada referência nacional no setor, é natural que dezenas de academias pipoquem na região. Luciana, Rogério e Vanessa Gonzalez, sócia da EcoGym, são formados pela instituição que já completou 35 anos. Mas a proliferação de academias no berço nacional dos veículos e dos insumos petroquímicos tem outras justificativas. Na condição de uma das regiões mais industrializadas e importante economicamente do País, apesar da queda de 39% do Valor Adicionado nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, o Grande ABC é naturalmente tenso, já que um certo grau de estresse é intrínseco ao progresso. E como não há nada melhor que combater o estresse-nosso-de-cada-dia com atividades orientadas por profissionais habilitados em ambientes planejados e estimulantes, a eclosão desses centros de recomposição física, psíquica e emocional consolida-se em processo natural.
Confirmação
A nova leva formada por Italy, EcoGym e Bio Fit reforça o mote de Reportagem de Capa de fevereiro deste ano em que o boom do segmento fitness no Grande ABC era apresentado como fenômeno detonado basicamente por empreendimentos regionais. “O Grande ABC do trabalho árduo e engravatado ostenta faceta comportamental tão desconhecida como importante: reúne algumas das melhores e maiores academias de ginástica do País, e, o que é mais significativo, são marcas genuinamente locais. A região vista como periferia da Capital não se iguala ao epicentro econômico-financeiro da América do Sul, onde empresas como Companhia Atlética, Fórmula, Bioritmo, Reebok, Competition e Runner compõem a maior concentração de grifes do fitness do País. Mas a falta de mega-academias paulistanas é satisfatoriamente compensada pela oferta de empreendimentos locais que não deixam nada a desejar em estrutura física, equipamentos e qualificação profissional. E mais: diferentemente do comércio varejista engolido por conglomerados de outras praças, o segmento fitness desenvolve personalidade própria e continua firme sob-rédeas de empreendedores locais. Apenas a Runner ostenta uma filial na região” -- informava a matéria de capa.
A reportagem apresentava São Bernardo como o ponto mais alto no pódio regional das grandes academias. Além de acolher três unidades da Tem Esportes, nos bairros Paulicéia, Nova Petrópolis e Rudge Ramos, e outras empresas tradicionais como Italy e Atlantis, São Bernardo comemorou a chegada da Top Spin & Big Ball, em abril de 2004. O colosso de 29 mil metros quadrados implantado em antiga área industrial demandou investimento superior a R$ 3 milhões. Reúne quatro quadras de tênis, cinco campos de futebol society, duas piscinas, quadra de vôlei de areia, ampla academia de musculação e ginástica e até pista de cooper.
Mas a recente onda das três novas academias
São Caetano oferece opções à altura do status primeiro-mundista, como a veterana Triathlon e a O2, aberta em setembro de 2003. Mauá, Diadema e Ribeirão Pires não deixam de participar da festa com opções situadas tanto nas áreas centrais como
Em que pese a multiplicação de concorrentes, os novos empreendedores não acreditam que a oferta esteja superestimada em relação à demanda. Como se tivessem combinado a resposta -- e num sinal inequívoco de que estão bem informados -- os diretores da Italy, Bio Fit e EcoGym citam dados setoriais que dão conta de que apenas 2% da população brasileira se exercita em academias, contra 13% da norte-americana e 8% da européia.
“Significa que o segmento ainda pode crescer muito no Brasil” -- observa Rogério Gandolfo, da Bio Fit. É provável que em aglomerações metropolitanas como o Grande ABC o percentual de matriculados supere a média nacional. Mesmo assim, o contingente de sedentários é suficientemente extenso para justificar novos investimentos.
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