O tom crítico de quem sabe que a competitividade regional necessita de reparos é a maior preciosidade da 16ª edição do Observatório Econômico. O boletim produzido pela Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André já sucumbiu à tentação do ufanismo, mas não desta vez. Tanto que a manchete elege a fragilidade logística como o maior desafio da região. O texto assinado por Viviane Soriano Lessa e Alexandre Gaino -- da pasta então chefiada por Luís Paulo Bresciani -- expõe argumentos dignos da linha editorial de LivreMercado. “Não basta estar próximo dos centros de consumo se o acesso está atravancado, se as artérias de escoamento estão entupidas, se ruas e avenidas são insuficientes para o transporte de veículos e de cargas com a rapidez exigida nos dias atuais, se não há linhas férreas modernas e ágeis, se não há, enfim, uma moderna estrutura logística.”
Não é de hoje que a logística desponta como um dos principais obstáculos ao desenvolvimento do Grande ABC, ao lado do congelamento compulsório de terrenos amplos e bem localizados por conta de pendengas judiciais que extrapolam as jurisdições municipais. Mas a questão ganha contornos mais fortes às vésperas da expansão do Pólo Petroquímico de Capuava e no momento em que a indústria automobilística ensaia nova onda de investimentos em ampliação de capacidade para acompanhar o crescimento do mercado interno impulsionado por crédito farto e a perder de vista.
O texto do Observatório não fornece detalhes, mas sabe-se que a quantidade de veículos pesados à porta da Polietilenos União saltará de 18 para 48 diariamente por conta da produção que deve subir de 130 mil para 330 mil toneladas anuais de resina. É imperativo desobstruir ruas e avenidas próximas das empresas de primeira e segunda geração para se antecipar aos efeitos da ampliação do pólo.
Entre as medidas obrigatórias constam a construção de viaduto sobre a linha férrea em Capuava e o aperfeiçoamento da conexão entre o viaduto localizado no final da Avenida Papa João XXIII e a Avenida dos Estados -- passando pela linha férrea. Caso a conexão não seja melhorada com a construção de vias adicionais nas margens do Rio Tamanduateí em área pertencente à Recap (Refinaria de Capuava), conforme explicou o prefeito de Mauá, Leonel Damo, em entrevista para LivreMercado, o trecho sul do Rodoanel pode elevar o fluxo e causar trombose viária entre o Distrito Industrial de Sertãozinho e o Pólo Petroquímico.
Cassaquera vem aí
Apesar das dificuldades, o texto do Observatório salienta que as obras do Complexo Cassaquera prometem favorecer atividades logísticas em Santo André. Trata-se de viaduto que deve ligar a Avenida dos Estados e a Giovanni Batista Pirelli sobre a linha ferroviária na proximidade do Carrefour.
O Observatório Econômico revela ainda que a intenção de conferir tratamento prioritário ao tema deriva da pesquisa “Mapeamento Logístico”, realizada entre dezembro de 2006 e março de 2007 pelo Icomex-ABC (Instituto de Comércio Exterior do ABC) a pedido da Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André. O nome é pomposo, mas os resultados deixam a desejar na medida em que não trazem novos elementos de análise.
O mapeamento identifica a disponibilidade de glebas para grandes empreendimentos industriais, a proximidade da cidade de São Paulo e do Porto de Santos como fatores para o desenvolvimento da região e especialmente de Santo André no âmbito do projeto Eixo Tamanduatehy. Salto substancial será dado quando uma pesquisa ou estudo desatar o seguinte nó górdio: de que forma a Prefeitura pode interferir para resolver pendengas jurídicas e tributárias que impedem a venda e consequente reocupação de galpões e terrenos amplos e bem localizados?
Afinal, tão importante quanto o reforço da estrutura viária é o destravamento de amarras para que imenso estoque fundiário possa ser colocado à disposição de empreendedores ávidos por oportunidades na esteira da expansão do Pólo de Capuava e do bom momento vivido pela indústria automobilística.
As fragilidades logísticas são apenas parte do arsenal informativo contido no Observatório Econômico. Em outra análise, o boletim mostra que a arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos municípios do Grande ABC cresceu 11,2% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O percentual equivale a quase o dobro do incremento de 6% obtido pelo Estado de São Paulo em termos igualmente reais, isto é, em valores deflacionados pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna).
Mas ao destrinchar a performance por Município descobre-se que São Bernardo representa mundo à parte de prosperidade sobrerrodas. Na capital econômica do Grande ABC, a arrecadação de ICMS aumentou 17,3% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado basicamente por conta da elevação da produção nacional -- e regional -- de automóveis e principalmente caminhões. Em compensação, a arrecadação aumentou 6,5% em Diadema, 2,3% em Mauá e registrou queda de 12,7% em Ribeirão Pires, 2,1% em Santo André, 1,3% em Rio Grande da Serra e 3% em São Caetano. “A queda em São Caetano não está relacionada à General Motors, mas tem a ver com redução relativa das atividades do terminal da Petrobrás” -- comenta o coordenador do boletim, Antônio Carlos Schifino.
Em outro levantamento o Observatório Econômico mostra que o Grande ABC registrou saldo positivo de 13.944 empregos formais no primeiro semestre deste ano, do total de 486.175 criados no Estado de São Paulo e dos 1.095.503 abertos no Brasil. O saldo do Grande ABC representa crescimento de 2,1% em relação ao mesmo período do ano passado, abaixo dos 5% registrados pelo Estado de São Paulo e muito aquém dos 18,6% no Brasil.
Reportagem de LivreMercado de novembro foi além, ao mostrar que o Grande ABC registrou superávit de 9.477 empregos industriais nos nove primeiros meses deste ano, dos quais 6.310 concentrados em São Bernardo e Diadema. E mais: nos 57 meses do governo Lula, até setembro, a região contabilizou 42.078 postos industriais, comportamento inverso à evaporação de 82.231 vagas industriais nos 96 meses do governo Fernando Henrique. Empregos industriais são sinônimo de remuneração mais alta e benefícios mais polpudos na comparação com o terciário.
Outra matéria do Observatório Econômico mostra que os municípios do Grande ABC -- exceção a Rio Grande da Serra -- obtiveram receitas de R$ 3,1 bilhões em 2005, do total de R$ 47 bilhões relativos aos 645 municípios paulistas. As receitas do Grande ABC caíram 0,3% em relação ao ano anterior, na contramão do avanço de 6,5% verificado no Estado, basicamente porque São Bernardo registrou queda de 16,4%. Em 2005 a capital econômica da região arrecadou 10,4% a menos de ISS (Imposto sobre Serviços) e 8,4% a menos de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), de acordo com dados retirados da publicação Finanças dos Municípios Paulistas.
Negócios passo a passo
No mesmo dia e local em que apresentou a 16ª edição do boletim, a Prefeitura lançou o Portal de Negócios e Desenvolvimento Local, serviço via Internet que facilita a vida de quem quer se tornar empreendedor. Ao entrar no site é possível acessar informações básicas como os 10 passos para abrir o próprio negócio e até fazer requerimento on-line de alvará de funcionamento, além de colher orientações sobre o trâmite em instâncias como Junta Comercial e Ministério da Fazenda.
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