Em reportagem de capa de fevereiro de 2005, LivreMercado mergulhou em fenômeno notável: o mercado da boa forma era quase todo composto de academias genuinamente regionais. A exceção era a Runner, única grife paulistana em meio a nomes como Tem Esportes, Triathlon, Dynamic, O2 e Top Spin & Big Ball. Passados dois anos, a exceção não resistiu à regra. Com o fechamento da unidade da Runner no Shopping ABC, em Santo André, o Grande ABC se tornou território exclusivo de empresas locais que não deixam nada a desejar a gigantes como Companhia Atlética, Fórmula, Bio Ritmo, Reebok e Competition, além da própria Runner. Exemplo é a Italy. Fundada há 18 anos em São Bernardo, acaba de inaugurar uma megaunidade em São Caetano depois de se consolidar também em Santo André.
Ironia do destino: a então gerente da Runner de Santo André, Samara Queiroz, foi quem ilustrou a reportagem de capa de fevereiro de 2005. Ela posou com luvas de boxe, desferindo um potente direto de esquerda, numa espécie de alegoria sobre a competitividade do setor. No título, lia-se “Malhar, que ninguém é só trabalho”. Quem diria que, passados somente quatro anos da inauguração, a Runner jogaria a toalha com o fechamento da unidade instalada no Shopping ABC, em dezembro último?
Afinal, trata-se da maior rede de fitness do País, com 10 academias espalhadas por São Paulo, uma em Guarulhos e outra em Sorocaba. As 12 unidades contabilizam cerca de 25 mil alunos e 700 funcionários.
Não adianta perguntar o motivo do encerramento das atividades aos porta-vozes da Runner. “O fechamento teve vários motivos, todos muito bem estudados e definidos pela presidência e pela diretoria” -- tergiversa a relações públicas Camila Virillo. Questionada se os custos relativamente mais elevados de um shopping poderiam ter desestimulado a permanência, Camila responde: “Custos de um shopping não são mais elevados se forem compensados com receitas maiores. O que importa é a relação custo/benefício”.
O Shopping ABC emergiu como o endereço ideal pois se conectava ao público pretendido pela Runner. Na entrevista publicada há dois anos, Samara Queiroz explicava que o foco da rede é o público mais abastado, que não se importa de pagar um pouco mais por status. “Nosso foco são os públicos A e B, que fazem questão de se sentir diferenciados” -- contava. Numa região que passou por processo de empobrecimento sem excedentes na esteira da evasão industrial, o apego ao topo da pirâmide social pode ter sido um dos fatores do insucesso.
Representante do Shopping ABC informa, de maneira protocolar, que o fechamento se deu por questões administrativas. E que várias opções estão em análise para reposição da área de 2,6 mil metros quadrados. Entre os interessados constaria até outra academia.
Italy em alta
Poucos dias após o fechamento da Runner, a Italy abriu megafilial em São Caetano. O prédio em plena avenida Goiás acolheu atividades da General Motors décadas atrás e foi praticamente reconstruído, pois ultimamente estava desocupado e caindo aos pedaços. São 3,5 mil metros quadrados para atividades físicas e dois mil metros quadrados para estacionamento com capacidade para 130 veículos. “Criamos uma academia de primeiro mundo, à altura do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de São Caetano” -- assegura Rogério Strazzi, que dirige a rede com o pai e fundador Nilson Strazzi.
Basta conhecer para saber que não se trata de exagero. Equipamentos de musculação de última geração dividem espaço como esteiras equipadas com monitores tela plana de 15 polegadas para que alunos possam se entreter com programação televisiva enquanto correm ou caminham. No mezanino instala-se uma sala de bike spinning com 36 bicicletas estacionárias, duas salas de ginástica, além da running class -- sala de corrida em grupo onde alunos seguem instruções do professor em relação à velocidade e grau de inclinação das esteiras. Assim como no bike spinning, o ambiente da sala de corrida é estimulado com show de luzes, música e imagem em telão. “É a primeira running class do Grande ABC” -- orgulha-se Rogério Strazzi, ao contar que se inspirou na Fórmula, de São Paulo.
O público que prefere se exercitar na água não foi esquecido. A Italy de São Caetano tem duas piscinas, uma para hidroginástica e outra semi-olímpica, tratadas com ozônio. Os professores são treinados pelo medalhista olímpico Gustavo Borges e o sistema de aulas representa inovação para o padrão nacional. Em vez de subordinar-se a dias e horários preestabelecidos, os alunos adquirem créditos que podem ser utilizados quando bem entenderem. Se a piscina estiver com a capacidade esgotada, basta aguardar a próxima sessão. “Com o sistema de crédito pessoas atarefadas não precisam ter receio de pagar e não fazer” -- lembra Nilson Strazzi.
A modernidade de uma academia não se faz apenas com equipamentos de última geração, mas também com serviços agregados e detalhes que parecem destoar do core business (negócio principal) mas são importantes na medida em que facilitam a vida e asseguram a fidelidade dos frequentadores. A Italy de São Caetano oferece serviço de manobristas, kids room para acolher crianças enquanto os pais se exercitam e banheiros equipados com secadores de cabelo, ferro e tábua de passar roupa caso alunas precisem emendar a malhação com um encontro importante ou reunião de negócios. Além disso, dispõe de loja de roupas esportivas e acessórios de própria marca, salão de beleza e um bar logo na entrada, ao lado da recepção. Horário estendido é outra exigência para se manter no topo. Aberta das 6h às 24h de segunda a sexta, não fecha nem aos domingos e feriados. “O segmento passa por fase de consolidação. Só os mais preparados vão permanecer” -- considera Rogério Strazzi.
Antes da chegada da Italy, São Caetano já era bem servida por dois exemplares de alto nível: a veterana Triathlon, em operação desde 1984 na Vila Gerty, e a O2, inaugurada em setembro de 2003 no Bairro Barcelona. O tempo dirá se haverá espaço para todas na cidade campeã de renda per capita, mas cuja população costuma consumir em São Paulo.
A Italy de São Caetano segue o mesmo padrão das unidades de São Bernardo e Santo André, aberta desde novembro de 2005 no Bairro Jardim. Rogério e Nilson Strazzi já pensam na quarta unidade, mas preferem não revelar detalhes. Uma das possibilidades é aderir ao sistema de franchising.
Remo
Quem acha que já conhece tudo em matéria de fitness (boa forma) e wellness (bem-estar) precisa conhecer a cartada mais recente da Top Spin & Big Ball, maior academia do Grande ABC, instalada em 29 mil metros quadrados da Avenida Piraporinha, em São Bernardo. Como se quatro quadras de tênis, cinco campos de futebol society, duas piscinas, quadra de vôlei de areia, musculação e diversas opções de ginástica e atividades cardiovasculares não fossem suficientes, a Top Spin lançou a modalidade remo indoor. O conceito se assemelha ao bike spinning e ao running class. Trata-se de sala com 13 simuladores, dotada de equipamentos de som, iluminação e telão, para transmissão de imagem de competições. “O remo trabalha braços, pernas e músculos abdominais em conjunto” -- recomenda a professora Daniela de Campos Bianco, ao explicar que cada sessão tem 30 minutos de duração.
Outro ponto alto da Top Spin é a atenção especial à corrida. Além de esteiras de última geração, dispõe de pista com 650 metros de extensão e acompanhamento de profissional de altíssimo nível: o ultramaratonista Agnaldo Sampaio, cuja proeza mais recente foi completar 217 quilômetros em 28 horas e 53 minutos, em prova realizada em Minas Gerais, mês passado. Chegou em segundo lugar entre 20 participantes.
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