Quem se deixou levar pela promessa de marketing e foi à palestra do jornalista Paulo Henrique Amorim em busca de análises, idéias ou considerações sobre a economia do Grande ABC perdeu tempo no auditório do Hotel Pampas Palace, em São Bernardo, dia oito de fevereiro. Ex-correspondente da revista Veja e da Rede Globo em Nova Iorque e atual apresentador do Domingo Espetacular, na TV Record, Paulo Henrique Amorim deu espécie de aula magna sobre as potencialidades do Brasil, mas deixou a desejar em relação à região.
Primeiro, por demonstrar visão ufanista. Na abertura da apresentação, logo após pronunciamento de William Dib, no qual o prefeito de São Bernardo destacou a necessidade de recobrar o desenvolvimento econômico como instrumento para sanear dívidas sociais, Paulo Henrique Amorim disse: “É uma honra estar no ABC, essa região de que todos nós brasileiros nos orgulhamos. Eu discordo (do prefeito William Dib). Não acredito que haja a menor possibilidade de haver arrefecimento do crescimento, do dinamismo, da pujança desta região” -- afirmou.
Recomenda-se que leia Reportagem de Capa da edição de fevereiro de LivreMercado na qual São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires aparecem nas últimas colocações no campeonato estadual da produção de riqueza por habitante. Ou que acompanhe, na mesma edição, entrevista do economista Jefferson José da Conceição sobre o perigo representado pela China para a cadeia automotiva do Grande ABC.
Além do arroubo ufanista, Paulo Henrique Amorim recorreu a lugares-comuns ao afirmar que o Grande ABC é uma das regiões mais industrializadas e importantes do País, não apenas pelo potencial econômico mas também por ter sido o berço do sindicalismo, ao citar que a valorização cambial atrapalha a exportação de veículos e ao comentar que a melhoria do padrão de renda do País deve fazer com que mais brasileiros consumam automóveis produzidos em São Bernardo. Ele provavelmente desconhece que a participação do Grande ABC na produção nacional de veículos de passeio está em queda livre.
Desconhecimento
Depois da palestra em que tratou exclusivamente de temas nacionais, Paulo Henrique Amorim reconheceu a falta de familiaridade com o território de 2,5 milhões de habitantes. Ao responder pergunta sobre a importância do Rodoanel, disse literalmente que não pretendia ensinar o pai-nosso ao vigário, isto é, aconselhar os prefeitos da região sobre o assunto. Limitou-se a sugerir, com base em conversa com William Dib minutos antes da palestra, que os prefeitos continuem intensificando a pressão sobre o governo estadual.
A visão superficial não surpreende. Fluência em assuntos macroeconômicos e internacionais não garante passaporte de conhecimento nas entranhas da região que mais perdeu empregos e Valor Adicionado com a inserção atrapalhada do Brasil no mercado internacional e com a pulverização das montadoras e autopeças. Economia regional é ciência que exige dedicação na coleta e interpretação de informações, principalmente em se tratando do Grande ABC. O paradoxal é que, para compreender a dinâmica das cadeias produtivas e de que maneira se relacionam ou não com os atores públicos, educacionais e sindicais, é indispensável reunir conhecimentos macroeconômicos e estar antenado ao que acontece no mundo.
A palestra sobre o Brasil assumiu tom flagrantemente otimista. Paulo Henrique Amorim acredita que o País segue firme na rota de se transformar em grande economia capitalista na qual a classe média -- cada vez mais numerosa, a seu ver -- impulsionará setores econômicos pela via do aquecimento da demanda. O alcance da palestra foi restrito na medida em que 20% das cadeiras estavam ocupadas e William Dib alegou compromisso e se ausentou logo no início. O evento foi promovido pela agência ABC Comunicação com apoio do Ciesp de São Bernardo.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?