A disputa pelo primeiro Centro de A&D (Apoio e Difusão Tecnológica) do Grande ABC pode transformar-se em uma guerra regional. Mauá e Diadema batem de frente pela posse do organismo, que será voltado ao setor plástico. O agravante é que as duas cidades estão seguras da vitória sob o mesmo argumento de que abrigam patrimônio considerável de transformadoras de plástico. É por isso que também disputam outro empreendimento regional, o pólo de moldes industriais. O gesto oficial do desempate caberá ao secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, José Anibal, cuja manifestação é aguardada para este mês.
"A expectativa do governo do Estado é de que o Grande ABC crie logo consenso, pois dois centros de A&D, de plásticos e de moveleiros, já estão contemplados no convênio com a Câmara Regional" -- expõe Armando Laganá, representante do Estado na região. A pressa é justificada: a implantação de um pólo tecnológico é discussão que dura quase quatro anos, desde a criação da Câmara Regional.
Na verdade, pouca coisa separa as candidaturas de Mauá e de Diadema ao centro tecnológico do plástico: as Prefeituras garantem que vão disponibilizar área e verba, os dois prefeitos socialistas asseguram ter consciência sobre a importância da tecnologia para garantir melhores dias à competitividade do Grande ABC e, pior, os dois municípios dependem bastante da arrecadação do setor. As indústrias petroquímica e de transformação plástica, umbilicalmente ligadas, dão a Mauá 57% da receita com ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Isoladamente, os plásticos representam 11% da bolada. Não é por outro motivo que o secretário de Desenvolvimento Econômico, Paulo Eugênio Pereira, já garantiu dispor dos R$ 240 mil que caberão à Prefeitura na empreitada, avaliada em R$ 1,7 milhão. Outros R$ 900 mil competem ao Estado, R$ 130 mil ao Sebrae e o restante à iniciativa privada.
Do seu front, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Diadema, Sérgio Miyazawa, contra-ataca que o Município tem 60% das estimadas 390 transformadoras de plásticos do Grande ABC, segundo o censo parcial da Agência de Desenvolvimento Econômico. Além disso, 90% desse contingente em Diadema seria de pequeno porte, alvo do esforço modernizador sobre o qual se empenha a Câmara Regional. "Mauá já tem o pólo petroquímico de Capuava, está somando empresas no Pólo de Sertãozinho e vai ganhar acesso ao Rodoanel. Vamos repartir o pão, senão desequilibramos o jogo do desenvolvimento integrado regional" -- cutuca Sérgio Miyazawa, que acredita ter como trunfo na disputa cabeça-a-cabeça o fato de Diadema também concentrar indústrias de cosméticos, fortemente usuárias de tampas e embalagens plásticas. "O centro tecnológico e o pólo de moldes seriam um facilitador para os dois setores ganharem competitividade, pois desenvolveriam juntos lançamentos e embalagens" -- considera.
Enquanto o objeto do desejo de Mauá e Diadema ameaça azedar as relações bilaterais, o governo do Estado tenta contemporizar garantindo pão à mesa de todos. No encontro da Câmara Regional em janeiro ficou decidido que os Centros de Apoio & Difusão serão agora seis: além de plásticos e moveleiros, passam para a agenda de discussões os gráficos, alimentos, manufatura mecânica e cosméticos. Algumas estruturas acadêmicas na região podem ser aproveitadas, como a FEI em São Bernardo, que será convidada a desenvolver o centro de tecnologia gráfica, além do Instituto Mauá em São Caetano, forte em pesquisas de engenharia de alimentos, cita Armando Laganá.
Também voltou a ser debatida no âmbito da Câmara Regional a implantação de Centros de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) para os ramos petroquímico e de eletrônica embarcada. A&D concentra iniciativas que difundam tecnologias já existentes. Centros de P&D vão além, porque apóiam a pesquisa pura. Nos dois casos, o Grande ABC corre contra o tempo. Fora das grandes corporações, tecnologia é artigo raro em pequenas e médias empresas da região. Enquanto isso, tecnologia é o que mais floresce em pólos do Interior como Campinas, Sorocaba e São Carlos, conhecidos como celeiros em negócios de telecomunicações, informática e design. Só em Campinas o Poder Público mapeou 110 empresas de alta tecnologia, 63 das quais de informática e 47 de telecomunicações.
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